Nas décadas de 60 e 70 era praxe jogador de
futebol abrir entrevistas com citação do tipo ‘ouvintes meus cumprimentos’, e
nas justificativas de derrotas fechava o minúsculo palavreado com o imortal
bordão ‘vamos erguer a cabeça e partir pra próxima’, procedimento admissível para
quem mal completava o ensino fundamental e registrava histórico de família
pobre.
Considerando-se que toda regra tem exceção, o
ponta-de-lança Samorone, ídolo do Fluminense, foi uma delas na época. De
família de classe média, no município de Santos, formou-se em engenharia civil,
sabia se expressar e tinha personalidade até para desafiar torcedores do clube
carioca que desconfiaram de seu futebol na chegada em 1965. “Calma, garanto que
não sou um bonde”, foi o pedido de trégua às vaias após atuações
inconvincentes.
Samarone não desaprenderia de jogar futebol. Era
questão de tempo para repetir aquelas infiltrações entre zagueiros, boa visão
de jogo para colocar centroavantes na ‘cara’ do gol e facilidade nos chutes
fortes de longa distância. E quando as vaias foram trocadas por calorosos
aplausos respondeu aos incrédulos: “Provei à torcida que ela não se enganou
comigo”.
O falecido treinador Élba de Pádua Lima, o
Tim, jamais se equivocaria na indicação de jogador como Samarone ao seu
Fluminense da época. Assim, o ponta-de-lança foi fundamental na conquista das
edições do Campeonato Carioca de 1969 e 1971, além da Copa do Brasil de 1970. O
time, preparado desde 1968, era formado por Félix; Oliveira, Valtinho
(Galhardo), Altair (Silveira) e Bauer (Marco Antonio); Denílson e Serginho;
Cafuringa (Wilton), Samarone, Cláudio Garcia e Gilson Nunes, já com Telê
Santana como treinador.
E adiantou a fama de ‘Pelé Branco’, ‘Diabo
Loiro’ e ‘Canhão de Samarone’ se com a chegada do treinador Zagallo às
Laranjeiras em 1971 ele foi cobrado para se adaptar à marcação? O
desentendimento com o comandante implicou em transferência ao Corinthians, onde
se encontrou com o treinador Francisco Sarno, que esteve na Ponte Preta naquela
decisão de acesso à elite do futebol paulista, na competição 1964-65, em Campinas. Na época, na
Portuguesa Santista, Samarone marcou o gol do título, num time que mesclava
experiência e juventude. “Prepararam um clima hostil pra gente. Nosso vestiário
foi remexido. Apedrejaram bandeirinhas’, recordou o atacante.
Caprichos do futebol determinaram o reencontro
de Samarone com Zagallo no Flamengo em 1973 e o jogador, que havia chegado antes
ao clube, se transferiu à Portuguesa Desportos por causa de resquícios. E por
ter sido vítima de hepatite e lesão de ligamentos no joelho esquerdo, Samorone
não repetia o futebol brilhante. Desta forma, encerrou a carreira no Bonsucesso
em 1975. E hoje, apenas como Dr. Wilson Gomes, curte aposentadoria em Cascavel,
no Paraná.
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