Alcides Romano Júnior, o zagueiro Cidinho dos
anos 60 do Guarani, treinava o time juvenil do clube no final dos anos 70
quando, por acaso, descobriu o melhor ponteiro-esquerdo dos elencos bugrinos de
todos os tempos. Ao participar de uma pelada, num campo de várzea de Campinas,
foi entortado várias vezes pelo então franzino Sérgio Luís Donizetti, e se
apressou levá-lo para o seu grupo, identificando-o como João Paulo, pelo estilo
semelhante ao ‘Papinha da Vila’.
O saudoso treinador Zé Duarte, no comando da
equipe principal do Guarani em 1981, ousou lançar aquele garoto de 17 anos
porque se encantou com o estilo de ponta agressivo, driblador e extremamente
habilidoso. Só que na época João Paulo foi vencido pela timidez. Ao primeiro
grito de companheiros experientes para que passasse a bola esmorecia. Então, o
jeito foi emprestá-lo ao Anapolina (GO) e posteriormente ao Goiânia para que
ganhasse experiência.
De volta ao Guarani em 1984, aos 20 anos de
idade, ele se transformou no caminho mais curto para o time chegar aos gols. Entortava
laterais e quem surgisse na cobertura. Pará-lo só na base da falta, muitas
vezes dentro da área adversária. Foi assim na final do Campeonato Brasileiro de
1986 contra o São Paulo, em lance que fez fila. Todavia, o então árbitro José
de Assis Aragão ignorou o pênalti cometido pelo são-paulino Vagner Basílio.
Fosse fominha certamente João Paulo disputaria
artilharia de competições, mas preferiu se caracterizar como auxiliar de
goleadores. Como servia-os com precisos passes, seu histórico no Guarani foi de
22 gols em 88 jogos até 1989, quando os italianos do Bari vieram buscá-lo
interessados na capacidade de criação dele.
Na Itália, a resposta em campo resultou na
eleição de melhor jogador estrangeiro na temporada seguinte. Passou a ser
conhecido no Bari como ‘Il Diavollo Che sorride’ (o diabo que sorri), o que dá
bem a dimensão de seu estilo. Não fosse uma fratura de tíbia e perônio - que
implicou em queda de rendimento - a tendência seria prolongar a passagem
naquele país além de cinco anos.
No Brasil, novamente, João Paulo foi acolhido
inicialmente pelo Vasco. Depois passou por Ponte Preta, Goiás, Corinthians,
Sport Recife, Bahia até que inevitavelmente atingisse a fase descendente em
clubes de menor expressão. O encerramento da carreira de atleta ocorreu na
Inter de Limeira (SP) em 2004, aos 40 anos de idade.
Depois isso, João Paulo foi visto novamente em
campos varzeanos disputando campeonatos de veteranos até surgir a oportunidade
de comandar o ‘Projeto Bugrinho’, da escolinha de futebol para filhos de
associados do Guarani. Ali, além de transmitir experiência aos meninos, conta
um pouco de sua história de jogador injustiçado pelo treinador Sebastião
Lazaroni da Seleção Brasileira de 1990, que o deixou de fora da Copa do Mundo
da Itália, assim como outras passagens esporádicas pelo selecionado.