segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Palmeiras vendeu Chinesinho e enriqueceu patrimônio

 Na comemoração do centenário do Palmeiras ídolos imortais são lembrados a todo instante, principalmente o meia Ademir da Guia, considerado o melhor jogador de todos os tempos que passaram pelo clube. Da Guia completou 72 anos de idade em abril passado, continua  ‘batendo’ a sua bolinha, e avisa que vai levar a botinha para o túmulo.
 Também deveria ser lembrado frequentemente o antecessor de Da Guia, que foi o meia Chinesinho, falecido em abril de 2011 aos 76 anos de idade. Ele foi um baixinho de caixa torácica avantajada, tinha excelente visão de jogo, contundência nos arremates e estilo semelhante ao do ex-meia Zenon, que passou por Guarani, Corinthians e Atlético (MG).
 Quem não o conheceu jamais imagina o retorno financeiro que propiciou ao Palmeiras com a venda do passe ao Modena da Itália. Maior parte do dinheiro foi aplicada na construção do Jardim Suspenso em meados da década de 60. O Estádio Palestra Itália foi ampliado e o recorde de público foi registrado por ocasião da conquista do título paulista em 1976, na vitória por 1 a 0 sobre o XV de Piracicaba, com 35.913 pagantes.
 Chinesinho, gaúcho registrado com o nome de Sidney Colônia Cunha, chegou ao Palmeiras em 1958 em companhia do goleiro Valdir de Moraes e o meia Ênio Andrade. Eles ajudaram a sedimentar a estrutura da equipe para o Campeonato Paulista de 1959, com a quebra de jejum de títulos de nove anos.
 Na época foram realizados três jogos decisivos contra o então invicto Santos, após ambos empatarem na pontuação em dois turnos de pontos corridos. Nos dois primeiros jogos ocorreram empates por 1 a 1 e 2 a 2. Na terceira partida, o Santos vencia com gol de Pelé, mas o Palmeiras virou através de Julinho Botelho e Romero. Eis os campeões: Valdir; Djalma Santos, Waldemar Carabina, Aldemar e Geraldo Scotto; Zequinha e Chinesinho; Julinho Botelho, Nardo, Américo e Romero.
 Chinesinho teve passagem pela Seleção Brasileira de 1956 a 1961, e lá jogou 20 vezes. Com isso encantou o jornalista-empresário italiano Geraldo Sanela que o levou ao Modena em 1962, com conseqüente repasse ao Catânia. Em 1965 ele foi contratado pela Juventus de Turim. Os últimos cinco anos de Itália foram no Lanerossi de Vicenzo, quando serviu de inspiração para o ainda menino Roberto Baggio, que o acompanhou até o término da carreira em 1973, aos 38 anos de idade.
 Incontinenti, Chinesinho foi lançado na carreira de treinador e fracassou na experiência no próprio Lanerossi, com a queda da equipe à Série B daquela competição nacional. Ele não dimensionou a falta de vocação para exercer a função.
 Antes de adoecer, Chiquinho freqüentava regularmente o Bar do Elias, nas imediações do Estádio Palestra Itália, ainda reduto de ex-jogadores palmeirenses que cultivam amizades. Lá ele apreciava goladas de chope.


segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Cinco anos sem o zagueiro Pinheirense

 Nos anos 60 a Ferroviária de Araraquara (SP) ficou conhecida como produtora de jogadores qualificados, e o São Paulo se apressava em buscá-los para reabastecer o seu elenco. Foi assim com a dupla de ataque Maritaca e Téia e os ponteiros-direitos Peixinho e Faustino, para não se alongar nos exemplos. Nos anos 80 essa mesma ‘Ferrinha’ foi propagada nacionalmente porque contava com um dos jogadores mais violentos do futebol brasileiro: Antenor José Cardoso ou simplesmente Pinheirense, que morreu no dia 21 de agosto em Recife (PE) de 2009.
 Pinheirense completaria 54 anos de idade em novembro daquele ano, era natural do Maranhão, e a sua aparição deu-se no Náutico no final dos anos 70. A fama de homem mau se consolidou na Ferroviária, nos anos 80, quando impiedosamente ‘abria a caixa de ferramenta’, diziam antigos locutores esportivos. Na maioria das vezes acertava meio gomo da bola e metade do pé do adversário. Logo, foi recordista de expulsões e, apesar disso, ainda arrumou emprego em clubes do interior de São Paulo, Londrina (PR) e Coritiba.
 Quis o destino que Pinheirense vivesse os últimos anos em uma cadeira de roda. Ficou paraplégico ao ser alvejado com um tiro nas costas em 2000, disparado pelo marido de uma ex-namorada, na capital paulista.
 Alguns treinadores do passado foram responsabilizados por violência de seus jogadores. Mandavam bater da medalhinha pra cima, ou a referência de ‘bola ou bolim’, em que passava a bola e não passava o adversário.
 O falecido zagueiro Moisés - que jogou no Bangu e Corinthians - tinha fama de xerife, mas raramente foi expulso. Ele confessou que jogava duro, porém sem deslealdade. “Quase ganho o Belfort Duarte”, brincou certa ocasião, numa referência ao prêmio instituído pelo Conselho Nacional de Desportos em 1945, entregue a atleta que passava dez anos sem ser expulso de campo.
 Márcio Rossini - ex-Marília (SP), Santos, Bangu e Flamengo - jogava duro e muitas vezes recebeu o cartão vermelho. Foi o típico zagueiro temido por atacantes adversários, embora não se valesse só da truculência para se impor. Era bom marcador, tanto que jogou em grandes clubes e foi campeão paulista no Santos em 1984, quando formava dupla de zaga com Toninho Carlos.
 Na época, parte dos zagueiros extrapolava em jogadas mais duras quando seus times eram mandantes de jogos. Pressionada, a ‘juizada’ pipocava no momento da expulsão, porque não tinha segurança nos estádios e temia por agressões.

 Agora, quem abusa do antijogo na maioria das vezes recebe o cartão vermelho até mesmo no primeiro tempo. E o ex-árbitro Almir Ricci Peixoto Laguna ficou marcado num dérbi campineiro - Ponte e Guarani - há 31 anos, ao expulsar o lateral-direito pontepretano Édson Abobrão aos 40 segundos, após entrada violenta sobre o meia Neto.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Mauro Cabeção, boleiro da noite

 Pouca gente lembrou que no dia seis de agosto foi registrado o décimo ano na morte do polêmico lateral-direito Mauro Cabeção, revelado pelo Guarani, e que deu continuidade à carreira no Grêmio, Cruzeiro, Santos e Portuguesa. E a história se prolongou em três ocasiões na Seleção Brasileira na década de 70, paralelamente a passagem pelo selecionado olímpico que disputou os jogos em Montreal, no Canadá, em 1976.
 Mauro Campos Júnior morreu aos 48 anos de idade vítima de seis disparos de revólver e, segundo versão do delegado de polícia de Nova Odessa (SP) da época, Antonio Donizete Braga, o então atleta foi vítima de crime passional e encomendado, com relato de triângulo amoroso envolvendo sua companheira e uma outra mulher.
 O pintor Felipe Delgado, que havia escondido o rosto com capuz, teria aceitado oferta de R$ 4 mil para a execução de Mauro Cabeção em um bar na periferia de Nova Odessa, com promessa de adicional de R$ 100 por cada disparo.
 Após a polícia desvendar o assassinato qualificado, a Justiça do município condenou o pintor a 13 anos de prisão em 2007. A companheira de Mauro, acusada de ser mandante do crime, ficou presa por um período.
 Quem foi o Mauro jogador? Paradoxalmente um dos raros boleiros da noite a sobreviver no futebol. Bebia, fumava e se divertia com a mulherada em boates, e de uma delas contraiu doença venérea. Apesar de noites mal dormidas tinha disposição para o trabalho. Era um marcador qualificado e, de vez em quando, abusava de botinadas em hábeis ponteiros-esquerdos.
 O vigor físico permitia-lhe que também atacasse, mas de forma consciente. Nas raras vezes que chegava ao fundo de campo, o cruzamento saía com efeito e encontrava o atacante de frente para o gol.
 Curiosamente não foi a vida desregrada que encurtou o seu histórico no futebol. Insistia em jogar apesar de contusão crônica no joelho. No final de uma carreira de pouco mais de dez anos já não fazia o vaivém constante, e por isso optou pela fixação no miolo de zaga. Ali deu conta do recado, a exemplo dos laterais Carlos Alberto Torres, Leandro e Djalma Santos. Na época, exigia-se de laterais boa impulsão para coberturas no meio da área.
 Fora de campo, Mauro era só alegria. Bem que tentou evitar o apelido de cabeção, mas com aquela imensa cabeça seria impossível sustentar tal briga. Também travou uma luta titânica para conseguir aposentadoria e vivia de míseros salários do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), até arrumarem-lhe um emprego de porteiro no ginásio de esportes do Guarani. De lá foi transferido para uma escolinha de futebol mantida pelo clube, e ensinava a molecada carente como se bate na bola.

 À noite, como ninguém é de ferro, encostava-se em balcão de bar e não fazia distinção de bebidas, desde que fossem alcoólicas. Assim foi tocando a vida até a morte.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Tupãzinho, o talismã do Corinthians

 Por questão protocolar, o eterno ídolo corintiano Tupãzinho recebe tratamento formal apenas na Câmara Municipal de Tupã, interior de São Paulo. Quando citado por quaisquer dos parlamentares, a referência é nobre vereador Pedro, ou então o nome completo: Pedro Francisco Garcia.
 A popularidade advinda do futebol garantiu-lhe uma cadeira no legislativo de Tupã com 908 votos na eleição municipal de 2012 pela sigla PSBC (Partido Social Democrata Cristão), com subsídio mensal atualizado de $ 2.408,85. Logo, a renda é completada no trabalho como olheiro e revelador de jovens atletas de futebol, assim como atividades comerciais. Ele já foi criador de gado e fabricante de fraldas em Campo Grande (MS).
 Tupãzinho jamais será esquecido por ter marcado o gol que deu o primeiro título brasileiro ao Corinthians no dia 16 de dezembro de 1990, na vitória sobre o São Paulo por 1 a 0. Foi gol de carrinho aos oito minutos do segundo tempo, quando ‘voou’ em direção à bola como ‘voam’ zagueiros para interceptar avanços de adversários. Com isso fez a fiel torcida estremecer o Estádio do Morumbi, que naquela ocasião registrou público de 100.858 pagantes. Foi um prêmio para quem jogou 24 partidas e ficou de fora apenas contra o Náutico.
 Daquele time corintiano comandado pelo treinador Nelsinho Baptista, o lateral-direito Giba já faleceu. Eis a equipe: Ronaldo; Giba, Marcelo, Guinei e Jacenir; Márcio, Wilson Mano, Neto e Mauro; Tupãzinho e Fabinho. Já o São Paulo, do saudoso técnico Telê Santana, teve Zetti; Cafu, Antonio Carlos, Ivan e Leonardo; Flávio, Bernardo e Raí; Mário Tilico, Eliel e Elivelton (já falecido).
 Ano passado Tupãzinho foi homenageado pelos dirigentes corintianos com a imagem do lance de carrinho no muro do Centro de Treinamento Joaquim Grava, dividindo espaço com Ronaldo, Sócrates, Basílio, Viola e Neto.
 Apesar da estatura de 1,69m de altura, ele repartia bola com zagueiros de caixa torácica avantajada. Seu forte, todavia, era a velocidade e bom balanço para infernizar marcadores. Fazia isso desde a infância em Tupã e depois no São Bento, despertando interesse do Corinthians para contratá-lo - juntamente com o zagueiro Guinei - dia 27 de janeiro de 1990.
 Durante seis anos consecutivos Tupãzinho jogou no Corinthians, a maior parte como reserva que entrava no segundo tempo para decidir partidas. Por isso foi tido como jogador ‘talismã da fiel’, amuleto dos treinadores do clube, nos tempos em que ele usava cabelo caído nas costas, copiando os sertanejos Chitãozinho e Xororó.

 Após se desligar do Timão no amistoso de 28 de junho de 1996, na goleada por 4 a 0 sobre o Operário de Campo Grande (MS), ele foi para o Fluminense. Depois passou por América (MG), XV de Piracicaba, Matonense, Itumbiara, Rondonópolis e Jaboticabal em 2002, na Série A3 do Paulista.