Treinador de futebol da atualidade debruça dia
e noite em esquemas táticos, estuda variações de jogadas, ensaia bola aérea, e
por aí vai. Treinadores do passado tinham preocupação de aprimoramento de
aspectos técnicos dos jogadores. Repetiam, quantas vezes fossem necessárias,
trabalhos de fundamentos com atletas, visando melhor condicionamento para os
jogos.
Telê Santana encaixava-se exatamente no perfil
de aprimoramento técnico, embora fosse atento no aspecto tático, extraindo
ensinamentos de ótimos professores nos tempos de jogador. No Fluminense, o
saudoso técnico Zezé Moreira ensinou-lhe a importância do ponteiro ter
duplicidade de função: de posse de bola fazer jogadas de fundo de campo, mas
sem ela recuar no meio de campo para fechar os espaços do adversário. E isso
foi repetido no final de carreira, na passagem pelo Guarani em 1962.
Como treinador do São Paulo, pacientemente
ensinou o ex-lateral-direito Cafu a cruzar, colocando a bola na área adversária
em condição de o atacante marcar gols.
Na década de 90, o ataque são-paulino não
tinha cabeacedor, mas contava com um meia alto, como Raí. O que fez Telê? Condicionou a chegada dele ao ataque, e o
incumbiu de aproveitar cruzamentos do fundo do campo.
Foi assim que Raí marcou um punhado de gols. E,
aconselhado por Telê, agregou outra virtude em sua carreira de atleta: treinou
exaustivamente cobranças de faltas até atingir aceitável índice de aproveitamento.
Telê foi um dos raros treinadores que não
reclamava de retrancadas adversárias. Na concepção dele, naquelas
circunstâncias seu time atacava mais, criava mais oportunidades, e por isso
deveria ter competência para finalizar, tanto que reservava parte dos
treinamentos para exercitar esse fundamento.
“Se o meu time ataca mais, vai sofrer faltas
perto da área adversária. É aí que preciso contar com um bom batedor de faltas
para marcar os nossos gols”, repetia Telê, cujo dia 21 de abril é marcado pelo
décimo ano de sua morte.
No comando da Seleção Brasileira, foi
castigado naquele fatídico jogo pela Copa de 1982, da Espanha, com derrota por 3 a 2 para a Itália. Castigado
porque seu time precisa do empate e ele optou por futebol ofensivo, persistido
depois, e resultando no bicampeonato mundial como treinador do São Paulo na
década de 90.
Depois de cinco magníficos anos no comando
técnico do São Paulo, teve de abandonar aquilo que era mais sagrado em sua
vida: trabalhar no futebol. Complicações cardíacas o deixaram debilitado desde
1995. E isso lhe provocou angústia, porque só se sentia completamente realizado
se estivesse envolvido no esporte.
Ele ainda tentou se distrair com atividades
agropecuárias em seu sítio, em Belo Horizonte , ou colado na televisão
acompanhando futebol, novelas e programas de auditório, mas ficava deprimido
facilmente.
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