segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Fantoni, titio ou paizão?



 Há técnicos de futebol para todos os tipos. Se a preferência recair sobre disciplinadores, a corrente indicada é do rigoroso Yustrich. Se a opção for por estrategista, a escola de Élba de Pádua Lima, o Tim, é a mais sugestiva. Quem se identifica com o chamado técnico ‘paizão’, então o estilo adotado por Orlando Fantoni, o titio Fantoni, é bem recomendável. Esses técnicos citados já faleceram.
 Técnicos disciplinadores não toleram quem não segue a cartilha. Estrategistas se apegam em variação de esquema tático para surpreender adversários. Com Orlando Fantoni, o forte era o blá-blá-blá. O laço de amizade com o grupo o transformava num líder natural. Trabalhava o ‘feijão com arroz’ durante a semana e falava a linguagem dos boleiros. Era o ‘titio’ compreensivo e bem humorado. Assim colecionou títulos na carreira de treinador, após passagem no futebol como jogador.
 Na década de 40, quando o Cruzeiro ainda era identificado como Palestra Itália, Orlando Fantoni era titular do time e atacante dos bons, tanto que a Lazio o levou para participar do quadriênio 46 a 49, do Campeonato Italiano. Ele foi o primeiro jogador brasileiro a atuar no exterior, mas antes disso passou pelo Vasco.  E o enriquecimento do currículo no futebol europeu foi o passaporte para que se transformasse em treinador na Venezuela, a partir de 1950. A volta ao Cruzeiro ocorreu em 1967 e foi comemorada com o bicampeonato mineiro. Depois, foi ganhar títulos na Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro.
 Fantoni descobriu o lateral-direito Nelinho escondido no futebol paraense, e se encantou com aquele chute forte, cheio de efeito, trazendo-o ao Cruzeiro. No Vasco, ele montou o esquadrão de 1977, com campanha irretocável no Campeonato Carioca: 25 vitórias, quatro empates e uma derrota para o América-RJ. Acreditem: a defesa ficou 18 jogos sem sofrer um gol sequer e foi batizada de ‘a barreira do inferno’. Eis o time: Mazaropi, Orlando Lelé, Abel, Geraldo e Marco Antonio; Zé Mário, Zanata e Dirceu; Wilsinho, Roberto Dinamite e Ramom.
 Este mesmo Vasco que se orgulhou do trabalho de Fantoni publicou anúncio em jornais do Rio à procura de treinador, no dia 6 de julho de 1946. O profissional receberia Cr$ 45 mil (quarenta e cinco mil cruzeiros – moeda da época) de luvas, ordenado de Cr$ 3 mil por mês por contrato de seis meses, e prêmio de Cr$ 20 mil em caso da conquista do título estadual. No entanto, a ‘pilha’ de currículos na secretaria do clube sequer foi revirada. Os indecisos cartolas da época preferiram prestigiar o professor Ernesto dos Santos, funcionário em São Januário, e o time ficou em quinto lugar.
 Fantoni nasceu no dia 13 de maio de 1917, em Belo Horizonte, e quando se desligou do futebol se radicou em Salvador, na Bahia. Foi lá que morreu esquecido no dia 5 de julho de 2002, vitimado por enfisema pulmonar.

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