Brasil, cinqüentenário do bicampeonato no Chile
Reportar o cinquentenário do bicampeonato da
Seleção Brasileira no Chile, na Copa do Mundo de 1962, nos remete
necessariamente à tecnologia da época, bem diferente de hoje.
O principal veículo de comunicação era o
rádio, que ornamentava as salas das casas. Curioso é que durante as
transmissões de futebol famílias e convidados ocupavam todas as poltronas
ávidos pela narração.
Havia também o chamado rádio galena de
modulação AM, montado com facilidade. Bastava instalar uma antena, conectada a
um aparelhinho com bobina e capacitor, para se obter um som com chiado.
Não se tinha a imagem da televisão, mas no
rádio havia o comunicador que transportava a imagem fiel do jogo, caso do
mineiro Pedro Luiz Paoliello, na época narrador da Rádio Bandeirantes-SP.
Pedro Luiz, já falecido, foi o ‘Pelé’ na
narração de futebol. Descrevia cada metro do gramado, e dava ao ouvinte a plena
noção onde estava a bola e como transcorriam as jogadas. Nos lances de gols,
nada de esgoelar. Era um grito curto, porém recheado de informações de quem
participou das jogadas, zagueiros que falharam, etc. Logo, pouco sobrava para o
repórter completar a narrativa. Os sábios captavam diálogos de jogadores
durante comemorações, ou indignação daqueles que sofriam os gols.
Na época, lembro-me que tão logo Vavá marcou o
terceiro gol na vitória brasileira sobre a Tchecoslováquia, na final, a
molecada de minha rua ignorou a transmissão, alguém passou a mão em uma bola de
borracha e a patota foi participar de pelada em campinho de terra esburacado.
Naquele período a molecada reverenciava os
ídolos de maneira bem singular. Quando o zagueiro Mauro Ramos de Oliveira
matava a bola no peito, driblava o adversário e saía jogando com classe, havia
sempre aqueles que queriam imitá-lo. E quando isso acontecia o garoto gritava
‘Mauuuuuroooooo’.
O mesmo ocorria quando um ponteiro-direito
habilidoso procurava copiar os dribles de Mané Garrincha ou o oportunismo do centroavante
Vavá, que repartia a bola com os zagueiros e a empurrava para dentro do gol.
Daquele Brasil bicampeão, Mauro, Zózimo, Didi,
Garrincha e Vavá já morreram, Gilmar e Nilton Santos estão adoentados, enquanto
Djalma Santos, Zito, Pelé e Zagallo gozam de boa saúde. Exceto Pelé, os demais são
octagenários, até porque Zito vai completar 80 anos em agosto.
Naquele Mundial, o Brasil estreou com vitória
sobre o México por 2 a
0. O temor veio após o segundo jogo, diante da Tchecoslováquia, não apenas pelo
empate sem gols. É que Pelé se machucou e ficou afastado do restante da
competição.
Foi aí que Garrincha se encarregou de decidir
e o Brasil venceu Espanha por 2
a 1, Inglaterra 3 a 1, Chile 4 a 2 e Tchecoslováquia por 3 a 1, de virada. Masopust
abriu o placar, Amarildo empatou, Zito virou, e Vavá sacramentou a vitória
brasileira.
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