Há dez anos a coluna homenageou o
quarto-zagueiro Joel Camargo, que participou dos tempos áureos de Santos,
Seleção Brasileira, CRB de Alagoas e extinto Saad, de São Caetano do Sul (SP). Na ocasião, ele trabalhou como estivador nas
docas de Santos, para que o salário se juntasse ao da aposentadoria. Nem por
isso se constrangia: “É um trabalho honesto e o pessoal lá me respeitava”.
Joel Camargo morreu no dia 23 de maio em São Paulo aos 67 anos de
idade, e deixou uma história de cinco títulos paulistas pelo Santos, porém
perda de dinheiro nos investimentos em casas lotéricas. Assim, em dificuldade
financeira, vendeu até a medalha de tricampeão mundial em 1970, quando foi relegado
pelo treinador Mário Jorge Lobo Zagallo, que preferiu improvisar o volante
Wilson Piazza na posição.
A história de Joel Camargo foi insólita na
Seleção Brasileira. Em 1969, durante as Eliminatórias à Copa do Mundo do
México, foi titular do selecionado porque o treinador João Saldanha o
considerava o melhor quarto-zagueiro do mundo. Paradoxalmente, naquele período
ele ficava na reserva do time santista e Saldanha reprovava a postura do treinador
Antoninho.
A rigor, Saldanha chegou à Seleção Brasileira
após efêmera passagem pelo time do Botafogo (RJ) em 1957. Ele era um jornalista
respeitadíssimo pelo profundo conhecimento sobre futebol. Quer no rádio, quer
no jornal, usava linguagem direta e criava frases imortalizadas: “Se macumba
ganhasse jogo, o Campeonato Baiano terminaria empatado”. Outra pérola: “Se
concentração ganhasse jogo, o time da penitenciária seria campeão”.
Saldanha morreu no dia 12 de julho de 1990, na
Itália, após a participação do Brasil naquela Copa do Mundo. Em 1970, o
desligamento dele da Seleção Brasileira era iminente após se irritar com
intromissão do presidente da República Emílio Médici em seu trabalho, sugerindo
a convocação do atacante Dario. “Quem escala a Seleção sou eu; ele escala o seu
ministério”, foi a resposta.
Antes disso Saldanha havia invadido a
concentração do Flamengo de forma intempestiva, com revólver em punho, a
procura do técnico Yustrick, que o havia criticado duramente, mas não o
localizou.
Com a saída dele da Seleção e a chegada de
Zagallo, Joel perdeu espaço. Apesar disso, manteve o estilo de jogar de braços
abertos e desarmar a maioria das jogadas antecipando-se ao adversário. Curiosamente,
na Seleção Brasileira ele fazia dupla de zaga com o também jogador santista
Djalma Dias, que paradoxalmente o deixou na reserva no âmbito clubístico. Antes
disso o Santos tinha esta formação: Cláudio; Lima, Ramos Delgado, Joel Camargo
e Rildo; Clodoaldo e Negreiros; Edu, Douglas, Pelé e Abel. Edu era
ponteiro-esquerdo, mas em determinado período atuou pelo lado direito,
permitindo a fixação de Abel, na esquerda.
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