quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Câncer derrota Moisés

Quando a mídia registrou a morte do zagueiro Moisés Matias de Andrade, no dia 26 de agosto, aos 60 anos de idade, enfatizou, de modo geral, que ele foi um zagueiro viril e às vezes violento. Reconheceu, também, que era um líder e atribuiu a causa da morte a um câncer no pulmão, sem detalhamento se a doença foi decorrente do tabaco ou não.
É sobejamente sabido que 90% dos casos de câncer no pulmão são desenvolvidos pelo tabagismo. Por sinal, o calendário comemorativo do ano apontou o dia 29 de agosto como o Dia Nacional de Combate ao Fumo. Na ocasião, os fumantes foram bombardeados com campanhas alertando sobre malefícios do cigarro, e nos surpreendemos positivamente com estudos que mostraram a redução pela metade do número de fumantes nos últimos 17 anos, apesar do aumento da população.
Quanto a Moisés, foi um carioca de Resende que “descia o sarrafo”. Procurava intimidar atacantes “matando” seguidamente as jogadas. Valia-se da tolerância dos árbitros que só mostravam o cartão amarelo após a advertência verbal.
Na época, dezenas de treinadores mandavam bater. “Rasga”, era a recomendação mais repetida para se tirar a bola da defesa de qualquer maneira, mesmo que acertassem a perna do adversário. Houve um período em que se dizia “bola ou bolim”, numa referência que passa a bola e não passa o adversário. Era a clara orientação para se matar a jogada no nascedouro.
Moisés - com passagens por Bonsucesso, Vasco, Corinthians, Fluminense, Flamengo, Bangu, Paris Saint-Germain, Belenense, Atlético (MG) e América (RJ) - teve a fama de xerife, mas raramente foi expulso. Consciente de suas limitações técnicas, se impunha pela raça. “Zagueiro que se preza não pode ganhar o Belfort Duarte”, repetia, referindo-se ao prêmio instituído pelo Conselho Nacional de Desportos em 1945, e entregue ao atleta que passava dez anos sem ser expulso de campo.
Uma virtude de Moisés reconhecida unanimemente era no jogo aéreo. Com 1,79m de altura, se incumbia de devolver de cabeça as bolas alçadas. Teve passagens com sucesso no Vasco e Corinthians. No time carioca foi campeão brasileiro em 1974 jogando ao lado de Andrada, Miguel, Alcir, Fidélis e Alfinete, entre outros. Um ano antes, atuou uma partida pela Seleção Brasileira. Foi no dia 21 de junho contra a União Soviética.
No Timão, de 1976 a 1978, integrou o inesquecível time que quebrou jejum de títulos de 22 anos, no dia 13 de outubro de 1977, com a vitória sobre a Macaca por 1 a 0, no terceiro jogo daquela final do Campeonato Paulista. Moisés teve a sorte de marcar o centroavante Rui Rei só por 16 minutos, devido à expulsão dele por ofensas morais ao árbitro Dulcídio Vanderlei Boschilia (já falecido). O time corintiano, comandado pelo técnico Oswaldo Brandão (já falecido), comemorou o título atuando com Tobias; Zé Maria, Moisés, Ademir Gonçalves e Wladimir; Ruço, Luciano e Basílio; Vaguinho, Geraldão e Romeu.
Como treinador, a única passagem destacada de Moisés foi no Bangu em 1985: vice-campeão brasileiro, perdendo a decisão para o Coritiba nos pênatis. Chegou a trabalhar nos Emirados Árabes.
Fora da bola, gostava da caça submarina e de Carnaval. Ajudou a criar o “Bloco dos Piranhas”, com jogadores desfilando vestidos de mulheres pelas ruas da zona norte do Rio de Janeiro.

Nenhum comentário: