sábado, 11 de junho de 2016

Dois anos sem o irreverente Marinho Chagas

 Este primeiro de junho marca o segundo ano da morte do lateral-esquerdo potiguar Marinho Chagas, cracasso nos gramados e beberrão que se encostava em balcão de bar. Ele antecipou a conotação de ala no futebol nas décadas de 70 e 80. Apoiava frequentemente o ataque, contrariando a principal atribuição dos laterais de marcar ponteiros.
 A irreverência veio desde o Riachuelo em 1969, clube do Rio Grande do Norte em que se profissionalizou, quando ganhou o apelido de ‘Bruxa’. Claro que a manteve nas passagens por Náutico (PE), Botafogo (RJ), Fluminense e São Paulo, quando treinadores tinham tempo adequado para montagem de esquema de cobertura.
 Na Seleção Brasileira, com escassez de tempo para treinamentos e ajustes, o setor ficava desguarnecido a cada avanço ao ataque, e por isso divergências com o então goleiro Emerson Leão foram inevitáveis na Copa do Mundo de 1974. Segundo versões, Marinho teria sido agredido após a derrota brasileira por 1 a 0 para a Polônia, na disputa pelo terceiro lugar.
 Embora destro, ele deu certo pelo lado esquerdo. Tinha passadas largas, habilidade, fechava em diagonal, chutava forte e fazia gols, quatro deles nos 38 jogos no selecionado. No Fluminense disputou 93 jogos e marcou 39 gols, atuando num time que tinha o argentino Doval, Rivellino, Edinho e Gil, entre outros.
 Irreverência dentro e fora de campo era marca registrada de Marinho Chagas. Em 1981 desligou-se do Cosmos, nos Estados Unidos, para jogar no São Paulo, mesmo a contragosto do então treinador Carlos Alberto Silva. Aí, véspera da final do Campeonato Brasileiro contra o Grêmio, ele mandou recado provocativo ao então árbitro carioca José Roberto Wright para que apitasse direito. E quando soube que o juizão era faixa preta de judô, ironizou: “Depois que inventaram aquela máquina que cospe chumbo não existe mais homem valente no mundo”.
 Foi o período em que Marinho exibia vasta cabeleira loira, usava pulseiras e roupas extravagantes. E não perdeu a mania quando perambulou por Bangu, Fortaleza e América (RN), onde encerrou a carreira em 1988. A pretensão era se transformar em treinador, mas logo percebeu que não tinha aptidão pelo troço.
 A cúpula do diretório do PL de Natal conseguiu persuadi-lo a se lançar candidato a vereador. No entanto não foi eleito. Projetou, então, alugar buggys e acabou flagrado em blitz policial com placas falsas no veículo que conduzia.

 Depois disso, restaram cachês de participação em eventos e devorar copos de bebidas alcoólicas, fossem quentes ou geladas. Os amigos não conseguiram convencê-lo a parar com a bebida, e assim continuou até a morte, aumentando a incidência de ex-boleiros que perderam a disputa contra o alcoolismo.

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