Este primeiro de junho marca o segundo ano da
morte do lateral-esquerdo potiguar Marinho Chagas, cracasso nos gramados e beberrão
que se encostava em balcão de bar. Ele antecipou a conotação de ala no futebol nas
décadas de 70 e 80. Apoiava frequentemente o ataque, contrariando a principal
atribuição dos laterais de marcar ponteiros.
A irreverência veio desde o Riachuelo em 1969,
clube do Rio Grande do Norte em que se profissionalizou, quando ganhou o
apelido de ‘Bruxa’. Claro que a manteve nas passagens por Náutico (PE),
Botafogo (RJ), Fluminense e São Paulo, quando treinadores tinham tempo adequado
para montagem de esquema de cobertura.
Na Seleção Brasileira, com escassez de tempo
para treinamentos e ajustes, o setor ficava desguarnecido a cada avanço ao
ataque, e por isso divergências com o então goleiro Emerson Leão foram
inevitáveis na Copa do Mundo de 1974. Segundo versões, Marinho teria sido
agredido após a derrota brasileira por 1 a 0 para a Polônia, na disputa pelo
terceiro lugar.
Embora destro, ele deu certo pelo lado
esquerdo. Tinha passadas largas, habilidade, fechava em diagonal, chutava forte
e fazia gols, quatro deles nos 38 jogos no selecionado. No Fluminense disputou
93 jogos e marcou 39 gols, atuando num time que tinha o argentino Doval,
Rivellino, Edinho e Gil, entre outros.
Irreverência dentro e fora de campo era marca
registrada de Marinho Chagas. Em 1981 desligou-se do Cosmos, nos Estados Unidos,
para jogar no São Paulo, mesmo a contragosto do então treinador Carlos Alberto
Silva. Aí, véspera da final do Campeonato Brasileiro contra o Grêmio, ele
mandou recado provocativo ao então árbitro carioca José Roberto Wright para que
apitasse direito. E quando soube que o juizão era faixa preta de judô,
ironizou: “Depois que inventaram aquela máquina que cospe chumbo não existe
mais homem valente no mundo”.
Foi o período em que Marinho exibia vasta
cabeleira loira, usava pulseiras e roupas extravagantes. E não perdeu a mania
quando perambulou por Bangu, Fortaleza e América (RN), onde encerrou a carreira
em 1988. A pretensão era se transformar em treinador, mas logo percebeu que não
tinha aptidão pelo troço.
A cúpula do diretório do PL de Natal conseguiu
persuadi-lo a se lançar candidato a vereador. No entanto não foi eleito.
Projetou, então, alugar buggys e acabou flagrado em blitz policial com placas
falsas no veículo que conduzia.
Depois disso, restaram cachês de participação
em eventos e devorar copos de bebidas alcoólicas, fossem quentes ou geladas. Os
amigos não conseguiram convencê-lo a parar com a bebida, e assim continuou até
a morte, aumentando a incidência de ex-boleiros que perderam a disputa contra o
alcoolismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário