segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Didi, o folha seca

 Antigamente o chamado meia de armação era o cérebro do time. A bola passava obrigatoriamente pelos seus pés. Jair da Rosa Pinto, Zizinho, Didi, Gérson e Rivelino foram maestro no setor. Colocavam companheiros de ataque na cara do gol adversário com lançamentos milimétricos de 30 ou 40 metros.Também era cobradores oficiais de faltas de suas equipes.
 O meia de armação era conhecido também como meia-esquerda, porque a maioria da posição era canhoto. Alguns vestiam a camisa 10 e outros a 8. Valdir Pereira, o Didi, foi camisa 8 daquele lendário time do Botafogo do Rio na década de 60, e morreu no dia 12 de maio de 2001, aos 71 anos de idade.
 Que baita time tinha o Botafogo nas décadas de 50 e 60! Abastecia Garrincha, Quarentinha, Amarildo e Zagallo e era só correr para o abraço. Foi ele também o inventor da folha seca, estilo que consiste na colocação de efeito da bola provocando mudança na trajetória, traindo goleiros adversários. Foi assim que cansou de fazer gols jogando no Fluminense, Botafogo e Seleção Brasileira.
 Didi também costumava pegar a bola nas redes quando seu time sofria gols e, ao levá-la ao meio de campo, estimulava companheiros de equipe: “O placar tá zero a zero. Vamos lá e virar este jogo”, dizia.
 O currículo dele foi recheado de títulos. Os mais significativos foram na Suécia em 1958, e Chile em 1962, quando sagrou-se bicampeão mundial pela Seleção Brasileira, em Copas.
 Em 1965, aos 36 anos de idade, ainda comandava o time do São Paulo em campo. Orientava o posicionamento de seus companheiros e mostrava aptidão para o cargo de treinador. No Brasil, quase não teve chances de mostrar o seu trabalho como treinador, mas foi aplaudido na Arábia Saudita e principalmente no Peru.
 Pouco antes de adoecer, Didi morava no Canadá com a sua filha Rebeca. Ensinava futebol para garotos nas faixas etárias sub11 e sub13 e criticava a onda de violência no Rio de Janeiro. “No Canadá, a gente pode passear pelas ruas e as crianças andam de bicicletas nas calçadas. Volto ao Rio só para fugir do inverno na América do Norte” justificava na época.

 De fato Didi não tinha moradia fixa. De repente estava no Rio de Janeiro e logo mudava de idéia e ficava uns tempos na Europa, Ásia ou Canadá. E em uma das últimas entrevistas, horrorizado com treinadores que aplicavam forte pegada no meio de campo, reafirmava sua identidade com o futebol de criatividade. Defendia a opção do jogador talentoso adaptado à marcação no setor, para fechar os espaços do adversário, ao especialista na função. “Claro que cada partida tem de ser analisada de forma diferente. De modo geral, um pegador como cabeça-de-área basta”, ensinava, e a justificava era detalhava: “Dá para adaptar alguém para ajudá-lo. Assim, quando a gente tiver posse da bola, terá um jogador a mais que sabe conduzi-la bem”, recomendava.

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