segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Mauro Cabeção, boleiro da noite

 Pouca gente lembrou que no dia seis de agosto foi registrado o décimo ano na morte do polêmico lateral-direito Mauro Cabeção, revelado pelo Guarani, e que deu continuidade à carreira no Grêmio, Cruzeiro, Santos e Portuguesa. E a história se prolongou em três ocasiões na Seleção Brasileira na década de 70, paralelamente a passagem pelo selecionado olímpico que disputou os jogos em Montreal, no Canadá, em 1976.
 Mauro Campos Júnior morreu aos 48 anos de idade vítima de seis disparos de revólver e, segundo versão do delegado de polícia de Nova Odessa (SP) da época, Antonio Donizete Braga, o então atleta foi vítima de crime passional e encomendado, com relato de triângulo amoroso envolvendo sua companheira e uma outra mulher.
 O pintor Felipe Delgado, que havia escondido o rosto com capuz, teria aceitado oferta de R$ 4 mil para a execução de Mauro Cabeção em um bar na periferia de Nova Odessa, com promessa de adicional de R$ 100 por cada disparo.
 Após a polícia desvendar o assassinato qualificado, a Justiça do município condenou o pintor a 13 anos de prisão em 2007. A companheira de Mauro, acusada de ser mandante do crime, ficou presa por um período.
 Quem foi o Mauro jogador? Paradoxalmente um dos raros boleiros da noite a sobreviver no futebol. Bebia, fumava e se divertia com a mulherada em boates, e de uma delas contraiu doença venérea. Apesar de noites mal dormidas tinha disposição para o trabalho. Era um marcador qualificado e, de vez em quando, abusava de botinadas em hábeis ponteiros-esquerdos.
 O vigor físico permitia-lhe que também atacasse, mas de forma consciente. Nas raras vezes que chegava ao fundo de campo, o cruzamento saía com efeito e encontrava o atacante de frente para o gol.
 Curiosamente não foi a vida desregrada que encurtou o seu histórico no futebol. Insistia em jogar apesar de contusão crônica no joelho. No final de uma carreira de pouco mais de dez anos já não fazia o vaivém constante, e por isso optou pela fixação no miolo de zaga. Ali deu conta do recado, a exemplo dos laterais Carlos Alberto Torres, Leandro e Djalma Santos. Na época, exigia-se de laterais boa impulsão para coberturas no meio da área.
 Fora de campo, Mauro era só alegria. Bem que tentou evitar o apelido de cabeção, mas com aquela imensa cabeça seria impossível sustentar tal briga. Também travou uma luta titânica para conseguir aposentadoria e vivia de míseros salários do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), até arrumarem-lhe um emprego de porteiro no ginásio de esportes do Guarani. De lá foi transferido para uma escolinha de futebol mantida pelo clube, e ensinava a molecada carente como se bate na bola.

 À noite, como ninguém é de ferro, encostava-se em balcão de bar e não fazia distinção de bebidas, desde que fossem alcoólicas. Assim foi tocando a vida até a morte.

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