segunda-feira, 21 de maio de 2012




Barbosa, 50 anos como ‘bode expiatório’





 Imaginem alguém que durante 50 anos teve que explicar como sofreu um gol de bola defensável em Copa do Mundo? Para Moacir Barbosa Nascimento, esse calvário começou no dia 16 de junho de 1950 e teve fim quando o seu corpo foi sepultado na cidade de Praia Grande, litoral sul de São Paulo, em 7 de abril de 2000. Lá ele vivia com uma filha adotiva.

 A final do Mundial de 1950 foi disputada no Estádio do Maracanã, com a superlotação de 200 mil pessoas entre pagantes e penetras. O Brasil precisava de um empate diante do Uruguai para ser campeão e ‘posou’ com a faixa quando Friaça abriu o placar. Só que os aguerridos uruguaios chegaram ao empate através de Juan Alberto Schiaffino e emudeceram o estádio com o gol da vitória anotado pelo ponteiro-direito Alcides Ghiggia.

 Aí, registro de lágrimas e perplexidade naquele momento. Um país inteiro custava a acreditar que a bola lançada nas costas do zagueiro Bigode fosse chegar aos pés de Ghiggia, que, sem ângulo, optou pelo chute direto quando o lógico seria o cruzamento. Assim também pensou Barbosa, traído naquela finalização, com a bola entrando entre ele e o poste esquerdo.

 Aquele 16 de junho de 1950 ficou conhecido como Maracanazo e Barbosa o ‘bode expiatório’, o homem que fez o Brasil chorar. Ele jamais poderia supor uma condenação eterna por causa daquela falha. Pior é que deixou de ser citado pela elasticidade, boa colocação e inventor da defesa de mão trocada.

 Historiadores citam que lhe deram a trave do gol em que estava naquela fatídica decisão, e que ele não titubeou em fazer fogueira delas na casa em que morava, na zona norte do Rio de Janeiro.

 Para os vascaínos, Barbosa foi considerado o melhor goleiro da história do clube. O pênalti defendido na cobrança do argentino Labruna, do River Plate, na final do Campeonato Sul-Americano de Clubes em 1948, ainda é lembrado. Aquele empate sem gol deu o título ao clube cruzmaltino que tinha, entre outros, Barbosa, Augusto, Rafanelli, Danilo, Jorge, Eli, Djalma, Maneco, Friaça, Lelé e Chico.

 A história de Barbosa esteve intrinsecamente ligada ao Vasco. Teve início em 1945 e se prolongou por dez anos, com 494 partidas, período em que o clube ficou conhecido como ‘Expresso da Vitória’.

 Em 1953 nova amargura. Sofreu fratura de tíbia e perônio num choque com o atacante Zezinho do Botafogo, mas teve determinação para jogar novamente e manteve-se no futebol até os 42 anos de idade, com passagem por Santa Cruz, novamente no Vasco, Bonsucesso e Campo Grande, nos tempos em que goleiro usava joelheira e cotoveleira, porque saltava sobre areia.

 Barbosa nasceu em Campinas no dia 27 de março de 1921 e tentou ser ponteiro-esquerdo do extinto Comercial da capital paulista, porém sem sucesso. Décadas passada chegou a ser funcionário do Suderje, no Estádio do Maracanã.

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