segunda-feira, 8 de outubro de 2012


 

Lola, habilidade no campo e vida em sítio

 

 

 É praxe a gente sequer lembrar aquilo que se comeu no almoço, mas a máquina do tempo chamada cérebro grava fatos inimagináveis há 39 anos. Num jogo noturno no Estádio Brinco de Ouro, em Campinas, no dia 3 de outubro de 1973, o então meia-direita Lola jogava pelo Guarani e o zagueiro central Brito pelo Botafogo do Rio de Janeiro, naquele empate por 1 a 1.

 Ainda no primeiro tempo, no gol dos portões de entrada, Lola dominou a bola pela meia-esquerda, quase na entrada da grade área, arrancou em direção de Brito, aplicou-lhe um drible seco e estonteante por dentro, e incontinente outro por fora. Gente, Brito foi vítima de um baita tropeção. Parecia um pugilista grogue, pernas bambas, tentando se equilibrar e, por fim, saiu catando cavaco.

 A ‘plástica’ do lance já valeu o preço do ingresso, nos tempos em que o time do Guarani era formado por Tobias; Wilson Campos, Amaral, Alberto e Bezerra; Flamarion e Alfredo; Jader, Lola, Clayton e Mingo. De fato Lola jogava muito, e por isso não devia ser considerado arrogante quando se autodenominava ‘meia-direita habilidoso’, ou ‘meio-campo criador’. A prática correspondia ao discurso.

 Não fosse a fratura exposta de tíbia e perônio num jogo contra o Santos, nos tempos de Atlético Mineiro em 1971, teria participação mais ativa na conquista do Campeonato Brasileiro daquela temporada pelo Galo mineiro, num time formado por Renato; Humberto Monteiro, Grapete, Vantuir e Oldair; Vanderlei e Humberto Ramos; Ronaldo, Lola, Dario e Tião. O treinador era Telê Santana, já falecido, que sempre recebia rasgados elogios de Lola: “Ele parecia um pastor dedicado às suas ovelhas”, ou “o ouro maior daquele grupo era o Telê”.

 Aquela final foi decidida num triangular, e de cara o São Paulo goleou o Botafogo por 4 a 1. Na segunda rodada, o Atlético ganhou do Tricolor paulista por 1 a 0, e podia jogar pelo empate na terceira rodada contra o Botafogo, mas venceu por 1 a 0, gol de Dario.

 A passagem de Lola pelo Atlético Mineiro deu-se de 1968 a 1973, período em que entrou para a história do Estádio Mineirão por ter marcado o milésimo gol. Talvez aquilo que ele jamais poderia supor é que a partir da transferência ao Guarani se transformaria num nômade do futebol. Depois, foram pouco mais de quatro anos no futebol mexicano defendendo América e Tigre, duas passagens pela Ponte Preta, Sport Recife, Grêmio Maringá e Botafogo de Ribeirão Preto, onde encerrou a carreira de atleta.

 Hoje, Lola é o professor universitário Raimundo José Correa, ministrando aulas em faculdade de educação física. Também trabalha como olheiro do Galo mineiro e fixou residência num sítio paradisíaco em Ribeirão Preto, se ocupando no trato aos animais e a vegetação.

 Por fim, aquele bigodão característico dos tempos de atleta faz parte do passado.

 

 

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