domingo, 1 de março de 2015

Cabeção, um reserva de luxo

 A rivalidade entre clubes de futebol da capital paulista há cinco décadas resultava em episódios inacreditáveis. Vésperas de um jogo contra a Portuguesa, o ex-goleiro Cabeção, do Corinthians, foi afastado do time só porque levou a esposa a um médico de sua confiança, que, por capricho, era torcedor luso.
 Suspeitaram que ele entregaria aquele jogo, e aquilo o irritou profundamente. “Nunca mais vestirei essa camisa (a do Corinthians)”, prometeu e cumpriu enquanto atleta, pois voltou ao Parque São Jorge como treinador das categorias de base e foi até interino da equipe principal, além de continuar sócio remido do clube aos 84 anos de idade.
 Luís de Moraes, o Cabeção, foi revelado nos aspirantes do Corinthians em 1949 e sua carreira se estendeu até 1966, com passagens por Bangu (RJ), Portuguesa e Comercial de Ribeirão Preto (SP). Sua principal virtude foi a boa colocação.
 Ele participou da Seleção Brasileira na Copa do Mundo da Suíça em 1954, ocasião em que o selecionado foi atropelado pela Hungria do atacante Puskas por 4 a 2, e eliminado. Eis o time brasileiro: Castilho; Djalma Santos e Nilton Santos; Brandãozinho, Pinheiro e Bauer; Julinho, Didi, Baltazar, Pinga e Rodrigues. O técnico Zezé Moreira (falecido) havia convocado três goleiros: Castilho - o titular -, Cabeção e Veludo.
 Para espanto geral, a favorita Hungria perdeu aquela final para a Alemanha por 3 a 2, de virada. Após marcarem dois gols em oito minutos, os húngaros foram surpreendidos.
 Para compensar a frustração da perda daquela Copa, Cabeção comemorou, naquele ano, o título do ‘IV Centenário’ da cidade de São Paulo pelo Corinthians, num time que tinha um ataque infernal: Cláudio (gerente), Luizinho (pequeno polegar), Baltazar (cabecinha de ouro), e Carbone (cavador). Na sequência foi reserva de Gilmar no Timão.
 Cabeção usava acolchoados protetores na lateral do calção, na região peitoral para amortecer o impacto da bola, e nos cotovelos. A joelheira era obrigatória, mas as luvas dispensáveis. O primeiro goleiro a usar luvas foi o argentino Carrizo, na década de 40.
 Cabeção tinha o hábito de cuspir nas mãos para umedecê-las e, assim, facilitar o contato com a bola. Gostava de fazer ‘ponte’ em bola cruzada e usava as tradicionais camisas pretas ou cinzas de mangas compridas, típicas de atletas da posição. Foi o então goleiro Raul Plasmmann quem inovou camisas coloridas ao vestir uma camisa amarela no time do Cruzeiro, na década de 60. 

 Com a transferência de Gilmar para o Santos em 1962, Cabeção reassumiu a posição no Corinthians com a tradicional regularidade. Ele foi um goleiro de estatura média, natural para época que se admitia goleiro de baixa estatura como o argentino José Poy do São Paulo, com 1,72m de altura. Isso contrasta com os goleiros grandalhões de hoje. 

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