segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Alzheimer castigou Gilberto Tim até a morte

 O Mal de Alzheimer aplicou dribles desconcertantes em gente importante do futebol. No dia 13 de junho de 1999 morreu em Porto Alegre, capital gaúcha, o polêmico preparador físico Gilberto Tim, aos 57 anos de idade. Nos últimos três anos de vida ele foi castigado por esta doença degenerativa em que o paciente perde a memória.
 Na adolescência, Tim foi um lateral-esquerdo vigoroso. Abusava dos carrinhos e jogadas divididas com as camisas de São José e Rener, equipes do interior do Rio Grande do Sul. Ao perceber que não prosperaria na carreira, optou pelo comando de preparação física. E trocou de atividade convicto que não seria apenas mais um profissional do meio. Implantou metodologia de força e começou a formar, no Sul do país, os chamados ‘brucutus’.
 Aquela filosofia lhe rendeu sucesso. Além de exercícios para condicionar atletas à velocidade e agilidade, usava aparelhos para fortalecimento muscular. Quando os levava ao gramado gostava de repetir piques de 200m e 400m. Assim, projetava um grupo com boa resistência orgânica para fazer o vaivém tão cobrado pelos treinadores.
 Tim era estudioso e se esmerava na filosofia de resistência muscular, metodologia que não era de agrado geral dos atletas. Aqueles avessos ao trabalho duro sempre reclamavam, mas Tim - comandante autoritário -, não tolerava ‘vagabundagem’. Cutucava os preguiçosos.
 O trabalho de preparação física refletia diretamente durante os jogos. Rubens Minelli, treinador do Inter (RS) na década de 70, usufruiu do bom condicionamento atlético dos jogadores. E aquele modelo de Tim foi copiado por discípulos e levado em 1982 à Seleção Brasileira que disputou a Copa do Mundo da Espanha, quando fez dobradinha com o saudoso treinador Telê Santana. Na ocasião, ambos comandaram um dos melhores elencos do selecionado brasileiro que, por capricho do futebol, acabou eliminado daquela competição na fatídica partida contra a Itália, em tarde do endiabrado atacante Paolo Rossi.
 Mauro, ex-ponteiro-esquerdo de Palmeiras e Corinthians, aprendeu a admirar a sinceridade de Tim. “Ele sabia se impor. Claro que nem todos aceitavam os seus métodos. O volante Lino, que tinha problemas no joelho, atritava com ele por sentir a carga de trabalho”, recordou o ex-jogador, hoje olheiro do Corinthians.
 Outras correntes da preparação física também divergiram da metodologia de Tim, mas é inegável que ele observava critérios essencialmente científicos. O atleta se submetia a testes fisiológicos e em esteiras para se apurar biotipo, carências e virtudes. A partir do diagnóstico, elaborava-se preparação adequada para cada um.
 Ambicioso, Tim sonhava se transformar em treinador de futebol. A chance surgiu em 1988 no Coritiba, mas fracassou. Aí voltou à sua praia, a preparação física.


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