domingo, 9 de outubro de 2016

Oito anos sem o volante Chicão

 Passou batido pela maioria que o dia oito de outubro passado marcou o oitavo ano na morte do piracicabano de sotaque caipira carregado no ‘erre’ Francisco Jenuíno Avanzi, o volante Chicão, 59 anos de idade, vítima de câncer no esôfago, e que já havia trocado o vasto bigode pelo rosto lambido.

Ele se consagrou no São Paulo sem realizar o sonho de ser treinador de grandes clubes, após experiências no XV de Piracicaba, Inter de Limeira, Clube Atlético Montenegro e Paranapanema, todos do interior de São Paulo.


 Histórias não faltariam aos subordinados, a começar pela perseverança na carreira que se arrastou até 1986, aos 37 anos de idade, como condutor da campanha de acesso do Mogi Mirim ao Paulistão. Ele diria que na decisão do Campeonato Brasileiro pelo São Paulo contra o Galo mineiro, maldosamente pisou na perna quebrada do meia Ângelo (já falecido) só por suspeitar que estivesse fazendo cera. Contaria que certa ocasião entrou em uma loja da cidade de São Paulo e, ao pagar a conta, preencheu o extenso do cheque incorretamente duas vezes, ao grafar a palavra sessenta cruzeiros. Assim preferiu assinar dois cheques de trinta cruzeiros para liquidar o assunto.

 Chicão foi o xerife que colocava ordem na casa. Nos tempos em que a ‘juizada’ hesitava mostrar cartão amarelo ou vermelho para jogadas violentas, ele apelava sem dó.

 Quando lançado pelo treinador Cilinho no XV de Piracicaba já era jogador viril. No interior paulista passou pelo União Barbarense, São Bento e Ponte Preta até chegar ao São Paulo, em 1973, atuando ao lado de Waldir Peres, Gilberto Sorriso, Pedro Rocha e Serginho Chulapa. Sagrou-se campeão paulista em 1975 e do Brasileiro em 1977.

 Provocativo, tentou intimidar o ex-árbitro José de Assis de Aragão antes do clássico do Tricolor com o Palmeiras em 1976, e recebeu o cartão amarelo antes do início da partida. “Cheguei pro Aragão e disse: ‘Vê se apita direito essa porcaria’”, confessou.


 Também jogou no Atlético Mineiro, Santos e Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1978, na Argentina. Na véspera do jogo contra os anfitriões, o técnico Cláudio Coutinho (já falecido) lhe chamou num canto e comunicou que seria escalado ao lado do gaúcho Batista para reforçar a marcação do meio-de-campo.

- Chicão, você vai jogar do jeito que está acostumado no São Paulo. Só tome cuidado para não ser expulso - alertou Coutinho.
 
Mal o treinador virou às costas, Chicão confidenciou aos companheiros: “Vou chegar arrepiando e esses gringos vão se encolher”.

 Na prática, foram apenas algumas ‘entradas’ intimidadoras sobre adversários. Naquele empate sem gols ele jogou muita bola. Na sequência da competição, em desvantagem no critério saldo de gols, os brasileiros perderam a vaga para os platinos. 

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