domingo, 8 de maio de 2016

Adeus a Zé Roberto, boêmio que deu certo

 Há três anos o atacante José Roberto Marques sofreu AVC (acidente vascular cerebral) e o processo de recuperação foi lento. No final de abril passado nova internação em hospital de Serra Negra (SP), por causa de uma úlcera. A doença se agravou e ele morreu no sábado sete de maio, aos 71 anos de idade.
 A história de Zé Roberto foi marcada por indisciplina, boemia, mas sobretudo como artilheiro. Foi um dos raros jogadores da noite que deu certo no futebol, principalmente na dupla Atlético Paranaense e Coritiba. Enquete feita pelo jornal Gazeta do Povo o apontou como maior ídolo daquele estado, período que garantiu convocações à Seleção Brasileira.
 Alto e magro, tinha aproveitamento fantástico no jogo aéreo. Em 1968, emprestado pelo São Paulo ao Atlético Paranaense, marcou 40 gols num time de medalhões como Djalma Santos, Belini, Zequinha, Dorval e Gildo, entre outros. Fim de contrato, o clube não dispunha de 150 mil cruzeiros - moeda corrente da época - para contratá-lo, e ele sugeriu que sócios se cotizassem para arrecadá-lo, propondo colaborar com três mil cruzeiros e promessa de abrir mão dos 15% a que teria direito.
 Na prática foram levantados dez mil cruzeiros, ele voltou ao São Paulo, e rapidamente o Coritiba atravessou o negócio em outras bases. E quando da formalização do contrato, na casa do então presidente Evangelino da Costa Neves, Zé Roberto aceitou dose de uísque oferecida pelo dirigente, e brincou citando que não gostava de guaraná.
 Revelado no juvenil do São Paulo em 1962, a maluquice o atrapalhou para fixação como titular. Cerca ocasião se apossou de obra de pintura a óleo de apartamento de um amigo, e se mandou para a Praça da República sem que fosse notado. Quando constataram atleta e objeto desaparecidos, saíram à procura, localizando-os em feira de expositores.
Claro que o quadro não seria vendido. Tudo não passou de brincadeira para assustá-los.
 Por essa e outras foi emprestado ao Guarani cinco anos depois, e atuou num time formado por Dimas; Miranda, Paulo, Guassi e Diogo; Bidon e Milton dos Santos; Carlinhos, Zé Roberto, Parada e Dalmar.
 Naquele período já gostava da noite e se divertia com mulherada em boates na capital paulista. Rotineiramente era visto em ônibus da Viação Cometa, única empresa de transporte de passageiros de Campinas a São Paulo, defronte à antiga estação ferroviária de Campinas, e, da janelinha, fazia farra com biscoiteiros, vendedores ambulantes e carregadores de mala.

 Repetia o lema que ‘o dia seguinte a Deus pertence’. Apesar de desfrutar de prazeres da vida noturna, negou escapadas às vésperas de jogos. “Eu saía de segunda a quinta-feira apenas, embora tenha desaconselhado garotos que ingressam no futebol profissional repetir os meus caminhos’, confessava.

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