segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Lima, o coringa inigualável

Desde que você se entende por gente de certo já ouvia a frase de que “a torcida se constitui no 12º jogador”. Mas você sabe, também, que torcida não joga, não faz gols e às vezes até atrapalha quando vaia seu próprio time. O Santos da década de 60 pode dizer, sim, que teve um time de 12 jogadores. O Peixe contou com o melhor coringa do futebol brasileiro e quiçá do futebol mundial: Lima.
No Juventus, onde iniciou a carreira, Lima era volante, mas no Santos foi o reserva que sempre tinha lugar no time. Bastava qualquer titular se machucar para o técnico deslocá-lo na função. “Eu só não joguei de goleiro”, confessa esse sexagenário de cabelos grisalhos, barriga de chope e que se mantém ligado ao futebol coordenando uma escolinha para garotos, em Santos.
No Juventus, Lima um volante que desarmava sem abusar das faltas e tinha elegância na condução da bola. O Santos logo constatou essas virtudes e tratou de levá-lo à Vila Belmiro, em 1961.
Lima sequer havia passado perto de aeroporto e bastaram duas semanas no novo clube para conhecer a Itália, numa excursão do Santos. E as improvisações começam na lateral-direita, substituindo Getúlio. Depois, a experiência na lateral-esquerda. E como era um jogador forte na marcação, logicamente não estranhou as deslocações para o miolo de zaga.
Lima tinha facilidade para assimilar diferentes posições. “Bastava um treino no setor para me adaptar”, repetia sempre.
Evidente que não se poderia cobrar de Lima as atribuições de um ponteiro velocista, quando o improvisavam quer no lado direito, quer no lado esquerdo do ataque. Mas ele compensava com a facilidade para driblar e envolver adversários. E Lima tinha a vantagem de pegar bem na bola de média distância. Gols desse tipo lhes renderam moto-rádios e outros prêmios, determinados para o melhor jogador em campo.
Quando sequer cogitava-se polivalência para jogador de futebol, Lima era um dos raros exemplos de atleta completo. Era capaz de anular hábeis centroavantes nos tempos em que zagueiro não tinha a opção de jogar na sobra, quando a “treinadorzada” gritava, do banco, para cada zagueiro pegar um atacante.
Para justificar a fama de coringa, Lima era capaz, na mesma partida, de sair da zaga e se transformar em atacante perigoso. Por isso sempre arrumava um lugar no time, que tinha Gilmar; Getúlio, Mauro, Calvet e Dalmo; Zito e Mengálvio; Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe.
E quando Zito pendurou as chuteiras, Lima foi fixado como volante, sabendo, todavia, que seria o primeiro reserva de quaisquer dos titulares.
A versatilidade encurtou o caminho à Seleção Brasileira, na Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra. E depois do fiasco, sem “papas” na língua, criticou a falta de comando e julga ter sido esse o motivo para não ser relacionado à Copa do Mundo de 1970, no México, ocasião em que atravessava a melhor fase da carreira.
Em 1971, o coringa se transferiu para o Jalisco de Guadalajara, no México. Na seqüência, já no fim de carreira, voltou ao Brasil, defendendo o Fluminense.
Lima é concunhado de Pelé e, nos tempos de Santos, eram amigos inseparáveis. Ambos dividiam o mesmo quarto, quer em hotéis, quer nos alojamentos do clube.

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