Passou batido pela maioria que o
dia oito de outubro passado marcou o oitavo ano na morte do piracicabano de
sotaque caipira carregado no ‘erre’ Francisco Jenuíno Avanzi, o volante Chicão,
59 anos de idade, vítima de câncer no esôfago, e que já havia trocado o vasto
bigode pelo rosto lambido.
Ele se consagrou no São Paulo sem
realizar o sonho de ser treinador de grandes clubes, após experiências no XV de
Piracicaba, Inter de Limeira, Clube Atlético Montenegro e Paranapanema, todos
do interior de São Paulo.
Histórias não faltariam aos
subordinados, a começar pela perseverança na carreira que se arrastou até 1986,
aos 37 anos de idade, como condutor da campanha de acesso do Mogi Mirim ao
Paulistão. Ele diria que na decisão do Campeonato Brasileiro pelo São Paulo
contra o Galo mineiro, maldosamente pisou na perna quebrada do meia Ângelo (já
falecido) só por suspeitar que estivesse fazendo cera. Contaria que certa
ocasião entrou em uma loja da cidade de São Paulo e, ao pagar a conta, preencheu o extenso do cheque incorretamente duas vezes, ao grafar a
palavra sessenta cruzeiros. Assim preferiu assinar dois cheques de trinta
cruzeiros para liquidar o assunto.
Chicão foi o xerife que colocava ordem
na casa. Nos tempos em que a ‘juizada’ hesitava mostrar cartão amarelo ou
vermelho para jogadas violentas, ele apelava sem dó.
Quando lançado pelo treinador Cilinho
no XV de Piracicaba já era jogador viril. No interior paulista passou pelo União
Barbarense, São Bento e Ponte Preta até chegar ao São Paulo, em 1973, atuando
ao lado de Waldir Peres, Gilberto Sorriso, Pedro Rocha e Serginho Chulapa.
Sagrou-se campeão paulista em 1975 e do Brasileiro em 1977.
Provocativo, tentou intimidar o
ex-árbitro José de Assis de Aragão antes do clássico do Tricolor com o Palmeiras em 1976, e
recebeu o cartão amarelo antes do início da partida. “Cheguei pro Aragão e
disse: ‘Vê se apita direito essa porcaria’”, confessou.
Também jogou no Atlético Mineiro, Santos
e Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1978, na Argentina. Na véspera do jogo
contra os anfitriões, o técnico Cláudio Coutinho (já falecido) lhe chamou num
canto e comunicou que seria escalado ao lado do gaúcho Batista para reforçar a
marcação do meio-de-campo.
- Chicão, você vai jogar do jeito que está acostumado no São Paulo. Só tome
cuidado para não ser expulso - alertou Coutinho.
Mal o treinador virou às costas, Chicão
confidenciou aos companheiros: “Vou chegar arrepiando e esses gringos vão se
encolher”.
Na prática, foram apenas algumas ‘entradas’ intimidadoras sobre adversários. Naquele empate sem gols ele jogou muita bola. Na sequência da competição, em desvantagem no critério saldo de gols, os brasileiros perderam a vaga para os platinos.
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