segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Washington, comparação equivocada

Washington, comparação equivocada

Surpreendentemente, veículos de comunicação de todo país abriram espaço até desproporcional para o registro da morte do meia Washington, revelado pelo Guarani de Campinas e contratado por empréstimo pelo Corinthians em 1974. O ex-jogador estava doente desde outubro do ano passado.
Washington Luiz de Paula, 57 anos de idade, coordenador de futebol da Associação Luso-Brasileira de Bauru, vivia no ostracismo, mas com a sua morte, em decorrência de complicação renal, neste 15 de fevereiro, remexeram em sua biografia e constataram que, no ápice da carreira, foi projetado como sucessor de Pelé, quando integrou a seleção brasileira juvenil no Torneio de Cannes, na França, e disputou a Olimpíada de Munique em 1972. Pronto. Eis aí um gancho sugestivo para se recontar a história de um ponta-de-lança de muita habilidade, e pouco se comentou sobre o estilo dele.
Torcedores bugrinos da velha guarda rotulavam Washington de “bailarino da bola”. Gingada fantástica. Balançava o tronco magrelo de um lado e saía com a bola no sentido oposto. A matada no peito era elegante e objetiva, para sequência da jogada. A rigor, seu pecado era excessiva humildade. Preferia a assistência ao companheiro de ataque a finalizações, ignorando a importância de se pontuar entre os artilheiros. Embora pegasse bem na bola, privilegiava arremates em distância quase nunca superior ao limite da grande área adversária.
Claro que tinha deficiências, uma delas o mísero aproveitamento no cabeceio. Também não se habilitava às cobranças de faltas e pênaltis. No entanto, isso era irrelevante para o técnico Zagallo, que o convocou à Seleção Brasileira em 1972, para a Copa da Independência disputada no país, ocasião em que se quebrou uma escrita: pela primeira vez um jogador de futebol do interior do Brasil foi chamado para o selecionado principal.
Embora fosse um jogador diferenciado e de Seleção Brasileira, Washington recebia salários de acordo com os padrões do Guarani, e nem por isso se rebelava. Era tímido e apenas sorria quando o comparavam a Pelé.
Quando da transferência ao Corinthians, foi proposto discutir o contrato na casa de Vicente Matheus (já falecido), presidente do clube na época, que lhe deu um doloroso “chá de banco”. Washington teve de esperar o cartola terminar sessões de sauna e massagens para recepcioná-lo. Por fim, orientado pelo supervisor do Guarani, Dorival Geraldo dos Santos, até que assinou um contrato razoável. Já em campo, com a camisa do Timão, jamais justificou o investimento e foi devolvido.
Na época, passou procuração a uma imobiliária de Campinas para que administrasse seu apartamento em um conjunto habitacional na periferia, e acabou ludibriado. Ao voltar à cidade, quatro anos depois, em busca dos valores dos aluguéis acumulado durante o período, constatou que nada havia sido repassado, e nem por isso denunciou os culpados à polícia.
O meia ainda jogou no Vitória (BA), Goiás, Inter (RS), Ferroviária (SP), Noroeste, Rio Branco de Andradas (MG) e Marcílio Dias (SC).

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