O discurso da maioria significativa da
treinadorzada de ‘fechar a casinha e jogar por uma bola’ remonta aos tempos.
Esta estratégia foi aplicada pela primeira vez em 1938 pelo treinador austríaco
Karl Rappan, quando dirigia o Grashoppers da Suíça.
Tal como agora, o time de Rappan já se
posicionava com duas linhas de quatro e por vezes uma linha de quatro, outra de
cinco, e apenas um atacante de velocidade para puxar o contra-ataque. A
filosofia de aglomerar quase todos os jogadores atrás da linha do meio de campo
foi batizada de ‘ferrolho suíço’, e aplicada pelo selecionado daquele país na
Copa do Mundo da França em 1938.
No Brasil, ninguém absorveu tão bem os
ensinamentos de Rappan como o piracicabano Milton Buzetto, quando dirigiu o
Juventus a partir de 1971, após encerramento da carreira de zagueiro rebatedor
no próprio clube. E a explicação pela ultra-retranca foi o pacto feito com os
jogadores para evitar derrotas. “Assim, todos nós seríamos valorizados. E deu
certo”, recorda o ex-treinador.
Em 1972, a retranca juventina era notícia em todo
país, e apostadores da loteria esportiva procuravam espantar a zebra com o
hábito de cravar triplo em jogos com envolvimento do clube. E uma das repetidas
atuações do time grená era de Miguel; Chiquinho, Carlos, Guassi e Osmar; Luís
Moraes e Brecha; Luís Antonio, Adnã, Sérgio e Antoninho. Ano seguinte, no mesmo estilo, o Juventus
continuou provocando zebras e fez boa campanha no Campeonato Paulista,
basicamente com os mesmos jogadores.
Em 1975 o presidente do Corinthians, Vicente
Matheus, contratou Milton Buzetto, mas o trabalho não trouxe resultado prático.
Melhor sorte o treinador teve nas passagens por Mixto de Cuiabá (MT) e Atlético
Paranaense ao conquistar títulos regionais. O treinador ainda passou por
Guarani, Comercial de Ribeirão Preto e Jabaquara, já sem aplicação de rigorosos
esquemas defensivos, e sem o destaque de outrora.
Curioso é que, como atleta, Milton Buzetto
iniciou a carreira num time de característica eminentemente ofensiva, caso do
Palmeiras, onde passou de 1956
a 1958. No ano seguinte, após rápida passagem pelo
Noroeste, foi contratado pelo Juventus e se revezava na zaga com Carlos e
Clóvis. No entanto não chegou ao clube em tempo de participar da memorável derrota
para o Santos por 4 a
2, ocasião em que Pelé
‘chapelou’ quatro jogadores adversários - inclusive o goleiro Mão-de-Onça - e
marcou o gol mais bonito de sua carreira.
O time juventino de 1966, treinado por Sylvio
Pirilo, contava com Picasso; Virgílio, Carlos, Milton (Clóvis) e Nenê; Sidnei e
Jair Francisco; Antoninho, Alencar, Bira e Valdir. Em 2001 Buzetto optou pela
aposentadoria, retornou a Piracicaba, e mora num sítio batizado de ‘Retranca’.
E foi lá que ele comemorou os 75 anos de idade no dia 14 de novembro.
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