Há técnicos de futebol para todos os tipos. Se
a preferência recair sobre disciplinadores, a corrente indicada é do rigoroso
Yustrich. Se a opção for por estrategista, a escola de Élba de Pádua Lima, o
Tim, é a mais sugestiva. Quem se identifica com o chamado técnico ‘paizão’,
então o estilo adotado por Orlando Fantoni, o titio Fantoni, é bem recomendável.
Esses técnicos citados já faleceram.
Técnicos disciplinadores não toleram quem não
segue a cartilha. Estrategistas se apegam em variação de esquema tático para
surpreender adversários. Com Orlando Fantoni, o forte era o blá-blá-blá. O laço
de amizade com o grupo o transformava num líder natural. Trabalhava o ‘feijão
com arroz’ durante a semana e falava a linguagem dos boleiros. Era o ‘titio’ compreensivo
e bem humorado. Assim colecionou títulos na carreira de treinador, após
passagem no futebol como jogador.
Na década de 40, quando o Cruzeiro ainda era
identificado como Palestra Itália, Orlando Fantoni era titular do time e atacante
dos bons, tanto que a Lazio o levou para participar do quadriênio 46 a 49, do Campeonato
Italiano. Ele foi o primeiro jogador brasileiro a atuar no exterior, mas antes
disso passou pelo Vasco. E o
enriquecimento do currículo no futebol europeu foi o passaporte para que se
transformasse em treinador na Venezuela, a partir de 1950. A volta ao Cruzeiro
ocorreu em 1967 e foi comemorada com o bicampeonato mineiro. Depois, foi ganhar
títulos na Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro.
Fantoni descobriu o lateral-direito Nelinho
escondido no futebol paraense, e se encantou com aquele chute forte, cheio de
efeito, trazendo-o ao Cruzeiro. No Vasco, ele montou o esquadrão de 1977, com
campanha irretocável no Campeonato Carioca: 25 vitórias, quatro empates e uma
derrota para o América-RJ. Acreditem: a defesa ficou 18 jogos sem sofrer um gol
sequer e foi batizada de ‘a barreira do inferno’. Eis o time: Mazaropi, Orlando
Lelé, Abel, Geraldo e Marco Antonio; Zé Mário, Zanata e Dirceu; Wilsinho,
Roberto Dinamite e Ramom.
Este mesmo Vasco que se orgulhou do trabalho
de Fantoni publicou anúncio em jornais do Rio à procura de treinador, no dia 6
de julho de 1946. O profissional receberia Cr$ 45 mil (quarenta e cinco mil
cruzeiros – moeda da época) de luvas, ordenado de Cr$ 3 mil por mês por
contrato de seis meses, e prêmio de Cr$ 20 mil em caso da conquista do título
estadual. No entanto, a ‘pilha’ de currículos na secretaria do clube sequer foi
revirada. Os indecisos cartolas da época preferiram prestigiar o professor Ernesto
dos Santos, funcionário em
São Januário , e o time ficou em quinto lugar.
Fantoni nasceu no dia 13 de maio de 1917, em Belo Horizonte , e
quando se desligou do futebol se radicou em Salvador, na Bahia. Foi lá que
morreu esquecido no dia 5 de julho de 2002, vitimado por enfisema pulmonar.
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