segunda-feira, 9 de junho de 2014

Joel Camargo, da bola às docas

  Há dez anos a coluna homenageou o quarto-zagueiro Joel Camargo, que participou dos tempos áureos de Santos, Seleção Brasileira, CRB de Alagoas e extinto Saad, de São Caetano do Sul (SP).  Na ocasião, ele trabalhou como estivador nas docas de Santos, para que o salário se juntasse ao da aposentadoria. Nem por isso se constrangia: “É um trabalho honesto e o pessoal lá me respeitava”.
 Joel Camargo morreu no dia 23 de maio em São Paulo aos 67 anos de idade, e deixou uma história de cinco títulos paulistas pelo Santos, porém perda de dinheiro nos investimentos em casas lotéricas. Assim, em dificuldade financeira, vendeu até a medalha de tricampeão mundial em 1970, quando foi relegado pelo treinador Mário Jorge Lobo Zagallo, que preferiu improvisar o volante Wilson Piazza na posição.
 A história de Joel Camargo foi insólita na Seleção Brasileira. Em 1969, durante as Eliminatórias à Copa do Mundo do México, foi titular do selecionado porque o treinador João Saldanha o considerava o melhor quarto-zagueiro do mundo. Paradoxalmente, naquele período ele ficava na reserva do time santista e Saldanha reprovava a postura do treinador Antoninho.
 A rigor, Saldanha chegou à Seleção Brasileira após efêmera passagem pelo time do Botafogo (RJ) em 1957. Ele era um jornalista respeitadíssimo pelo profundo conhecimento sobre futebol. Quer no rádio, quer no jornal, usava linguagem direta e criava frases imortalizadas: “Se macumba ganhasse jogo, o Campeonato Baiano terminaria empatado”. Outra pérola: “Se concentração ganhasse jogo, o time da penitenciária seria campeão”.
 Saldanha morreu no dia 12 de julho de 1990, na Itália, após a participação do Brasil naquela Copa do Mundo. Em 1970, o desligamento dele da Seleção Brasileira era iminente após se irritar com intromissão do presidente da República Emílio Médici em seu trabalho, sugerindo a convocação do atacante Dario. “Quem escala a Seleção sou eu; ele escala o seu ministério”, foi a resposta.
 Antes disso Saldanha havia invadido a concentração do Flamengo de forma intempestiva, com revólver em punho, a procura do técnico Yustrick, que o havia criticado duramente, mas não o localizou.

 Com a saída dele da Seleção e a chegada de Zagallo, Joel perdeu espaço. Apesar disso, manteve o estilo de jogar de braços abertos e desarmar a maioria das jogadas antecipando-se ao adversário. Curiosamente, na Seleção Brasileira ele fazia dupla de zaga com o também jogador santista Djalma Dias, que paradoxalmente o deixou na reserva no âmbito clubístico. Antes disso o Santos tinha esta formação: Cláudio; Lima, Ramos Delgado, Joel Camargo e Rildo; Clodoaldo e Negreiros; Edu, Douglas, Pelé e Abel. Edu era ponteiro-esquerdo, mas em determinado período atuou pelo lado direito, permitindo a fixação de Abel, na esquerda.

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