A expressão 'esse mundo dá volta' se aplicar bem ao atual vice-presidente da FPF (Federação Paulista de Futebol) Mauro Silva que, quando atleta recém-saído dos juniores do Guarani, era 'zoado' até por parceiros de clube. Motivo: em alguns dias da semana, após términos de treinos vespertinos, vestia o seu terno - por vezes até com gravata -, e de Bíblia embaixo do braço seguia a igreja evangélica, para assistir aos cultos.
Com a simplicidade características, não perdia o bom humor quando o apelidaram de 'Pastor' e respondia: “Deixe eles falarem. Estou louvando o meu Deus”. Assim, inclinação religiosa à parte, desde àquela época já mostrava, em campo, 'pulmão de aço' típico de volante que grudava no organizador de jogadas da equipe adversária, com méritos no desarme e simplificação através de passes curtos àqueles que estivessem mais próximo.
No entanto, como a coletividade bugrina havia se habituado a volantes técnicos como Flamarion Nunes Tomazolli e José Carlos Bernardes - ambos falecidos -, Mauro Silva Gomes, natural de São Bernardo do Campo (SP), estava aquém do esperado e, por isso, foi pouco aproveitado na equipe principal durante o período de cinco anos de Guarani, desde às categorias de base em 1986, quando o seu passe foi negociado com o Bragantino pela 'bagatela,' à época, de cem mil cruzeiros, moeda corrente.
Na mudança de clube, o seu treinador Vanderlei Luxemburgo se dispôs ao trabalho para adicionar virtudes, e assim o transformou em condutor de bola e ousadia para passes mais logos, conforme a exigência a um discípulo obediente. Aquilo chamou atenção do então treinador da Seleção Brasileira à época, Paulo Roberto Falcão, que tratou de convocá-los experimentalmente para alguns jogos.
Ao se transferir para o La Coruña da Espanha, em 1992, contingências da carreira de atleta o beneficiaram, pois Carlos Alberto Parreira, que fora seu treinador em Bragança Paulista, havia substituído Falcão no selecionado, e apostou no seu futebol para a Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, que culminou com a conquista do pentacampeonato.
Mauro Silva, que em janeiro passado completou 56 anos de idade, foi atleta no La Coruña até 2005, tido como um dos mais recomendáveis que passaram por lá, migrando, à seguir, à função de coordenador de futebol na CBF. E ao assimilar as coisas do meio, chegou à FPF.