segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Picasso, goleiro acusado de não enxergar à noite

 Em 2002 o ex-meia Alex de Fenerbahçe da Turquia, Palmeiras e Coritiba assumiu publicamente o uso de lentes de contato para correção de astigmatismo e miopia. Idem para o também meia Kaká, da Seleção Brasileira, diferentemente de boleiros de décadas passadas que viam tudo embaçado à frente e se recusavam usar às tais lentes.
 Bastava o saudoso goleiro Orlando Gato Preto, da Portuguesa, ser traído por bolas defensáveis em jogos noturnos para ser acusado de não enxergar direito. Suspeitaram de deficiência visual do também goleiro Wendell após a segunda partida do Guarani na semifinal do Campeonato Brasileiro de 1982 contra o Flamengo, em Campinas, ao ‘aceitar’ chute relativamente fraco do ex-meia Zico, do meio da rua.
 O goleiro Picasso foi vítima de mesma acusação nos tempos de Grêmio portoalegrense no triênio de 1972 a 1975. A cada gol sofrido de longa distância à noite reabria-se o polêmico discurso. A contrapartida era a concordância de que em jogos diurnos o reflexo era apuradíssimo, aliado a colocação sempre adequada.
 Embora com histórico de sete derrotas, cinco empates e uma vitória em Grenais, Picasso ficou 611 minutos sem sofrer um gol sequer no tricolor gaúcho, num time formado por Picasso; Everaldo, Anchieta, Beto e Jorge Tabajara; Carlos Alberto e Ivo; Catarina, Oberti, Lairton e Loivo.
 O encerramento da carreira foi no Santa Cruz (PE) em 1976. Ficou a biografia com o título do Campeonato Paulista pelo Palmeiras em 1963, após goleada por 3 a 0 sobre o Noroeste, nesse time: Picasso; Djalma Santos, Djalma Dias, Carabina e Vicente; Zequinha e Ademir da Guia; Julinho, Servílio, Vavá e Gildo. Nos dois anos subseqüentes foi reserva de Valdir Joaquim de Moraes.
 Amargurado com a carreira de atleta sem prosperidade, decidiu abandonar o futebol ao término do contrato com o Palmeiras, quando optou pelo trabalho como metalúrgico na Volkswagem. Três meses depois foi convencido voltar aos gramados pelo treinador do Juventus, Sylvio Pirilo. Pronto. Reacendia ali o Picasso predestinado a fazer sucesso no futebol, tanto que o São Paulo foi buscá-lo em 1967.
 Quando Picasso já estava se acostumando com convocações à Seleção Brasileira, eis que numa partida do tricolor paulistano contra o Santos foi vítima de fratura no pé. Aí, a lesão voltou a travar-lhe a carreira. Dirigentes do São Paulo foram buscar no Paulista de Jundiaí o goleiro Sérgio Valentin - que já havia passado pelo clube - para substitui-lo. E quando recuperado, Picasso constatou a impossibilidade de reassumir o posto de titulares e aceitou transferência para o Bahia em 1970, ano que foi eleito o melhor goleiro do Campeonato Brasileiro.

 Hoje, aos 76 anos de idade, radicado em Porto Alegre, Picasso trabalha como representante comercial e assina documentação com o nome de registro: Ronei Paulo Travi.

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