Com o Santos atolado mais uma
vez em dívidas, a diretoria do clube não tem outro caminho a recorrer se não
garimpar nas categorias de base em busca de moleques bons de bola, como
historicamente tem ocorrido. Ainda há confiança neste projeto apesar da redução
de investimentos no setor. De setembro de 2013 a maio do ano passado
foram cortados 101 atletas, e isso representou economia de R$ 112 mil apenas em
alimentação.
Se em 2014 o Santos extraiu da base atletas
como Gabriel e Geuvânio, no final da primeira década do século explodiam na
Vila Belmiro garotos como Neymar, Paulo Henrique Ganso, André e Wesley. E, não
fugindo da tradição de revelar talentos, em 2002 o Santos mostrou ao país
jogadores da qualidade do meia Diego e atacante Robinho.
Evidente que quantitativamente nada se compara
ao ano de 1978, quando o Santos revelou talentos corretamente denominados
‘Meninos da Vila’ pelo treinador da época, o saudoso Chico Formiga. Sem
recursos para investimentos, o então supervisor Zito ordenou que se recorresse
à molecada, e aquela aposta resultou na conquista do título paulista da
temporada.
O ‘pelezinho’ daquela safra foi Juary Jorge
dos Santos Filho, nascido no interior do Estado do Rio de Janeiro em junho de
1959, que ainda entre os juvenis santistas mostrava indícios que brilharia na
Vila. Tanto brilhou que inventou forma singular de comemorar gols: dança em
volta da bandeira de escanteio, gesto repetido por Neymar ao atingir a marca de
101 gols com a camisa santista, número cravado por Juary ao se desligar do
Santos para jogar na Itália em 1982. Depois ele ainda foi campeão do mundo em
Portugal pelo Porto, em 1987.
Extremamente habilidoso e com faro de gols, Juary
foi o diferencial daquele time santista de 78 formado por Flávio; Nelsinho
Baptista, Joãozinho, Neto e Gilberto Sorriso; Zé Carlos, Toninho Vieira e Pita;
Nilton Batata, Juary e João Paulo. E o grupo contava com reservas como o
goleiro Vitor, Antonio Carlos, Célio, Ailton Lira, Claudinho, Rubens Feijão e
até o volante Clodoaldo, que perdeu a posição após contusão. Ressalta-se que o
zagueiro Antonio Carlos morreu em agosto de 2012 aos 61 anos de idade.
Quando da aparição na equipe principal do
Santos, em 1977, Juary revelou à revista Placar
que se condicionava para fugir de cerradas marcações, ficar menos nervoso
dentro da área, chutar melhor com a perna esquerda e cabecear um pouquinho
melhor. Afinal, não se pode cobrar aproveitamento no jogo aéreo para quem tem
estatura de 1,68m como ele.
Naquela entrevista, Juary ainda confidenciou o
desejo de se formar advogado, e justificou que era por revolta e justiça. “Não
conseguia esquecer que um tio meu foi morto dentro de casa, furado por bala de
policiais que caçavam marginais. Minha mãe disse que ele não era um deles, mas
ninguém foi punido pela morte”.
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