terça-feira, 19 de abril de 2016

Dez anos sem o treinador Telê Santana

 Treinador de futebol da atualidade debruça dia e noite em esquemas táticos, estuda variações de jogadas, ensaia bola aérea, e por aí vai. Treinadores do passado tinham preocupação de aprimoramento de aspectos técnicos dos jogadores. Repetiam, quantas vezes fossem necessárias, trabalhos de fundamentos com atletas, visando melhor condicionamento para os jogos.
 Telê Santana encaixava-se exatamente no perfil de aprimoramento técnico, embora fosse atento no aspecto tático, extraindo ensinamentos de ótimos professores nos tempos de jogador. No Fluminense, o saudoso técnico Zezé Moreira ensinou-lhe a importância do ponteiro ter duplicidade de função: de posse de bola fazer jogadas de fundo de campo, mas sem ela recuar no meio de campo para fechar os espaços do adversário. E isso foi repetido no final de carreira, na passagem pelo Guarani em 1962.
 Como treinador do São Paulo, pacientemente ensinou o ex-lateral-direito Cafu a cruzar, colocando a bola na área adversária em condição de o atacante marcar gols.
 Na década de 90, o ataque são-paulino não tinha cabeacedor, mas contava com um meia alto, como Raí. O que fez Telê?  Condicionou a chegada dele ao ataque, e o incumbiu de aproveitar cruzamentos do fundo do campo.
 Foi assim que Raí marcou um punhado de gols. E, aconselhado por Telê, agregou outra virtude em sua carreira de atleta: treinou exaustivamente cobranças de faltas até atingir aceitável índice de aproveitamento.
 Telê foi um dos raros treinadores que não reclamava de retrancadas adversárias. Na concepção dele, naquelas circunstâncias seu time atacava mais, criava mais oportunidades, e por isso deveria ter competência para finalizar, tanto que reservava parte dos treinamentos para exercitar esse fundamento.
 “Se o meu time ataca mais, vai sofrer faltas perto da área adversária. É aí que preciso contar com um bom batedor de faltas para marcar os nossos gols”, repetia Telê, cujo dia 21 de abril é marcado pelo décimo ano de sua morte.
 No comando da Seleção Brasileira, foi castigado naquele fatídico jogo pela Copa de 1982, da Espanha, com derrota por 3 a 2 para a Itália. Castigado porque seu time precisa do empate e ele optou por futebol ofensivo, persistido depois, e resultando no bicampeonato mundial como treinador do São Paulo na década de 90.
 Depois de cinco magníficos anos no comando técnico do São Paulo, teve de abandonar aquilo que era mais sagrado em sua vida: trabalhar no futebol. Complicações cardíacas o deixaram debilitado desde 1995. E isso lhe provocou angústia, porque só se sentia completamente realizado se estivesse envolvido no esporte.

 Ele ainda tentou se distrair com atividades agropecuárias em seu sítio, em Belo Horizonte, ou colado na televisão acompanhando futebol, novelas e programas de auditório, mas ficava deprimido facilmente. 

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