Silas, um evangélico no futebol
Numa coluna publicada em junho de 2006, dois
anos após o encerramento da vitoriosa carreira de atleta, quando Silas havia se
transformado num empresário de rede de pastelaria em Campinas (SP), pincei
trecho de entrevista em que ele revelou o seu lado espiritual: "Em
primeiro lugar sou cristão, em segundo lugar atleta. E ser um atleta de Cristo
é não ter vida dupla. É entender que pecado é sempre igual. Não tem essa de
pecadinho e pecadão".
Por que focar o treinador Silas? Porque ele
assume o comando do elenco da Ponte Preta, revivendo épocas em que campineiros
natos eram prestigiados pelo clube na função, casos de Cilinho, Zé Duarte,
Robertinho Moreno, Celsinho Teixeira e Pardal.
Silas, 47 anos de idade, ainda rotulado de
Atleta de Cristo, conhece os caminhos do Senhor desde que se entende por gente,
porque veio de berço evangélico. Por sorte pôde desenvolver sua habilidade nos
campinhos do bairro Vila Teixeira, em Campinas, onde morava na infância, porque
não era membro de denominação pentecostal, na época extremamente doutrinária. Proibia
o seu membro de jogar futebol, por julgar a prática um ato pecaminoso.
Silas foi levado às categorias de base do São
Paulo em meados da década de 80, e teve a sorte de trabalhar com o paciencioso
Cilinho (Otacílio Pires de Camargo), que lapidava jovens talentosos. Assim, integrou
um grupo renovado e competente de jogadores, como os atacantes Muller e Sidnei,
que se juntaram aos experientes Pita e Careca e Oscar, meia, atacante e zagueiro,
respectivamente.
Silas foi ponta-de-lança de respeito no São
Paulo. Fazia a bola girar, dava ritmo ao time, e chegava à área adversária para
completar jogadas. Não era goleador, mas pegava bem na bola de média distância.
Essas virtudes os levaram às Copas de 1986 no
México e 1990 na Itália, sempre como reserva. Na primeira convocação, registrou
o histórico de ter entrado em campo apenas aos 41 minutos do segundo tempo, na
partida contra a Costa Rica. Na segunda vez, entrou nas partidas contra Suécia,
Costa Rica e Argentina. O time base do Brasil, comandado por Sebastião
Lazaroni, foi de Taffarel; Ricardo Gomes, Mozer e Mauro Galvão; Jorginho,
Dunga, Alemão, Valdo e Branco; Müller e Careca.
Daquele grupo, Silas, Jorginho, Taffarel e Alemão eram atletas tidos
como ‘crentes’, alguns bem fervorosos, com bíblia embaixo do braço e
insistentes pregações na tentativa de converter o próximo.
Na época, Silas jogava no Sporting de Portugal,
e transferiu-se no ano seguinte para o Ceseno e depois Sampdoria da Itália. No
retorno ao Brasil, em 1992, passou por Inter (RS) e Vasco, antes de jogar no
argentino San Lorenzo. A última experiência no exterior foi no Kyoto Purple
Sanga, do Japão. Em 2000 esteve no Atlético Paranaense e depois no Rio Branco
de Americana (SP) e América de Minas.
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