A morte do treinador aposentado Mário
Travaglini neste 21 de fevereiro, aos 81 anos de idade, decorrente de um tumor
cerebral, nos remete à reflexão de como mudou radicalmente a atribuição do
comandante de time de futebol nas últimas três décadas. Naquela ocasião, a
competência do profissional se resumia a escalar corretamente os melhores
jogadores do elenco, trabalhar tecnicamente para melhorar a condição do atleta,
e passar instruções básicas de marcação e exploração de deficiências do time
adversário.
Tão importante quanto observações citadas,
exigia-se do treinador de outrora que fosse autêntico líder no grupo de
jogadores. Não precisava necessariamente ser disciplinador, até porque atletas
preferiam comandantes conciliadores de divergências internas e agregadores.
Inicialmente Travaglini copiou o estilo de treinador
bonachão, amigo dos jogadores. Com este perfil, ganhou confiança de boleiros e
a retribuição foi sintomática nos jogos. Foi assim no Palmeiras, Corinthians,
São Paulo, Fluminense e Vasco, clubes mais relevantes que dirigiu entre as
décadas de 60 e 80.
Para descomplicar, no começo incorporou ao
grupo o imortal bordão da bola em que ‘cada um pega o seu’, ou seja, o jogador
marcava o adversário indicado, um esquema absorvido de seu mestre Oswaldo
Brandão, de quem foi auxiliar no Palmeiras na década de 60. Foi lá que aprendeu
a fechar os olhos para eventuais atitudes inconvenientes de comandados, e assim
visava preservação do bom ambiente no grupo de atletas. Não descartem a
hipótese dele flagrado Brandão com garrafão de cachaça no ombro e oferecendo doses
até desproporcionais para boleiros.
E quando ficava vago o cargo de treinador no
Palmeiras, lá estava Travaglini para assumir interinamente a função, até ser
efetivado no período em que o clube foi conceituado como ‘academia de futebol’.
Assim, consta da biografia dele as conquistas do título paulista em 1966 e da Taça
do Brasil e Roberto Gomes Pedrosa em 1967, com direito a vaga na Libertadores.
Na trajetória de Travaglini consta passagem
pelo Rio de Janeiro, quando importou dos europeus conceituação tática não
habitual no futebol brasileiro da época. No Vasco, comemorou o título do
Campeonato Brasileiro de 1974; no Fluminense participou do título estadual dois
anos depois.
O bom relacionamento no futebol e retidão
serviram para colocá-lo como supervisor da comissão técnica do treinador
Cláudio Coutinho - já falecido - na Seleção Brasileira que disputou a Copa do
Mundo de 1978.