segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Peu, um reserva de luxo no grande Flamengo

 Basta um exemplo para se ratificar a degradação técnica do futebol brasileiro nas últimas décadas. O atacante Júlio dos Santos Ângelo, conhecido na bola apenas como Peu, que foi reserva no timaço do Flamengo em meados da década de 80, seria candidatíssimo a vaga na atual Seleção Brasileira.

 Peu era veloz e habilidoso. Apesar disso, como ocupar lugares de Bebeto, Nunes, Tita e Lico no time flamenguista? Foram tempos em que o clube conquistava seguidamente Taça Guanabara, Campeonato Carioca, Campeonato Brasileiro, Libertadores e Mundial de Clubes.

 Por isso o alagoano Peu era um reserva de luxo naquela patota. Geralmente entrava no segundo tempo e deixava a sua marca, como na fase semifinal do Campeonato Brasileiro de 1982, na vitória sobre o Guarani por 2 a 1. Ele e Zico construíram o placar no Estádio do Maracanã.

“Naquela tarde, foram 145 mil torcedores no Maracanã. Depois ganhamos do Guarani em Campinas e decidimos o título com o Grêmio”.

 Após empate com os gaúchos por 1 a 1 no Maracanã, o time venceu no Estádio Olímpico por 1 a 0, gol de Nunes. E Peu festejou bastante aquele título ao lado do amigo Zico, cujo relacionamento continua estreito. Logo, jamais poderia rejeitar convite para desfilar na Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense, cujo enredo foi em homenagem a Zico no Carnaval do Rio de Janeiro de 2014.

 Foram quatro anos de Flamengo, os dois últimos como titular, quando exibia a cabeleira black power, fazia gols, e nas frequentes entrevistas recordava a ligação com o CSA, clube de Alagoas que frequentava desde os dez anos de idade, até porque os pais tinham vínculo empregatício com a agremiação: mãe lavadeira e pai segurança e roupeiro.

 Claro que os pais não serviram para influenciar o ingresso dele nas categorias de base. Já se destacava entre a garotada, e os cartolas do clube negociaram o passe no primeiro assédio do Flamengo em 1981.

 Quando Peu deixou de repetir atuações convincentes, perdeu espaço no Flamengo. Aí começou o repasse de clubes como Santa Cruz, Atlético Paranaense, Botafogo de Ribeirão Preto (SP) e até passagem pelo Monterrey do México, onde se sagrou campeão nacional em 1986.

 O encerramento da carreira deu-se em 1994 no mesmo CSA de Maceió, cidade onde nasceu em abril de 1960.

 Desde 2008 Peu perambula por equipes do Norte e Nordeste como treinador, ainda sem atingir a projeção planejada. Por isso até aceitou convite do PTB de Maceió para se candidatar a vereador em 2012, provavelmente convencido de que o prestígio no futebol seria o maior cabo eleitoral para que se elegesse. Abertas as urnas veio a decepção: apenas 374 votos.

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