domingo, 12 de outubro de 2014

Quarenta anos sem o lateral Everaldo

 Outros tempos jogador de futebol era idolatrado pelos fãs mesmo quando parava de jogar. Alguns sabiamente exploravam a popularidade e enveredavam para cargos políticos mesmo sem aptidão, notadamente no Legislativo. A certeza da votação maciça os encorajava a enfrentar as urnas e são incontáveis os exemplos daqueles eleitos com folga.
 Mesma sorte não teve o lateral-esquerdo Everaldo, o gaúcho tricampeão mundial em 1970, na Copa do Mundo do México. Em 1974, quando pendurou as chuteiras, tinha como certa uma cadeira na Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul e se engajou na campanha política de tal forma que podia ser visto em até dois comícios no mesmo dia. E tudo ia bem até que perdeu a vida em acidente de automóvel na BR-286, justamente quando voltava de um comício por volta das 22h30 do dia 27 de setembro daquele ano. O automóvel Dodge Dart do jogador entrou sob uma jamanta e ficou quase irreconhecível. Na ocasião, também morreram a esposa Célia e a filha Denise Marques.
 Everaldo deixou uma história de persistência pela vitória. Revelado no Grêmio, só se firmou como titular após ter sido emprestado ao Juventude, em 1965. Era um lateral-esquerdo sem técnica, mas seguro na marcação. E mesmo raramente passando do meio de campo ganhou a posição do veloz e ofensivo Marco Antonio às vésperas da Copa do Mundo do México de 1970, até que dois anos depois, no Mundialito realizado no Brasil, sequer fosse convocado. Por sinal, o único tricampeão esquecido na lista do treinador Zagallo.
 Aquela decisão provocou revolta dos gaúchos, pois o Rio Grande do Sul tinha histórico de furar o bloqueio do eixo Rio-São Paulo em convocações de jogadores às Copas. Em 1950, na competição disputada no Brasil, Nena, do Grêmio, e Adãozinho, do Internacional, foram vice-campeões mundiais.
 Na decadente Seleção Brasileira de 1966, na Copa da Inglaterra, lá estava o atacante Alcindo Bugre, do Grêmio. E em Mundiais subseqüentes, o Estado quase sempre esteve representado por atletas, os principais deles o goleiro Tafarell e o volante Falcão.
 Taffarel atravessou fase espetacular no Mundial dos Estados Unidos de 1994, quando foi decisivo em defesas de pênaltis. Já o volante Falcão, das Copas da Espanha de 1982 e do México em 1986, sabia defender e organizar o time com elegância.  

 Não fosse a tragédia há 30 anos, o negro Everaldo teria completado 70 anos de idade no dia 11 de setembro passado e, de certo, recordaria as 30 partidas disputadas na Seleção Brasileira, a recepção calorosa no desembarque em Porto Alegre após a conquista do tri e a besteira cometida num jogo contra o Cruzeiro em 1972, no Estádio Olímpico, quando deu um soco no árbitro paulista José Faville Neto. Sorte sua, na época, é que a suspensão de um ano foi reduzida para seis meses. 

Nenhum comentário: