domingo, 10 de novembro de 2024

Geraldão, centroavante da era dos tombadores

 Há 40 ou 50 anos, o requisito básico para exercer a função de centroavante era que o atleta empurrasse a bola pra dentro do gol, independentemente da técnica. Tinha que saber repartir aquele espaço dentro da área com zagueiros adversários e completar jogadas. E esse era o perfil do então adolescente e 'trombador' Geraldão aos domingos, nos campinhos de várzea da zona rural de Álvares Machado (SP), cidade próxima a Presidente Prudente, onde trabalhava em lavoura de cana e amendoim, no transcorrer da semana.

Se não conseguiu espaços nas tentativas feitas em juvenis de América de Rio Preto e Linense, a Prudentina deu-lhe a devida chance, e de lá remanejado para o São Bento de Marília em 1969, quando foi aprovado aquele estilo raçudo de atacante trombador, tanto que o Botafogo de Ribeirão Preto foi buscá-lo.

Naquele início de trajetória como profissional, ele jamais imaginou que fosse encontrar um parceiro por excelência para abastecê-lo em assistência de jogadas, caso do falecido doutor Sócrates, peça fundamental para que atingisse a artilharia do Campeonato Paulista de 1974, com 23 gols.

Foi o bastante para que o saudoso presidente do Corinthians, Vicente Matheus, em tempos de jejum de títulos de seu clube, contrariasse a objeção do então treinador Dino Sani e foi buscá-lo para reforçar a equipe em 1975, porém naquela temporada ele não repetiu performance de Botafogo. A titularidade foi recuperada já na temporada seguinte, e assim pôde comemorar o título estadual de 1977, sobre a Ponte Preta.

E no ano posterior ele voltou a formar dupla com Sócrates, contratado pelo Corinthians, mas a queda de rendimento implicou em empréstimo ao Juventus (SP), e posteriormente repassado ao Grêmio portoalegrense, onde novamente não repetiu aquilo que dele se esperava. Assim, paradoxalmente foi jogar no rival Inter, quando voltou a marcar gols e ganhar títulos.

Após aquela passagem, Geraldão entrou na rota de boleiros na estrada da volta, ao jogar no Colorado (PR), Mixto (MT), Corinthians de Presidente Prudente, União Valinhos e Garça, clube da despedida em 1989. Entretanto continuou no meio na base do Corinthians e em escolinhas de futebol da Prefeitura de São Paulo. Hoje, com 75 anos de idade, lamenta empresários dando as cartas em clubes, por entender que interferem negativamente na revelação de jogadores.

domingo, 3 de novembro de 2024

Adeus a Denílson, primeiro cabeça de área do futebol brasileiro

Como outubro foi mês marcado por registros de mortes de ex-atletas e do pugilista Adílson Rodrigues Maguila, passou despercebido que o ex-volante Denílson, o 'Rei Zulo”, de elogiada passagem no Fluminense nas décadas de 60/70, também faleceu, aos 81 anos de idade. Ele integrou a Seleção Brasileira que foi um fiasco na Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra, com participação em jogos contra Bulgária e Portugal. E por mais dois aos ainda vestiu a camisa amarela, com retrospecto de nove jogos e dois gols.

Com 1,80m de altura, Denílson Custódio Machado, natural de Campos dos Goytacazes (RJ), tinha característica de volante defensivo e sobressaía-se no desarme das jogadas. Por isso foi batizado como primeiro cabeça-de-área do futebol brasileiro em 1964, definição através de seu saudoso treinador Ébua de Pádua Lima, o Tim. Todavia, essa virtude não se estendia nos passes mais elaborados. Por isso, de posse de bola, visava rapidamente o parceiro de equipe mais próximo, para evitar o erro.

E naquele ano já comemorou o título carioca, fato que se repetiu em 1969, 1971 e 1973, quando o saudoso treinador Telê Santana o desafiou a treinar lançamentos, e inacreditavelmente passou a se destacar neste fundamento. Assim, disputou 435 partidas pelo clube, com opção de aceitar transferência ao Rio Negro (AM) por dois motivos: havia ganhado passe livre e se pronunciado abertamente que 'é melhor jogar num time pequeno do que ficar na reserva de um novato em time grande'.

Depois, ainda passou pelo Vitória (BA) em 1975, no reencontro com o treinador Tim. Assim, ao encerrar a carreira na temporada seguinte, foi incentivado à função de auxiliar técnico, e com a básica aprendizagem suceder o seu professor em 1977. Dali foi trabalhar em clube da Nigéria, ocasião que, apesar das diferenças culturais de países, alegou que foram três anos sem arrependimento.

Denílson começou a carreira no juvenil do Madureira (RJ), abandonou o clube por causa de salários atrasados e se ofereceu para teste no Fluminense. Inicialmente foi barrado pelo porteiro, mas insistiu para falar diretamente com o técnico do profissional, Zezé Moreira e conseguiu. "Seu Zezé, sou jogador de futebol e quero treinar aqui". Aí o treinador acreditou no garoto, colocou-o para treinar, o aprovou, e a carreira decolou.


Adeus ao raçudo zagueiro Tonhão do Palmeiras

Outrora, mês de outubro era referência para festejos de aniversários dos principais astros do futebol sul-americano. Pelé havia nascido no dia 23, Mané Garrincha 28 e Diego Maradona 30, com mortes aos 83, 50 e 60 anos de idade, respectivamente. Agora, outubro fica marcado por falecimentos de desportistas que foram manchetes no auge da carreira. O primeiro deles foi o ex-quarto-zagueiro Tonhão, do Palmeiras, aos 55 anos de idade, que estava internado para tratar de problemas no fígado e rins. Depois, o boxeador Adilson Rodrigues Maguila, aos 66, e completando a relação o lateral-direito Zé Carlos, que integrou a Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1998, que completaria 56 anos no dia 14 de novembro.

A história de Maguila é sobejamente conhecida, muitos sequer lembram-se de Zé Carlos, que após passagens por clubes sem a devida expressão se destacou no São Paulo, e o saudoso treinador Zagallo o convocou para ser reserva de Cafu no Mundial da França. Aí, cabe reportar um pouco sobre Tonhão do Palmeiras dos anos 90, quando não se escondiam apelidos de jogadores.

Duvida? Então, qual atleta dos principais campeonatos no País joga identificado pelo apelido de Tonhão? Ele formou dupla de zaga com Toninho, que acrescentava o sobrenome Cecílio. E Tonhão morreu vítima de desdobramento de enfermidade no fígado, enquanto crápulas da pior espécie continuam 'vivinhos' da Silva.

Longe de se imaginar um estilo técnico para Tonhão, mas compensava pela raça e força física de um Palmeiras na era multinacional Parmalat. Em mais de uma ocasião ele 'comprou' brigas provocadas pelo atacante Edmundo, uma delas quando o colega deu um soco na cara do lateral André Luiz, do São Paulo, resultando em briga generalizada, com Tonhão envolvido e fazendo companhia para Edmundo nas expulsões, em 1995.

Naquele mesmo ano, Tonhão também mostrou irreverência após derrota para a Portuguesa por 3 a 0, pois ao pegar camisa do clube adversário fez questão de cuspir nela e usá-la para limpar as chuteiras, revoltando a comunidade portuguesa.

Paulistano e registrado como Antônio Carlos da Costa Gonçalves, ele ainda passou por Athletico Paranaense, Internacional, Goiás, também atuou no futebol japonês e pendurou as chuteiras em 2003, no Guaratinguetá. Depois disso, chegou até a participar da categoria máster do Palmeiras.