O estilo do saudoso treinador Luís Carlos
Nunes da Silva, o Carlinhos, falecido dia 22 de junho passado, nada tinha a ver
com a atual treinadorzada que esgoela a beira de gramados para transmitir
instruções aos jogadores de suas respectivas equipes. A voz mansa e fina de
Carlinhos só era ouvida, do banco de reservas, quando o boleiro de seu time
aparecia para cobranças de laterais.
Na concepção de Carlinhos mais valia a
preparação do time no pré-jogo. Por isso trabalhava incessantemente a
valorização de posse de bola. Como? Nos treinos havia predominância do tipo
‘dois toques’. E para aproximar os jogadores ele priorizava apenas metade do gramado
nos trabalhos técnicos. Também sabia explorar pontos falhos de adversários aplicando
exaustivos ensaios de jogadas.
Carlinhos não se prendia basicamente a
conceitos táticos. Aprimorava tecnicamente seus jogadores de forma que o
desarme ocorresse sem praticar faltas. Em linhas gerais, orientava os seus
marcadores que o bom posicionamento possibilitava o tempo exato para
antecipação nas jogadas em vez de marcação implacável. E, de posse bola, cobrava
que o passe feito corretamente.
Isso ele fazia com extrema categoria nos
tempos de jogador do Flamengo de 1958
a 1969, atuando como volante. E o estilo clássico, que
fazia o time jogar por música, rendeu-lhe o apelido de violino, 23 gols em 517
partidas, e o prêmio Belfort Duarte destinado a jogadores sem expulsão na
carreira.
Por isso nunca escondeu a mágoa ao ter sido relegado
pelo treinador Aimoré Moreira à Copa do Mundo de 1962 no Chile, quando o Brasil
conquistou o bicampeonato. Considerava-se melhor que o palmeirense Zequinha -
reserva de Zito - e por isso cobrava vaga entre os 22 relacionados naquela
competição. A única oportunidade na Seleção Brasileira foi em 1964 num amistoso
contra Portugal.
Dois anos depois, foi um dos destaques do time
flamenguista que perdeu o título do Campeonato Carioca na briguenta final
contra o Bangu, com time base formado por Franz; Murilo, Ditão, Jaime e Paulo
Henrique; Carlinhos e Nelsinho; Carlos Alberto, Almir Pernambuquinho, Silva e
Osvaldo II. O público pagante na época foi de 143.978 torcedores no Estádio do
Maracanã.
Após pendurar as chuteiras como atleta,
Carlinhos não deixou de freqüentar a sede da Gávea. Era viciado no baralho, com
preferência pelo buraco. Assim, bastava o Flamengo enroscar em competições para
que ele fosse chamado como técnico tampão. E isso se repetiu por cinco vezes a
partir de 1983, sempre tentando fazer o time jogar ao seu estilo: futebol
técnico e ofensivo.
Carlinhos ainda teve passagens como treinador
no Guarani e Remo, mas não conseguia se distanciar do Rio de Janeiro e degustar
o chopinho com amigos. Aos 77 anos de idade sofria complicações no sistema
circulatório e já havia perdido a memória.