segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Badeco de clássico volante a delegado de polícia

Badeco foi um volante estilo clássico e de toque refinado nos anos 60 e 70 do século passado, que herdou do pai a carreira de atleta. O erro inicial foi a escolha do primeiro clube, caso do juvenil do Corinthians. Profissionalizado, foi ter a primeira chance em 1967, pois na sua posição jogava nada menos que o consagrado Dino Sani. Logo, sem espaço no clube, no ano seguinte seguiu para o América (RJ), onde havia jogado o seu pai.

Apesar do bom desempenho na agremiação carioca, aceitou volta à capital paulista em 1973, para jogar na Portuguesa. E quis o destino que o clube montasse um dos melhores elencos de todos os tempos, culminando com a divisão do título paulista com o Santos. Divisão? Como assim? Culpa do saudoso árbitro Armando Marques, que cometeu a 'presepada' de se confundir na contagem, quando a decisão havia se prolongado às cobranças de pênaltis.

A Lusa havia errado duas vezes e, sem que o ciclo tivesse concluído, o juizão declarou o Santos como campeão. Com a controvérsia, a Federação Paulista de Futebol decidiu pela divisão do título, quando a Lusa, dirigida pelo saudoso treinador Oto Glória, tinha essa formação: Zecão; Cardoso, Pescuma, Calegari e Isidoro; Badeco, Basílio e Xaxá; Enéas (Tatá), Cabinho e Wilsinho.

Na Portuguesa, ele permaneceu até 1978. Depois passou por Comercial (MT) e Juventude (RS), quando seguidas lesões as desmotivaram a prosseguir na carreira de atleta, migrando-se à função de treinador nos juniores e como auxiliar técnico de Mário Travaglini, na Portuguesa. Paralelamente, foi diplomado na Faculdade de Direito em 1982, e preparado para se submeter ao concurso de delegado da Polícia Federal. Aprovado, e em respeito ao cargo, passou a ser identificado como Dr. Ivan Manoel de Oliveira, função que desempenhou até a aposentadoria.

Agora, como vai completa 50 anos de idade no dia 15 de março próximo, Badeco trabalha com crianças carentes e advogados recém-formados em uma cooperativa ligada à Prefeitura de São Paulo. Ele é um negro que continua engajado na luta contra o racismo, e conta história em que foi vítima de assédio moral, em 1953. Como aluno de grupo escolar em Joinville (SC), sua cidade natal, alguém soltou um 'pum', e a austera professora, de origem alemã, de costas para a sala de aula, escrevendo na lousa, o acusou sem prova, exigindo que se retirasse do local.

Neto sobrevivente de acidente aéreo

 Neto acidente aéreo

domingo, 9 de fevereiro de 2025

Adeus ao polivalente Lima, do Santos

Volante por vocação, o agora saudoso Lima - que fez história no Santos - tinha facilidade para se adaptar a outras posições. Na prática, apenas não atuou como zagueiro central, centroavante e ponteiro-esquerdo. Portanto, foi o típico 'coringa' batizado de 12º jogador nos anos 60 e 70 do século passado, que morreu no dia três de fevereiro, aos 83 anos de idade, vítima de problemas nos rins e coração.

Ele foi um coringa num processo de revezamento de posições. Machucava um lateral - quer direito, quer esquerdo - ele ocupava a vaga. E por ter sido um volante estilo técnico, que conciliava desarme à armação de jogadas, incontáveis vezes substituiu o meia Mengável naquele time santista, inclusive na retumbante goleada sobre o Benfica por 5 a 2, em Portugal, em 1962, na conquista do primeiro título mundial do clube, com essa formação: Gylmar; Olavo, Mauro, Calvet e Dalmo; Zito e Lima; Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe.

Ano seguinte, registro para a repetição do feito mundial, e por duas vezes conquista da Libertadores. E se inicialmente foi reserva do volante Zito, no encerramento da carreira dele, no final de 1967, passou a ocupar a vaga, deixando a lateral-direita e já sem a contínua dependência de improvisações em outras posições. Lima jogou no Santos por dez anos, com registro de 692 partidas, fato que o coloca estatisticamente como um dos jogadores que mais vezes vestiram a camisa do clube.

Depois, passou pelo Jalisco Gadalajara do México por três anos. Teve passagem pelo Fluminense em 1975 e voltou à América do Norte para defender o Tampa Bay Rowdies dos Estados Unidos. Por fim, a opção para encerrar a carreira foi na Portuguesa Santista em 1979, deixando uma história na Seleção Brasileira com participação em 19 jogos e quatro gols no perído de quatro anos. Ele disputou a Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra, quando atuou nas três partidas da fase classificatória, resultando em eliminação do País.

Ainda na adolescência, a família do mineiro Antônio Lima dos Santos, de São Sebastião do Paraíso, havia se mudado à capital paulista e, após dois anos de Juventus, ele foi jogar no Santos a partir de 1961, quando integrou o elenco nas seguidas conquistas do Paulistão. E, com carreira de atleta encerrada, voltou ao clube para desempenhar funções de coordenador e treinador das categorias de base, além de 'olheiro'.

domingo, 2 de fevereiro de 2025

João Leite, goleiro, evangélico e político

Haja história a ser contada sobre João Leite da Silva Neto! Uma trajetória como goleiro recordista de jogos pelo Atlético Mineiro - 684 vezes -, com conquista de 11 títulos estaduais e uma Conmebol. No biênio 1981/82, passou pela Seleção Brasileira, quando foi comandada por Cláudio Coutinho e Telê Santana. Também jogou em Portugal no Vitória de Guimarães, Guarani e América Mineiro, época em que já era um evangélico assumido, da Igreja Batista, e, junto com o ex-centroavante Baltazar, fundou o ministério 'Atletas de Cristo' em 1979, onde esportistas se reuniam e participavam de eventos que ligam religião e esporte.

João Leite foi marcado pelo hábito de fazer entrega de uma Bíblia a atleta de equipe adversária, o que lhe rendeu o apelido de 'goleiro de Deus'. Coincidentemente, a carreira de 16 anos - que se estendeu de 1976 a 1992 - foi iniciada e finalizada no Atlético Mineiro. No primeiro ano, viveu a frustração pela perda do título do Brasileirão para o São Paulo, na definição através de cobranças de pênaltis, ocasião que, defender dois deles, não foram suficientes para ajudar a sua agremiação, num período que havia assumido a titularidade devido à lesão do argentino Miguel Ángel Ortiz.

Na passagem da base ao profissional do Atlético Mineiro, João Leite teve que se dedicar bastante nos treinamentos, para correções de defeitos. Era inseguro nas saídas da meta e sem coordenação com as pernas. No decorrer dos jogos, as suas atuações foram elogiada pela apurada colocação, reflexo e determinação para interceptar cruzamentos, ao explorar a estatura de 1,87m.

Mineiro de Belo Horizonte, ele completou 69 anos de idade em outubro passado. E quando parou de jogar, soube fazer uso do prestígio pessoal para ingressar na vida política de Minas Gerais, os primeiros dois anos como vereador, para, na sequência, se eleger deputado estadual por seis mandatos consecutivos, alternando as legendas do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) e PSB (Partido Socialista Brasileiro), além de ter ocupado cargos em secretarias municipais.

Por três vezes disputou a Prefeitura de Belo Horizonte e, em duas delas, os eleitores o levaram ao segundo turno, porém perdeu as disputas para Célio de Castro e Alexandre Kalil, em 2000 e 2016, respectivamente. Em 2004, o candidato Fernando Pimentel ganhou a eleição no primeiro turno.