segunda-feira, 11 de maio de 2009

OTD ‘peitou’ a Rede Globo

Por Élcio Paiola (interino)


Que dirigente do futebol brasileiro teria coragem de "peitar" a Rede Globo e impedir transmissões de seus jogos em campeonatos estaduais? Acreditem: o destemido Oswaldo Teixeira Duarte, o OTD, então presidente da Portuguesa, comprou essa briga no Paulistão de 1985 e, por ironia do destino, sua Lusa foi finalíssima e a decisão ficou marcada sem imagens ao vivo da televisão.
As véspera da decisão, o presidente do São Paulo, Carlos Miguel Aidar, ameaçou OTD com processo na Justiça por perdas e danos. Um pool de emissoras de TV se prontificou a pagar valores acima do convencional para a transmissão, mas OTD não cedeu. Havia se irritado com proposta de compra de transmissões de jogos da Portuguesa por valores consideravelmente inferiores a Santos, Corinthians, São Paulo e Palmeiras, e não assinou o contrato na época, quando os clubes ainda não outorgavam às federações, CBF e Clube dos 13 o direito de negociações com as emissoras. Naquela ocasião, ele dizia que valia mais a dignidade do que o dinheiro.
Como se vê, OTD era homem de confrontos. Assumiu a presidência da Lusa em 1970 e, dois anos depois, na derrota para o Santa Cruz por 1 a 0, no início do Campeonato Brasileiro, tomou a intempestiva decisão de afastar jogadores renomados como Marinho Perez, Lorico, Ratinho, Piau, Samarone e Hector Silva, em decisão conhecida como "Noite do Galo Bravo".
A rigor, a década de 70 foi marcada por realizações na administração da Portuguesa. OTD liderou grandes campanhas de doações de material de construção, apoiou os esportes olímpicos, coordenou obras de construção do ginásio de esportes, incentivou montagens de equipes competitivas e enfrentou o desafio de ampliação do Estádio Canindé, reinaugurado em 1972. Foi um modelo de gestão centralizadora reconhecida pelos conselheiros, que o homenagearam dando seu nome ao estádio.
Em 1974, elevou para 70 mil o número de associados do clube, e esse "fôlego" para realizações contagiou a colônia lusitana. Assim, o clube cresceu desproporcionalmente até 1980, quando deixou a presidência.
Em 1984, voltou ao poder do mesmo jeito: briguento. Naquela ocasião, "mirou a metralhadora" para a Federação Paulista de Futebol e vetou todos os árbitros da velha guarda de jogos de seu time: Dulcídio Vanderlei Boschilia, José Assis Aragão, Roberto Nunes Morgado, Romualdo Arpi Filho, entre outros. E quando a Lusa foi à final do Paulistão em 1985, a entidade escalou o desconhecido José Carlos Nascimento para apitar.
Naquela temporada, OTD quis exigir da mídia paulistana o mesmo espaço destinado aos grandes clubes, isso provocou boicote por parte de setores da imprensa, e ele passou a ser identificado apenas pela sigla OTD, sem que isso modificasse a sua conduta.
OTD tinha domínio absoluto do clube. Dizem que sabia a quantidade de toalhas na sauna e exigia que os departamentos economizassem gastos. Evidente que não era um profundo conhecedor do futebol, mas cobrava resultados e não tolerava erros crassos.
Por isso marcou época na Portuguesa até 1990, quando morreu. Naturalmente ensinou o caminho das pedras aos seus sucessores, que, a rigor, não souberam aprendê-lo.
O último grande ídolo da Portuguesa foi Dêner, ponta-de-lança que perdeu a vida em acidente de automóvel no Rio de Janeiro, em 1994, quando defendia o Vasco por empréstimo. Dêner saiu das categorias de base da Lusa e aplicava dribles desconcertantes.
O último momento marcante da Portuguesa foi em 1996, com o vice-campeonato brasileiro. Depois, restou só paciência ao torcedor luso, que, perplexo, recorda apenas décadas passadas do clube.

Nenhum comentário: