domingo, 8 de novembro de 2015

Quarentinha, artilheiro que não comemorava gols

 Gol, momento sublime do futebol e de comemorações insólitas. Em 14 de julho de 1996 os argentinos Caniggia e Diego Maradona lascaram um beijão na boca na abertura da goleada do Boca Junior sobre o arquiinimigo River Plate por 4 a 1, no Estádio La Bombonera. No passado, quando orelhões de telefonias fixas eram instalados em gramados, boleiros corriam em direção deles para teatralizar ligações a ente querido. Pior quando o autor do gol se atirava no gramado e seus companheiros se amontoavam com inevitáveis encoxadas.
 Há relatos de que o soco no ar foi inventado por Pelé, assim como há casos de comemorações comedidas, uma delas protagonizada pelo saudoso Sócrates nos tempos de Corinthians. O comportamento dele era braço erguido e punho cerrado.
 Tem aumentado a incidência de atletas que deixam de comemorar gols quando marcados contra seus ex-clubes, quer por gratidão, quer pelo declarado amor. O atacante Cristiano Ronaldo, do Real Madrid, age assim quando vai às redes contra o Manchester United.
 Diferente de todos eles foi o saudoso atacante Quarentinha, do Botafogo (RJ), que ignorava qualquer comemoração de gol após aquele chute potente de canhota ao se desvencilhar de zagueiros, ou em cobranças de faltas que aterrorizavam adversários que ficavam na barreira.
 A cada um dos 313 gols marcados no Botafogo, em 442 jogos disputados de 1954 a 1964, ele apenas caminhava lentamente ao meio de campo. Quando indagado pela indiferença, respondia que apenas cumpria a sua obrigação. Que era pago para isso.
 Não fosse a rebeldia de um cartola botafoguense que decidiu emprestá-lo ao Bonsucesso em 1956, por causa de desentendimento entre ambos, a marca de maior artilheiro do Bota seria aumentada com os 21 gols marcados naquela temporada, como segundo artilheiro da competição regional com 21 gols, atrás do atacante Valdo, do Fluminense.
 No retorno ao Botafogo em 1957, sempre de bigode ralinho e contratos assinados em branco, ele participou do time campeão carioca com goleada na final sobre o Fluminense por 6 a 2, dia 22 de dezembro, cinco gols de Paulinho Valentim, um deles de bicicleta, em jogo com público pagante de 89.100. Eis a formação do Bota: Adalberto, Beto e Tomé; Servilio, Pampolini e Nilton Santos; Garrincha, Didi, Paulo Valentim, Edilson e Quarentinha. Treinador: João Saldanha.
 Nas três temporadas subseqüentes, Quarentinha foi artilheiro estadual e deixou histórico de 17 gols em 19 jogos pela Seleção Brasileira. Lamentação foi uma lesão no joelho que o tirou na Copa do Mundo de 1962, no Chile.

 A carreira dele se completou em 1968 no Almirante Barroso (SC), após início no Paysandu de Belém (PR) - onde nasceu - e passagens por Vitória da Bahia e Colômbia. Com nome de registro de Waldir Cardoso Lebrego, ele morreu de insuficiência respiratória em fevereiro de 1996.

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