quarta-feira, 2 de março de 2011

Yashin, goleiro do século

Vladimir Lênin, líder comunista e um dos principais responsáveis pela Revolução Russa de 1917, deve estar se remoendo no túmulo com negociações pra lá de capitalistas do futebol da Rússia com jogadores brasileiros. Se hoje especula-se contrato de R$ 15 milhões-ano para o lateral-esquerdo Roberto Carlos – ex-Corinthians – com o Anzhi Makhachkala, faz-se necessário recapitular que até os anos 70 prevalecia o amadorismo no futebol daquele país. Quem tinha vocação para jogar futebol teria de conciliá-lo a outra atividade profissional, preferencialmente de prestação de serviço em empresas estatais, que na época mandavam no esporte daquele país. Assim, até 1991, todos estavam em consonância com o regime socialista, que direciona distribuição equilibrada de riqueza e propriedade.

Jogador russo de destaque geralmente se transferia para clubes do lado ocidental da Europa, e se enquadrava às regras do capitalismo. Foi um período de guerra fria entre Rússia e Estados Unidos, pós 2ª Guerra Mundial, quando os soviéticos contavam com Lev Yashin, reconhecido pela Fifa como o melhor goleiro do século passado, o único da posição a conquistar o prêmio ‘Bola de Ouro’ criado pela revista France Football em 1963.

Evidente que aquela indicação jamais poderia ser contestada. Afinal, que outro goleiro recheou a sua biografia com defesas de 150 pênaltis, um deles no Mundial de 1958 na Suécia, na vitória dos soviéticos sobre a Áustria por 2 a 0? Igualmente há relatos não oficiais que ele tenha ficado mais de 100 jogos sem sofrer um gol sequer dos 812 disputados em 22 anos de carreira, vinculado apenas ao Dínamo de Moscou e seleção soviética.

Ainda bem que Yashin descobriu que a modalidade esportiva hóquei no gelo não era a sua ‘praia’ e a trocou pelo futebol no gelado território russo, cujo inverno registra temperaturas de 30 graus negativos. Aí, com 1,85m de altura, boa colocação, confiança na saída da meta, braços abertos e mãos enormes encolhia o ângulo do atacante adversário. E diferentemente da maioria dos goleiros que cai antes do arremate, ficava sempre de pé e mostrava elasticidade no salto.

Essa categoria e o uniforme preto resultaram no apelido de ‘Aranha Negra’. Ele ganhou visibilidade a partir da medalha olímpica de 1956 e principalmente nas quatro Copas como jogador soviético, de 1958 a 1970. Se em 1962 falhou no empate em 4 a 4 com a Colômbia, redimiu-se quatro anos depois, quando foi um dos responsáveis pelo histórico quarto lugar na Inglaterra.

Ao encerrar a carreira em 1971, Yashin tentou treinar juvenis, mas acabou como professor de educação física até 1984, quando teve que amputar uma perna após problema circulatório. Dois anos depois foi vítima de um AVC (Acidente Vascular Cerebral), e em 1991 morreu por causa de um câncer no estômago.



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