O músico, compositor, intérprete e sobretudo
pensador Cazuza deixou esta frase para reflexão: ‘A vida é bela e cruel
despida. Tão desprevenida e exata que um dia acaba’. Embora a morte seja um
processo natural da vida, é inaceitável até para aqueles que sucumbem em
decorrência da progressão da enfermidade.
Morreu na madrugada deste dia 25 de janeiro o
ex-goleiro Hélio Miguel, conhecido nacionalmente nos meios esportivos como
Neneca, vítima de um câncer sanguíneo incurável que afeta a medula óssea e rins.
Internado no Hospital do Câncer de Londrina, sua cidade natal, era submetido a
sessões de quimioterapia e medidas paliativas da medicina para amenizar dor e
desconforto. Sabia-se, todavia, que nada impediria o avanço da doença até o
ponto sem retorno à normalidade.
Diante do quadro irreversível, de certo o
próprio Neneca interpelou ao Deus misericordioso que o conduzisse à morte.
Assim, restou-lhe uma história rica e impagável como atleta. Ele será
eternamente lembrado pelo torcedor bugrino por ter participado do time do
Guarani campeão do Campeonato Brasileiro de 1978. Trazido a Campinas pelo então
treinador Diede Lameiro em 1976, só deixou o clube em 1980 ao se transferir
para o Operário (MS).
No Guarani atravessou a melhor fase da
carreira. Em razão da compleição física avantajada, 1,82m de altura, pautava
por arrojada saída da meta nas bolas alçadas contra a sua área. Raramente era
traído por bolas defensáveis e, como se recomenda a todo bom goleiro, em quase
todas as partidas ainda pegava uma ou duas bolas tidas como impossíveis.
Não bastasse tudo isso ainda era um líder
dentro e fora de campo. No gramado comandava aos gritos, se necessário, o
quarteto defensivo. Nos bastidores tinha sabedoria para apagar ‘focos de
incêndio’ no grupo. Dialogava de forma transparente com membros da comissão
técnica, e era um dos interlocutores dos boleiros com cartolas para quaisquer reivindicações.
A regularidade na meta do Guarani resultou em
778 minutos sem sofrer gols no ano do título nacional, marca que supera os
tempos de América Mineiro quando ficou 537 minutos sem que fosse vazado. Neste
quesito, nada se compara à passagem no Náutico no biênio 1974-75, quando não tomou
gol durante 1.636 minutos.
Curioso é que a intenção de Neneca era jogar
no ataque em times da molecadinha do Paraná. Como se aventurava como goleiro
nas decisões por pênaltis, percebeu que tinha aptidão ali e ficou.
Com propensão para engordar, a carreira entrou
em declínio ao deixar o Guarani. Ainda perambulou por Operário (MS), Bragantino
e o encerramento ocorreu no Votuporanguense em 1989. Depois disso participou de
escolinhas de futebol.