segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Rogério Ceni, dois chapéus na carreira

 No dia 29 de novembro de 2000, num clássico São Paulo e Palmeiras pelas oitavas-de-final da Copa João Havelange, o goleiro são-paulino Rogério Ceni aplicou chapéu no atacante Tuta, então jogador palmeirense. E mais: irritado com a humilhação, o atacante perseguiu o adversário na tentativa de ‘roubar’ a bola, foi driblado, e aí deu-lhe uma sarrafada pra matar o lance.
 Na época, o título da coluna foi ‘chapéu insólito de Rogério Ceni’. Na projeção natural, ‘quem viu, viu; quem não viu, não veria jamais. Ledo engano. O imprevisível Rogério Ceni prova que o raio pode sim cair duas vezes no mesmo lugar.
 Neste 13 de outubro, a vítima do veterano jogador são-paulino foi o atacante Maikon Leite, do Náutico. Numa disputa de bola em que qualquer goleiro a chutaria para qualquer lado, para não correr risco, eis que, com estilo, Rogério Ceni aplicou chapéu no adversário e saiu jogando com naturalidade.
 Rogério Ceni é diferente da maioria dos goleiros pela habilidade de trabalhar a bola com os pés. No início, quase matou torcedores são-paulinos do coração quando decidiu jogar de líbero, dependendo das circunstâncias. E inovou no futebol brasileiro com excelente aproveitamento em cobranças de faltas. Dos 112 gols marcados, 58 deles foram registrados neste expediente, contabilizando-se 53 gols de pênaltis e um de bola rolando, após cobrança de falta em jogo de 2006 contra o Cruzeiro, pelo Campeonato Brasileiro.
 Na agilidade, Rogério lembra Van der Sar, goleiro da seleção da Holanda na Copa do Mundo de 1998, na França, que fazia cobertura dos zagueiros
Reiziger, Stam e Franck de Boer, adaptados para jogar em linha.
 Irreverência típica de Rogério ao sair driblando era marca característica do ex-goleiro Ronaldo do Corinthians, avesso ao chutão. Dois outros goleiros sul-americanos também eram abusados: o colombiano Higuita e o paraguaio José Luiz Chilavert.
 Rogério fez o goleiro brasileiro perder o medo de abandonar o gol no transcorrer de partidas, prova está que Hiran, quando passou pelo Guarani na
década de 90, levou o torcedor bugrino à loucura em jogo contra o Palmeiras, ao marcar gol de cabeça no empate por 3 a 3, já nos acréscimos.
 O goleiro Lauro, da Portuguesa, recentemente marcou o segundo gol de cabeça. O primeiro foi anotado quando jogava pela Ponte Preta.

 Estes chapéus aplicados por Rogério nos remetem às décadas de 50/60, cujo sinônimo era ‘sombreiro’. Naquela época, Alfredo Ramos, um zagueiro clássico do São Paulo, descontava dribles que ‘tomava’ com sombreiro. E na leva de abusados ‘chapeleiros’ jamais pode-se esquecer do zagueiro Samuel Arruda (já falecido), com passagens por Ponte Preta, São Paulo e Palmeiras, que atordoava atacantes adversários com arriscados sombreiros dentro de sua própria área, imitando o imortal Domingos da Guia.

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