terça-feira, 20 de outubro de 2009

20 anos sem Mário Vianna

Lembram-se dos bordões do tipo “gol legal”, ou “banheiraaaaa...”? Foram criações do lendário comentarista de arbitragem Mário Gonçalves Vianna. Pois é, num país sem memória, como o Brasil, não se estranha ter passado despercebido os 20 anos de morte de quem foi o mais polêmico árbitro brasileiro de todos os tempos. Ele, que nasceu no bairro da Urca, no Rio de Janeiro, morreu no dia 16 de outubro de 1989.
Vianna foi um dos introdutores em análise de arbitragem no rádio brasileiro há várias décadas, e o modelo foi posteriormente copiado pela mídia eletrônica. Nas transmissões de futebol da Rádio Globo do Rio de Janeiro, esse carequinha criativo fazia questão de se identificar como “Mário Vianna com dois enes”, e embelezava as jornadas com seus tradicionais bordões.
Quando Valdir Amaral, narrador da Rádio Globo, propositalmente o provocava sobre a posição de impedimento de determinado jogador, Vianna testava a enorme audiência da emissora, com sua voz estridente, ao citar “banheiraaaaa...”, provocando eco através dos radinhos de pilha levados por torcedores ao Estádio do Maracanã, para acompanhar as transmissões de futebol.
Por que banheira? Na banheira, ensaboado, você fica sozinho, assim como o jogador isolado no campo de ataque a espera do passe do companheiro, para completar a jogada.
Use o sinônimo que bem entender nessa circunstância, até a expressão inglesa "off-side", mas a posição de impedimento identificada como "banheira" é imortal.
Antes disso, Mário Vianna foi um árbitro malcriado, truculento e desafiava qualquer valentão para sair no braço. Começou apitando jogos na Polícia Especial do Rio de Janeiro, onde foi militante. Depois comandou jogos do Campeonato Carioca, protagonizando passagens marcantes, uma delas em partida do Madureira. Seguranças foram ao seu vestiário, pós jogo, oferecer-lhe proteção por causa de torcedores enfurecidos do lado de fora, e Vianna, ironicamente, sugeriu que os seguranças protegessem os irados torcedores.
Num jogo Botafogo e Flamengo, no Estádio General Severiano, torcedores rubro-negros se revoltaram com expulsões de jogadores de seu time e atiraram pedras e garrafas ao gramado, em direção de Vianna, que, incontinenti, devolveu os objetos para a arquibancada, no setor de concentração dos flamenguistas.
São incontáveis as histórias na arbitragem de Vianna, que podem ser completadas em dois episódios. Um na coragem de ter sido o único árbitro a expulsar de campo Domingos da Guia, durante os 11 anos de carreira do zagueiro; outro na Copa do Mundo de 1954, quando apitava o jogo Itália e Suíça - país sede do evento. O italiano Boniperti o empurrou, contrariado com a marcação de uma falta contra a sua equipe, e Vianna desferiu-lhe um soco direto no queixo, nocauteando-o. E ironicamente alertou o massagista italiano que Boniperti poderia voltar ao gramado quando acordasse.
Ainda naquela copa, Vianna acusou o árbitro britânico Mr. Ellis de fazer complô contra o Brasil, após derrota para a Hungria, e foi expulso do quadro da Fifa.
Ariovaldo-izac@ig.com.br

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