domingo, 6 de março de 2011

Futebol também é delas

Quando Erasmo Carlos e a sua mulher Narina compuseram letra e arranjo da música ‘Sexo Frágil’ para retratar a mulher em 1981, a intenção foi contestar a apregoada submissão feminina: “Dizem que a mulher é o sexo frágil, mas que mentira absurda...”

Naquela época a mulher já invadia espaços masculinos, quebrava tabus e provava que a rebeldia de centenas de operárias norte-americanas em 8 de março de 1857 não havia sido em vão. A greve daquelas tecelãs de Nova York reivindicando redução da carga de 16 horas de trabalho por dia foi reprimida com violência. Incendiaram a fábrica e 130 empregadas foram carbonizadas. Claro que a ‘mulherada’ ficou indignada, e posteriormente foi criado o Dia Internacional da Mulher.

E a quantas anda a mulher que chuta bola no país? Em termos de seleção brasileira um bom time. A melhor jogadora do mundo também é daqui, eleita cinco vezes consecutivas. É a meia-atacante Marta que brinda torcedores do Gold Pride de San Francisco, nos Estados Unidos, com o seu talento.

Entre as norte-americanas, cerca de 4,2 milhões estudantes chutam bola, a maioria do ensino fundamental. As universitárias são estimuladas com bolsas de ajuda, cujo teto é de US$ 35 mil por ano. Lá os estádios recebem público significativo naqueles jogos, contrastando com o desinteresse por aqui. São poucas as federações que apóiam a modalidade.

A geração de Marta também serve de espelho para o futebol feminino no Brasil. Nas aulas de educação física do ensino fundamental professores reservam quadras de futsal e bolas para as meninas abusarem do chute de bico. Pena que os educadores não têm aptidão para correção de defeitos primários nos fundamentos de chute, passe, cabeceio e colocação de suas alunas. A rigor, o treinador Zé Duarte, já falecido, teve paciência para ensinar o be-a-bá às garotas da seleção brasileira, ao assumir o desafio em 1995.

Duarte foi o divisor de águas da modalidade. Em 1983, após o Conselho Nacional do Desporto ter revogado a proibição da prática, foi realizado o primeiro campeonato carioca da categoria, que terminou em agressões. O Radar do Rio de Janeiro goleava o Goiás por 5 a 0 quando duas adversárias trocaram tapas e só a goiana Andréia foi expulsa. Aí, o árbitro Jorge José Emiliano, o Margarida, foi encurralado e agredido tanto pela zagueira alviverde Gilda como o massagista do time dela. O troco foi sintomático. O juiz desferiu um soco no rosto de Andréia, e anos depois também socou a jogadora Elaine do Saad de São Caetano do Sul (SP), perdendo espaço na arbitragem. Como homossexual assumido, contraiu o vírus HIV, foi castigado pela Aids, e morreu em 1995 aos 41 anos de idade.

O futebol feminino, que enfrentou a cultura machista com bordões do tipo ‘futebol é pra homem’ e ‘mulher no futebol é sapatão’, felizmente está num outro estágio.

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