sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Evolução de Mauro Silva no futebol foi estantosa

A expressão 'esse mundo dá volta' se aplicar bem ao atual vice-presidente da FPF (Federação Paulista de Futebol) Mauro Silva que, quando atleta recém-saído dos juniores do Guarani, era 'zoado' até por parceiros de clube. Motivo: em alguns dias da semana, após términos de treinos vespertinos, vestia o seu terno - por vezes até com gravata -, e de Bíblia embaixo do braço seguia a igreja evangélica, para assistir aos cultos.

Com a simplicidade características, não perdia o bom humor quando o apelidaram de 'Pastor' e respondia: “Deixe eles falarem. Estou louvando o meu Deus”. Assim, inclinação religiosa à parte, desde àquela época já mostrava, em campo, 'pulmão de aço' típico de volante que grudava no organizador de jogadas da equipe adversária, com méritos no desarme e simplificação através de passes curtos àqueles que estivessem mais próximo.

No entanto, como a coletividade bugrina havia se habituado a volantes técnicos como Flamarion Nunes Tomazolli e José Carlos Bernardes - ambos falecidos -, Mauro Silva Gomes, natural de São Bernardo do Campo (SP), estava aquém do esperado e, por isso, foi pouco aproveitado na equipe principal durante o período de cinco anos de Guarani, desde às categorias de base em 1986, quando o seu passe foi negociado com o Bragantino pela 'bagatela,' à época, de cem mil cruzeiros, moeda corrente.

Na mudança de clube, o seu treinador Vanderlei Luxemburgo se dispôs ao trabalho para adicionar virtudes, e assim o transformou em condutor de bola e ousadia para passes mais logos, conforme a exigência a um discípulo obediente. Aquilo chamou atenção do então treinador da Seleção Brasileira à época, Paulo Roberto Falcão, que tratou de convocá-los experimentalmente para alguns jogos.

Ao se transferir para o La Coruña da Espanha, em 1992, contingências da carreira de atleta o beneficiaram, pois Carlos Alberto Parreira, que fora seu treinador em Bragança Paulista, havia substituído Falcão no selecionado, e apostou no seu futebol para a Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, que culminou com a conquista do pentacampeonato.

Mauro Silva, que em janeiro passado completou 56 anos de idade, foi atleta no La Coruña até 2005, tido como um dos mais recomendáveis que passaram por lá, migrando, à seguir, à função de coordenador de futebol na CBF. E ao assimilar as coisas do meio, chegou à FPF.

terça-feira, 27 de agosto de 2024

Heriberto, hábil meia que não 'vingou' como treinador

Quando fecham-se as cortinas e termina uma partida de futebol, por vezes começa um 'mundo' escondido. Reações intempestivas entre integrantes de elencos são acobertadas, assim como há casos de quem extrapola e ignora até membros de comissões técnicas, como o registrado em setembro de 2006, quando o atacante Júlio César, do América (RN), agrediu o treinador Heriberto Longuinho da Cunha, revoltado por ter sido substituído, e, em consequência, foi dispensado do clube.

Quatro anos antes havia ocorrido outro exemplo de comandante agredido, durante treino do La Coruña (ESP). Foi quando o então meia Djalminha reclamou da marcação de um pênalti, apitado pelo seu treinador Javier Irureta, que gerou áspera discussão, culminando com cabeçada do atleta no comandante. Na ocasião, o fato ganhou repercussão e Luiz Felipe Scolari, o Felipão, que comandava a Seleção Brasileira, decidiu vetar a convocação do atleta à Copa do Mundo de 2002.

Após aplaudida carreira de atleta nos anos 80 do século passado, o ex-meia-esquerda Heriberto decidiu transmitir a natural experiência adquirida ao longo do percurso como treinador. Logo, jamais imaginou que a insubordinação atingisse aquele nível, com atleta extrapolando.

Vida que segue. Hoje, 64 anos de idade, aposentado, esse mineiro de Santa Rita do Sapucaí viveu situação contrastante entre treinador e atleta. Quando jogava, principalmente nos seis anos de São Paulo, a partir de 1978, com histórico de 185 jogos, de fato não foi aquele meia-armador com estatística recomendável para assinalar gols. Todavia, compensava pela habilidade e privilegiada visão de jogo, que permitia frequentes assistências a companheiros de equipe, visando conclusões de jogadas.

Velha guarda são-paulina lembra de afinadas equipes montadas naquele período. Assim, Heriberto pode atuar ao lado de renomados jogadores como os zagueiros Oscar e Dario Pereyra, e centroavante Serginho Chulapa. Ao se desligar do São Paulo, ele ainda passou por Portuguesa, Cruzeiro, Santos, América (RJ), Athletico Paranaense, Kashima Antlers do Japão, Mogi Mirim e São Caetano em 1993, onde encerrou a carreira de atleta.

Como treinador, dirigiu os Américas de Rio Preto (SP), do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Norte. Rodou ainda em clubes como Náutico, Portuguesa, Fortaleza, Inter de Limeira (SP) e Vila Nova.

Sílvio Santos

 Silvio Santos

sábado, 10 de agosto de 2024

Adeus ao craque Adílio, do Flamengo

Ideal é quando o ídolo do passado acaba homenageado em vida. Assim, em abril do ano passado, foi reservado, neste espaço, a recapitulação da carreira do então meia Adílio de Oliveira Gonçalves, um dos maiores craques de todos os tempos do Flamengo, que havia caído no anonimato, tanto que sequer teve respaldo quando tentou disputou a cadeira de deputado estadual do Estado do Rio de Janeiro em 2010, e assim tocava a vida até adoecer e morrer neste cinco de agosto, aos 68 anos de idade, vítima de câncer de pâncreas.

A infância dele foi mais uma daquelas em que meninos órfãos de pai saem à luta para ajuda no sustento da família, com trabalho em feira livre. Como o talento dele aflorou no bate-bola em praias, foi levado às categorias de base do Flamengo. As primeiras oportunidades na equipe principal surgiram após o precoce falecimento do meia Geraldo, mas não havia como se fixar como titular com a chegada de Paulo César Carpeggiani, vindo do Inter (RS), fato que o contrariava, embora treinadores como os saudosos Cláudio Coutinho e Telê Santana queixavam-se que faltava-lhe aprimorar finalização e aptidão para o cabeceio, com 1,72m de altura.

A chance definitiva não tardou e foi gratificado ao participar do melhor Flamengo de todos os tempos, quando fez dupla de meio de campo com o volante Andrade e ponta-de-lança Zico, nos títulos da Libertadores e Mundial de Clubes em 1981, na goleada por 3 a 0 sobre o Liverpool, assim como conquistas do Campeonato Brasileiro nas temporadas de 1980, 1982 e 1983. Ele entrou para a história do clube com histórico de 128 gols em 615 partidas, sendo e terceiro jogador com maior número de jogos disputados.

Foi o período que colocava o seu parceiro Zico na cara do gol. Assim, a carreira no Flamengo se arrastou até 1987, após ter completado 30 anos de idade e ficou com os direitos do passe. Depois, foi jogar no Coritiba e houve repasse em clubes intermediários, até o encerramento no Barra Mansa do Rio de Janeiro, em 1997, ocasião em que lamentou apenas duas atuações pela Seleção Brasileira.

Antes de ingressar na discreta carreira de treinador, foi transformado em atleta de futsal, como ala-pivô. No comando de clubes, passou pelo Bahain da Arábia Saudita, Centro de Futebol Zico e divisão de base do Flamengo, clube que em 2019 o homenageou com busto em na sede, na Gávea.


domingo, 4 de agosto de 2024

Ivair, um 'malabarista' como Ronaldinho Gaúcho


Desportistas entre as faixas etárias de 70 a 80 anos de idade testemunharam o estilo malabarista com a bola do então centroavante Ivair Ferreira, nascido em Bauru (SP), em 1945. Uma reverência de parâmetro é o ex-meia-atacante Ronaldinho Gaúcho, pela capacidade de arranques com bola colada aos pés, e facilidade para fazer o zigue-zague e entortar marcadores.

E por encantar o público durante jogo que a Portuguesa dele venceu o Santos por 3 a 2, em 1962, quando marcou os três gols, a recompensa foi além do esperado. O saudoso 'rei' Pelé fez questão de presenteá-lo com a camisa, e carinhosamente o batizou de 'príncipe', numa alusão que havia surgido o suposto herdeiro de seu trono.

O apelido foi fartamente propagado pelos saudosos jornalistas da época Eli Coimbra e Orlando Duarte, e assim Ivair marcou época numa linha ofensiva da Lusa conhecida como 'iê iê iê', em referência ao movimento musical da Jovem Guarda, num quinteto formado por Ratinho, Leivinha, Ivair, Paes e Rodrigues.

Pelé não exagerou ao rotulá-lo de príncipe, pois um ano após aquela homenagem Ivair chegou à Seleção Brasileira. Todavia, prestes a estrear, sofreu distensão muscular, e só foi disputar uma partida pelo selecionado em maio de 1966, escalado na ponta-esquerda, com vitória sobre País de Gales por 1×0, no Estádio do Mineirão.

Naquele período, homens da mídia faziam questão de identificar goleiros alvos mais frequentes de atacantes. Aí, quando Ivair totalizou 15 gols em 11 partidas contra o palmeirense Valdir Joaquim de Moraes, o fato foi bastante propagado.

Na Portuguesa daquela época, era comum transferências de jogadores para rivais. Lateral Zé Maria, zagueiro Ditão, volante Nair e meia Basílio foram para o Corinthians. O Palmeiras contratou o zagueiro Marinho Peres e pontas-de-lança Servílio e Leivinha. Foi para o São Paulo o já falecido ponteiro-direito Ratinho.

Embora sempre requisitado por clubes paulistas, e com a Lusa hesitando negociar o passe, Ivair endureceu numa das renovações de contrato, e comprou mais um Fusca. Aí o Corinthians o contratou em 1969, ocasião que a Portuguesa usou o dinheiro para conclusão das obras do Estádio Canindé, clube que Ivair começou em 1962, totalizando 307 jogos e 106 gols.

Ele ainda passou por Fluminense, América (RJ), Paysandu, Toronto (CAN) e finalmente quatro temporadas no Estados Unidos, a partir de 1979.