segunda-feira, 12 de abril de 2010

Maradona e a mão de Deus

A bola da vez no futebol mundial é o meia Messi, que desequilibra no time do Barcelona, e o conduz a passos largos rumo ao título do Campeonato Espanhol. Pela nacionalidade argentina, são inevitáveis as comparações com Diego Maradona, o maior astro do futebol daquele país de todos os tempos: ambos têm estatura mediana, são canhotos, dribladores e finalizadores.
O diferencial entre eles é que Maradona carregou seu selecionado nas costas na conquista da Copa do Mundo de 1986 no México, e Messi ainda deve atuações convincentes na seleção de seu país. Por isso há quem o compare ao ex-meia Zico como jogador que se sobressai em clubes. O ex-flamenguista conquistou tudo na Gávea, diferentemente da Seleção Brasileira.
Já que Messi será o centro das atenções na Copa do Mundo da África do Sul, convém lembrar que situação idêntica passou Maradona no México: esperança dos argentinos para a conquista do bicampeonato mundial. Paradoxalmente, a mão dele fez a diferença. Foi determinante para a vitória sobre a Inglaterra por 2 a 1, nas quartas-de-final. Maradona, 1.66m de altura, saltou e venceu o goleiro Peter Shilton, 1,85m de altura. O juizão achou que ele tocou de cabeça, quando na prática usou a mão para ludibriá-lo.
Quatro minutos após o escandaloso gol validado, Maradona protagonizou uma das mais geniais jogadas em partidas de mundiais: driblou seis adversários e estufou os “cordéis” dos britânicos. Parafraseando o compositor Jorge Bem Jor, na letra da música em homenagem ao ex-atacante Fio Maravilha, do Flamengo, “só não entrou de bola e tudo porque teve humildade”.
Assediado por repórteres após o jogo, Maradona confessou o atrevimento. “Foi a mão de Deus”, brincou, para depois alfinetar os adversários. “Quem rouba ladrão tem 100 anos de perdão”. O ladrão em questão, na concepção dele e do povo argentino, era a Grã-Bretanha, que havia se apoderado das Ilhas das Malvinas no século XIX, com intermináveis discussões, de lá para cá, sobre a soberania. Aí, em 1982, em pleno regime político militar, pressionado pela população pelos agravantes problemas sociais e econômicos do país, o general Leopoldo Galtieri quis usar estrategicamente a recuperação dos arquipélagos para mudar o foco das discussões. Com isso jogou seu país numa curta e sangrenta batalha militar contra os britânicos, que dispunham de um potencial bélico infinitamente superior. Conclusão: a Argentina perdeu a guerra e contabilizou as mortes de 649 soldados contra 255 do adversário. Galtieri caiu e foi apressado o processo de redemocratização no país.
Quanto ao gol de mão de Maradona, foi mais um entre os inúmeros equívocos de arbitragens no planeta, em lances similares. Adriano, quando jogou no São Paulo em 2008, marcou com a mão contra o Palmeiras. O erro mais recente foi pelas Eliminatórias desta Copa, e beneficiou a França. Henry ajeitou a bola com a mão, cruzou, e William Gallas marcou o gol da classificação contra a Irlanda.

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