Pouca gente lembrou que no dia seis de agosto
foi registrado o décimo ano na morte do polêmico lateral-direito Mauro Cabeção,
revelado pelo Guarani, e que deu continuidade à carreira no Grêmio, Cruzeiro,
Santos e Portuguesa. E a história se prolongou em três ocasiões na Seleção
Brasileira na década de 70, paralelamente a passagem pelo selecionado olímpico
que disputou os jogos em Montreal, no Canadá, em 1976.
Mauro Campos Júnior morreu aos 48 anos de
idade vítima de seis disparos de revólver e, segundo versão do delegado de
polícia de Nova Odessa (SP) da época, Antonio Donizete Braga, o então atleta
foi vítima de crime passional e encomendado, com relato de triângulo amoroso
envolvendo sua companheira e uma outra mulher.
O pintor Felipe Delgado, que havia escondido o
rosto com capuz, teria aceitado oferta de R$ 4 mil para a execução de Mauro
Cabeção em um bar na periferia de Nova Odessa, com promessa de adicional de R$
100 por cada disparo.
Após a polícia desvendar o assassinato
qualificado, a Justiça do município condenou o pintor a 13 anos de prisão em 2007. A companheira de
Mauro, acusada de ser mandante do crime, ficou presa por um período.
Quem foi o Mauro jogador? Paradoxalmente um
dos raros boleiros da noite a sobreviver no futebol. Bebia, fumava e se
divertia com a mulherada em boates, e de uma delas contraiu doença venérea.
Apesar de noites mal dormidas tinha disposição para o trabalho. Era um marcador
qualificado e, de vez em quando, abusava de botinadas em hábeis
ponteiros-esquerdos.
O vigor físico permitia-lhe que também
atacasse, mas de forma consciente. Nas raras vezes que chegava ao fundo de
campo, o cruzamento saía com efeito e encontrava o atacante de frente para o
gol.
Curiosamente não foi a vida desregrada que
encurtou o seu histórico no futebol. Insistia em jogar apesar de contusão
crônica no joelho. No final de uma carreira de pouco mais de dez anos já não
fazia o vaivém constante, e por isso optou pela fixação no miolo de zaga. Ali
deu conta do recado, a exemplo dos laterais Carlos Alberto Torres, Leandro e
Djalma Santos. Na época, exigia-se de laterais boa impulsão para coberturas no
meio da área.
Fora de campo, Mauro era só alegria. Bem que
tentou evitar o apelido de cabeção, mas com aquela imensa cabeça seria
impossível sustentar tal briga. Também travou uma luta titânica para conseguir
aposentadoria e vivia de míseros salários do INSS (Instituto Nacional do Seguro
Social), até arrumarem-lhe um emprego de porteiro no ginásio de esportes do
Guarani. De lá foi transferido para uma escolinha de futebol mantida pelo
clube, e ensinava a molecada carente como se bate na bola.
À noite, como ninguém é de ferro, encostava-se
em balcão de bar e não fazia distinção de bebidas, desde que fossem alcoólicas.
Assim foi tocando a vida até a morte.
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