segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Milton Buzetto, o rei das retrancas

 O discurso da maioria significativa da treinadorzada de ‘fechar a casinha e jogar por uma bola’ remonta aos tempos. Esta estratégia foi aplicada pela primeira vez em 1938 pelo treinador austríaco Karl Rappan, quando dirigia o Grashoppers da Suíça.
 Tal como agora, o time de Rappan já se posicionava com duas linhas de quatro e por vezes uma linha de quatro, outra de cinco, e apenas um atacante de velocidade para puxar o contra-ataque. A filosofia de aglomerar quase todos os jogadores atrás da linha do meio de campo foi batizada de ‘ferrolho suíço’, e aplicada pelo selecionado daquele país na Copa do Mundo da França em 1938.
 No Brasil, ninguém absorveu tão bem os ensinamentos de Rappan como o piracicabano Milton Buzetto, quando dirigiu o Juventus a partir de 1971, após encerramento da carreira de zagueiro rebatedor no próprio clube. E a explicação pela ultra-retranca foi o pacto feito com os jogadores para evitar derrotas. “Assim, todos nós seríamos valorizados. E deu certo”, recorda o ex-treinador.
 Em 1972, a retranca juventina era notícia em todo país, e apostadores da loteria esportiva procuravam espantar a zebra com o hábito de cravar triplo em jogos com envolvimento do clube. E uma das repetidas atuações do time grená era de Miguel; Chiquinho, Carlos, Guassi e Osmar; Luís Moraes e Brecha; Luís Antonio, Adnã, Sérgio e Antoninho.  Ano seguinte, no mesmo estilo, o Juventus continuou provocando zebras e fez boa campanha no Campeonato Paulista, basicamente com os mesmos jogadores.
 Em 1975 o presidente do Corinthians, Vicente Matheus, contratou Milton Buzetto, mas o trabalho não trouxe resultado prático. Melhor sorte o treinador teve nas passagens por Mixto de Cuiabá (MT) e Atlético Paranaense ao conquistar títulos regionais. O treinador ainda passou por Guarani, Comercial de Ribeirão Preto e Jabaquara, já sem aplicação de rigorosos esquemas defensivos, e sem o destaque de outrora.
 Curioso é que, como atleta, Milton Buzetto iniciou a carreira num time de característica eminentemente ofensiva, caso do Palmeiras, onde passou de 1956 a 1958. No ano seguinte, após rápida passagem pelo Noroeste, foi contratado pelo Juventus e se revezava na zaga com Carlos e Clóvis. No entanto não chegou ao clube em tempo de participar da memorável derrota para o Santos por 4 a 2, ocasião em que Pelé ‘chapelou’ quatro jogadores adversários - inclusive o goleiro Mão-de-Onça - e marcou o gol mais bonito de sua carreira.
 O time juventino de 1966, treinado por Sylvio Pirilo, contava com Picasso; Virgílio, Carlos, Milton (Clóvis) e Nenê; Sidnei e Jair Francisco; Antoninho, Alencar, Bira e Valdir. Em 2001 Buzetto optou pela aposentadoria, retornou a Piracicaba, e mora num sítio batizado de ‘Retranca’. E foi lá que ele comemorou os 75 anos de idade no dia 14 de novembro.



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