segunda-feira, 4 de maio de 2009

Zé Carlos, o bom mineiro

Élcio Paiola (interino)

Quando requisitado para entrevistas, o ex-volante José Carlos Bernardes, que se consagrou no grande time do Cruzeiro dos anos 60, falava baixinho e de forma mansa, porém com conteúdo. Como bom observador das alternâncias de uma partida de futebol, dissertava sobre falhas e acertos de seu time.
Nos gramados, até os 38 anos de idade, Zé Carlos mostrou o estilo refinado no toque de bola, característica pouco comum para quem joga de volante, cuja atribuição prioritária é dar conta do recado na marcação.
Zé Carlos era diferente da maioria dos volantes nos dois quesitos. Sabia desarmar sem a necessidade de recorrer frequentemente ao artifício das faltas, e valia-se da boa colocação para antecipar jogadas. E mais: nos lances individuais raramente era driblado.
De posse de bola, Zé Carlos sabia fazer os laterais jogarem. Encostava em quaisquer dos lados do campo para organizar triangulações, de forma que seu time fluísse pelo setor.
No Cruzeiro, seu primeiro clube profissional, atuava como meia de armação e aliava as virtudes à liderança nata. Indicava aos companheiros o posicionamento mais adequado, exigia valorização da bola e por isso se irritava com erros de passes. Claro que o tom de voz era mais alto em relação aquele observado fora de campo.
Zé Carlos se profissionalizou em 1964, e jogou no Cruzeiro até 1977. Foi companheiro de Tostão, Eduardo Amorim, Palhinha, Wilson Piazza, Dirceu Lopes, Roberto Batata, Raul e Nelinho, entre outros. Conquistou títulos do Campeonato Mineiro de 1965 a 1969 ininterruptamente. Depois, nova sequência de 1972 a 1975 e 1977. Foi campeão da antiga Taça Brasil em 1966 e dez anos depois na Taça Libertadores da América, época que exibia vasta cabeleira black power.
Aos 32 anos de idade, dono do passe, trocou Belo Horizonte - capital mineira - por Campinas, para jogar no Guarani, ainda em 1977. Quem apostava em sua decadência se deu mal. Teve atuação preponderante na conquista do título inédito do Campeonato Brasileiro de 1978 pelo Guarani, num time comandado pelo técnico Carlos Alberto Silva e formado por Neneca; Mauro Cabeção, Gomes, Edson e Miranda; Zé Carlos, Zenon e Renato; Capitão, Careca e Bozó.
Valorizado pelo título, Zé Carlos foi cobiçado por vários clubes, e acertou transferência para o Botafogo do Rio de Janeiro. Posteriormente jogou no Bahia, Uberaba e Vila Nova de Nova Lima (MG), onde havia encerrado a carreira em 1993. Em seguida, assumiu a função de treinador do Guarani, e não obteve êxito. Depois topou o desafio do Mogi Mirim que lhe reservou dupla missão: jogar e ser o treinador do time.
Após nova experiência infrutífera, Zé Carlos foi aconselhado a integrar comissões técnicas como coadjuvante. Agora, aos 64 anos de idade completados no dia 28 de abril, recorda os bons tempos de Cruzeiro, Guarani e os quatro jogos pela Seleção Brasileira.

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