domingo, 3 de setembro de 2017

Quarentinha jamais comemorou gols

 Se hoje é praxe ex-jogadores não comemorarem gols quando jogam contra ex-clubes, há mais de cinquenta anos Waldir Caroso Lebrêgo, o Quarentinha, voltava ao meio de campo andando e sem qualquer sinal de comemoração quando marcava gols com a camisa nove do Botafogo carioca.

 Aquele comportamento irritava a barulhenta torcida botafoguense, que cobrava vibração. De uma forma ou de outra, marcar gols era coisa corriqueira na carreira dele, transformando-se no maior artilheiro do clube com 313 gols em 442 jogos disputados.

 Justificativa dele? Dizia que não havia razão para festejos. Repetia que nada mais fazia de que cumprir a sua obrigação, visto que era pago para aquilo.

 O comportamento frio também era repetido na Seleção Brasileira, com aproveitamento excelente: 17 gols e 17 gols, de 1959 a 1961, geralmente explorando aquele chute forte e certeiro de canhota, de qualquer distância.

 Foi a época que narradores de futebol caracterizavam chutes fortes com ‘bomba’, ‘canhão’, ‘morteiro’, metáforas eternizadas em transmissões de rádio e TV. E quando Quarentinha ajeitava a bola para cobranças de faltas, era normal a barreira se abrir com receio de algum atleta ser vítima da bolada.

 Conta o saudoso jornalista Armando Nogueira - torcedor confesso do Botafogo - que Quarentinha teve influência do pai Luís Gonzaga Lebrêgo, o Quarenta, também ex-atleta, para ingressar na carreira no Paysandu. “O filho herdou, intactos, o chute poderoso e o apelido”, comparou. No clube, consta o pai como terceiro maior artilheiro com 208 gols.

 A sequência da carreira de Quarentinha foi no Vitória da Bahia, até chegar no Botafogo em 1956. Foi quando fez parte do lendário time botafoguense cujo quinteto ofensivo era formado por Garrincha, Didi, Quarentinha, Amarildo e Zagallo. Naquela fase áurea do clube ele foi artilheiro em três edições consecutivas do Campeonato Carioca, a partir de 1958.

 Antes de encerrar a carreira no clube Almirante Barroso, de Santa Catarina, o então centroavante jogou no Unión Magdalena, Deportivo Cali, Junior Barranquilla e América de Cali, da Colômbia. De volta ao Brasil, teve passagem pelo Náutico.

 Fosse vivo, Quarentinha estaria completando 84 anos de idade neste 15 de setembro. A história dele começou em Belém (PA) - sua cidade natal - e terminou com a morte em 11 de fevereiro de 1996, no Rio de Janeiro, onde havia fixado residência quando parou de jogar.

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