segunda-feira, 13 de julho de 2009

Benê, injustiçado no futebol

Por Ariovaldo Izac

No futebol, em lances de bola parada, antes de algum atleta alçá-la para o interior da área, o que se vê é um agarra geral de jogadores, que mais parece uma luta livre. Tudo isso com complacência dos árbitros que, se aplicassem a regra, teriam de marcar pelo menos um pênalti a cada partida.
Esse futebol truculento de hoje contrasta visceralmente daquele praticado décadas passadas, quando atacantes e meias só recuavam até o limite do meio de campo para cercar adversários. E quando treinadores rigorosos exigiam marcação mais dura, a resposta era “não sei marcar”.
No final da década de 50 e durante os anos 60, o meia esquerda Benedito Leopoldo da Silva, o Benê, mostrava privilegiada visão de jogo. Sabia acionar os chamados ponteiros com bolas alongadas, como também cadenciava o jogo quando a circunstância era recomendável.
O início da carreira foi no Paulista de Jundiaí (SP). No Guarani, a partir de 1959, foi decisivo no título de um torneio triangular em Curitiba (PR), na goleada por 5 a 2 sobre a seleção paranaense e vitória por 1 a 0 diante do Botafogo (RJ) de Quarentinha, Garrincha, Didi e Manga.
Embora naquele período não havia descabida preocupação com condicionamento físico, Benê foi uma das exceções. O arranque era impressionante. Guardando-se as devidas proporções, há quem compare seu futebol ao do meia Rivaldo, hoje no Bunyodkor do Uzbequistão, com o diferencial de que Benê tinha mais velocidade.
Evidente que com as citadas virtudes teria de chegar à Seleção Brasileira. Eis que, após convocação para disputar a Copa do Mundo de 1962, foi cortado com o diagnóstico de sopro no coração, contestado por médicos do São Paulo. Assim, o técnico Aimoré Moreira chamou Mengálvio, do Santos, para ocupar a vaga.
O Brasil voltou do Chile com o bicampeonato mundial, e nem por isso Aimoré, que também dirigia o São Paulo, foi perdoado pelos cartolas. A demissão foi sintomática e Benê, contratado pelo Tricolor em 1961, continuou brilhando num período em que o departamento de futebol era relegado. Os recursos eram destinados às obras de ampliação do Estádio Cícero Pompeo de Toledo, o Morumbi.
Nos dez anos de São Paulo, Benê não se cansava de repetir o jogo do cai cai provocado pelo Santos, dia 15 de agosto de 1963. O Peixe se acovardou numa jornada de gala do Tricolor, que abriu vantagem de 3 a 1 no primeiro tempo, gols de Faustino, Benê, Sabino e Pelé. Contundido, o lateral Cido Jacaré não voltou para o segundo tempo. Como não era possível fazer substituições, o time santista ficou com dez jogadores.
Aí, por reclamações, o árbitro Armando Marques expulsou Pelé e Coutinho no início da etapa final. Em seguida, Pepe alegou contusão e saiu. Pagão marcou o quarto gol são-paulino aos sete minutos e, na sequência, Dorval também deixou o campo e o jogo acabou.

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