No dia 29 de novembro de 2000, num clássico
São Paulo e Palmeiras pelas oitavas-de-final da Copa João Havelange, o goleiro
são-paulino Rogério Ceni aplicou chapéu no atacante Tuta, então jogador
palmeirense. E mais: irritado com a humilhação, o atacante perseguiu o
adversário na tentativa de ‘roubar’ a bola, foi driblado, e aí deu-lhe uma
sarrafada pra matar o lance.
Na época, o título da coluna foi ‘chapéu
insólito de Rogério Ceni’. Na projeção natural, ‘quem viu, viu; quem não viu,
não veria jamais. Ledo engano. O imprevisível Rogério Ceni prova que o raio
pode sim cair duas vezes no mesmo lugar.
Neste 13 de outubro, a vítima do veterano jogador
são-paulino foi o atacante Maikon Leite, do Náutico. Numa disputa de bola em
que qualquer goleiro a chutaria para qualquer lado, para não correr risco, eis
que, com estilo, Rogério Ceni aplicou chapéu no adversário e saiu jogando com
naturalidade.
Rogério Ceni é diferente da maioria dos
goleiros pela habilidade de trabalhar a bola com os pés. No início, quase matou
torcedores são-paulinos do coração quando decidiu jogar de líbero, dependendo
das circunstâncias. E inovou no futebol brasileiro com excelente aproveitamento
em cobranças de faltas. Dos 112 gols marcados, 58 deles foram registrados neste
expediente, contabilizando-se 53 gols de pênaltis e um de bola rolando, após
cobrança de falta em jogo de 2006 contra o Cruzeiro, pelo Campeonato
Brasileiro.
Na agilidade, Rogério lembra Van der Sar,
goleiro da seleção da Holanda na Copa do Mundo de 1998, na França, que fazia
cobertura dos zagueiros
Reiziger, Stam e Franck de
Boer, adaptados para jogar em linha.
Irreverência típica de Rogério ao sair
driblando era marca característica do ex-goleiro Ronaldo do Corinthians, avesso
ao chutão. Dois outros goleiros sul-americanos também eram abusados: o
colombiano Higuita e o paraguaio José Luiz Chilavert.
Rogério fez o goleiro brasileiro perder o medo
de abandonar o gol no transcorrer de partidas, prova está que Hiran, quando passou
pelo Guarani na
década de 90, levou o
torcedor bugrino à loucura em jogo contra o Palmeiras, ao marcar gol de cabeça no
empate por 3 a
3, já nos acréscimos.
O goleiro Lauro, da Portuguesa, recentemente
marcou o segundo gol de cabeça. O primeiro foi anotado quando jogava pela Ponte
Preta.
Estes chapéus aplicados por Rogério nos remetem
às décadas de 50/60, cujo sinônimo era ‘sombreiro’. Naquela época, Alfredo
Ramos, um zagueiro clássico do São Paulo, descontava dribles que ‘tomava’ com sombreiro.
E na leva de abusados ‘chapeleiros’ jamais pode-se esquecer do zagueiro Samuel
Arruda (já falecido), com passagens por Ponte Preta, São Paulo e Palmeiras, que
atordoava atacantes adversários com arriscados sombreiros dentro de sua própria
área, imitando o imortal Domingos da Guia.
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