Se futebol fosse comida o torcedor estaria
empanturrado. Campeonato Brasileiro da Série A reserva jogos noturnos no
sábado. No domingo, a bola rola de manhã, tarde e noite. Segunda, quarta e
quinta-feira à noite.
A Série B se encarrega de completar agenda da
semana com terça e sexta-feira à noite. E ainda empurram na grade da televisão
jogos vespertinos dos europeus em qualquer dia da semana.
Quem te viu e quem te vê. Até meados da década
de 70, eram raros jogos nas tardes de sábado e noites de quinta-feira.
Prevalecia às 16h do domingo como horário sagrado para o torcedor frequentar
estádios. Meio de semana, basicamente às 21h de quarta-feira.
Naqueles tempos, locutores de voz grossa do
serviço de som de estádios anunciavam além de público e renda a quantidade de
menores até 14 anos que entravam gratuitamente. O moleque se juntava a um
adulto qualquer, com o devido consentimento, como se filho fosse, e porteiros
fingirem que acreditavam.
Naquele período prevalecia rendas divididas
após deduções de despesas, com percentual exagerado ao INSS. Isso exceto
divisão desproporcional criada em curta etapa pela CBF, premiando vencedores
com 60% do líquido arrecadado, e parcelamento igual em caso de empate.
Natural a enxurrada de queixas pelo
descontrole do dinheiro que entrava, manipulado pelo mandante. Descaradamente,
o público divulgado era quilometricamente inferior àquele projetado no
‘olhômetro’ do torcedor. Incontinenti, ouvia-se vaia ensurdecedora dos
indignados com a tapeação. Afinal, estádios lotados não poderiam ‘encolher’
inexplicavelmente.
Não bastasse o surrupio, grandes clubes
exigiram rendas exclusivas de mandantes, com convincente argumento de que
arrastavam mais torcedores aos estádios. E obtiveram êxito na empreitada ainda nos
tempos em que torcedores tinham hábito de cravar apostas sobre público presente
e bolão de linha, que consistia na indicação do atleta que marcaria o primeiro
gol do respectivo time. As opções eram do camisa sete ao onze, nada a ver com a
descaracterização numérica de hoje, com maioria de duas casas decimais nas
costas do atleta.
Bons tempos em que o formato de ingresso era
de papel e o torcedor guardava o canhoto como garantia de reapresentação em
portarias de clubes na hipótese de adiamento de jogos por quaisquer motivos,
diferentemente de cartões digitais da atualidade.
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