Hoje, a realidade do futebol atribui ao
treinador responsabilidade total sobre desempenho de seus comandados, e
exatamente por isso é ele quem monta a comissão técnica do clube que dirige,
trazendo profissionais de sua estreita confiança. Esta constatação contrasta
com décadas passadas quando o preparador físico desenvolvia um trabalho
paralelo e não se submetia ao crivo do treinador que, quando demitido,
simplesmente dava lugar a outro profissional do setor, preservando-se o
restante da equipe.
Assim foi a maior parte da trajetória do
preparador físico Hélio José Maffia nos tempos de Palmeiras, São Paulo, Guarani
e Corinthians. A rigor, a participação dele em comissões técnicas transcendia o
trabalho de educador da parte física. Pode-se dizer que acumulava a função de
supervisor ao exigir pontualidade dos atletas para horários de treinos, viagens,
café da manhã e refeições em hotéis, assim como exigia que se vestissem de
forma condizente.
Certa ocasião, na passagem pelo Guarani entre
o final dos anos 70 e meados da década de 80, Maffia flagrou o então
lateral-esquerdo Miranda se apresentando para a concentração com uma bermuda
vermelha e imediatamente exigiu que ele vestisse calça.
Cozinheiras dos clubes em que o professor trabalhava
não se atreviam a preparar refeições sem que o cardápio fosse especificado. E
esta exigência de controle disciplinar no Guarani era apoiada por líderes de
grupo como o zagueiro Gomes e o goleiro Neneca, que tinham plena ascendência sobre
companheiros do elenco.
Maffia foi um profissional com inteira
independência para agendar os dias de treinos físicos. Também aplicava exercícios
sem o uso de cordas e desconsiderava programações em que o atleta corria sobre
degraus de arquibancadas. Nas semanas longas de trabalho, após a folga às
segundas-feiras, as terças eram bem puxadas e começavam com o velho modelo de o
jogador correr ao redor do gramado, ocasião em que era avaliado sobre o real
condicionamento. Foi um período em que atletas com uns gramas a mais acusados
na balança, decorrente dos excessos, eram submetidos a sequências de abdominais
que pareciam intermináveis. Quando necessário, não dispensava a boa conversa ao
pé do ouvido, um conceito pedagógico que acreditava.
Na passagem pelo Corinthians, Maffia chegou a
ser treinador interino por aproximadamente seis meses, entre 1984-85, sempre
deixando claro que não tinha intenção em dar prosseguimento na função.
Agora, aos 82 anos de idade completados no dia
21 de julho, Maffia goza de merecida aposentadoria, sem que isso implique em
distância do esporte, tanto que participa ativamente de entidades ligadas ao
meio em sua cidade natal de Jundiaí (SP), onde nunca deixou de residir durante o
período em que estava na ativa.