Basta um exemplo para se ratificar a
degradação técnica do futebol brasileiro nas últimas décadas. O atacante Júlio
dos Santos Ângelo, conhecido na bola apenas como Peu, que foi reserva no timaço
do Flamengo em meados da década de 80, seria candidatíssimo a vaga na atual
Seleção Brasileira.
Peu era veloz e habilidoso. Apesar disso, como
ocupar lugares de Bebeto, Nunes, Tita e Lico no time flamenguista? Foram tempos
em que o clube conquistava seguidamente Taça Guanabara, Campeonato Carioca,
Campeonato Brasileiro, Libertadores e Mundial de Clubes.
Por isso o alagoano Peu era um reserva de luxo
naquela patota. Geralmente entrava no segundo tempo e deixava a sua marca, como
na fase semifinal do Campeonato Brasileiro de 1982, na vitória sobre o Guarani
por 2 a 1. Ele e Zico construíram o placar no Estádio do Maracanã.
“Naquela
tarde, foram 145 mil torcedores no Maracanã. Depois ganhamos do Guarani em
Campinas e decidimos o título com o Grêmio”.
Após empate com os gaúchos por 1 a 1 no Maracanã,
o time venceu no Estádio Olímpico por 1 a 0, gol de Nunes. E Peu festejou
bastante aquele título ao lado do amigo Zico, cujo relacionamento continua
estreito. Logo, jamais poderia rejeitar convite para desfilar na Escola de Samba
Imperatriz Leopoldinense, cujo enredo foi em homenagem a Zico no Carnaval do
Rio de Janeiro de 2014.
Foram quatro anos de Flamengo, os dois últimos
como titular, quando exibia a cabeleira black power, fazia gols, e nas
frequentes entrevistas recordava a ligação com o CSA, clube de Alagoas que
frequentava desde os dez anos de idade, até porque os pais tinham vínculo
empregatício com a agremiação: mãe lavadeira e pai segurança e roupeiro.
Claro que os pais não serviram para influenciar
o ingresso dele nas categorias de base. Já se destacava entre a garotada, e os
cartolas do clube negociaram o passe no primeiro assédio do Flamengo em 1981.
Quando Peu deixou de repetir atuações
convincentes, perdeu espaço no Flamengo. Aí começou o repasse de clubes como
Santa Cruz, Atlético Paranaense, Botafogo de Ribeirão Preto (SP) e até passagem
pelo Monterrey do México, onde se sagrou campeão nacional em 1986.
O encerramento da carreira deu-se em 1994 no
mesmo CSA de Maceió, cidade onde nasceu em abril de 1960.
Desde 2008 Peu perambula por equipes do Norte
e Nordeste como treinador, ainda sem atingir a projeção planejada. Por isso até
aceitou convite do PTB de Maceió para se candidatar a vereador em 2012,
provavelmente convencido de que o prestígio no futebol seria o maior cabo
eleitoral para que se elegesse. Abertas as urnas veio a decepção: apenas 374
votos.
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