segunda-feira, 11 de março de 2013


  Lelé, o canhão de São Januário

  O futebol cria ídolos bajulados por torcedores e imprensa, mas o tempo se encarrega de colocá-los no ostracismo. Quem diria que Manoel Peçanha - o grande Lelé que integrou o Expresso da Vitória do Vasco, no final da década de 40 -, com passagem pela Seleção Brasileira em competições e amistosos sul-americanos, fosse citado apenas em seção de necrologia de jornais quando morreu?

 O Vasco viveu um período de ouro nos anos 40, com Lelé ajudando a decidir jogos. Na temporada de 1947, foi campeão invicto bem à frente do Botafogo (RJ). E uma das novidades da equipe foi o novo uniforme, com faixa diagonal branca na camisa preta, introduzida pelo técnico Ondino Vieira, inspirado no River Plate, da Argentina.

 Lelé, o canhão de São Januário, morreu esquecido em Campinas (SP) há nove anos. Pode-se dizer que o chute dele era tão ou mais potente do que o do ex-lateral-esquerdo Roberto Carlos. Em companhia de Isaias e Jair da Rosa Pinto, ele formava o trio denominado 'três patetas' no clube cruzmaltino. Ainda inspirou compositores de marchas carnavalescas, como foi tema de música nos tempos de futebol carioca.

 Lelé não foi driblador, nem velocista. Sabia tocar bem na bola e tinha visão de jogo privilegiada. Ele se destacou no futebol pelo chute fortíssimo e geralmente certeiro. Por isso era cobrador de faltas nas equipes em que atuava. A 'pancada' com a perna direita amedrontava quem ficava na barreira. Boleiro indicado para fazer a proteção colocava uma mão sobre a cabeça e outra no órgão genital, de medo da bolada. Lelé também era o cobrador oficial de pênaltis nas passagens por Madureira (RJ), Vasco, São Paulo e Ponte Preta. Detalhe: na carreira de 18 anos como jogador de futebol profissional jamais perdeu pênalti. A força que colocava na bola, sempre no canto direito, a meia altura, impossibilitava os goleiros de praticarem a defesa.

 Claro que o chute de Lelé não tinha a mesma força do ponteiro-esquerdo Pepe, do Santos, mas se igualava ao do zagueiro Martinelli, do Paulista de Jundiaí; de Osvaldo Catingá, de Guarani e Flamengo; do lateral-esquerdo Carlucci, do Botafogo (SP); e Nelinho, lateral-direito do Cruzeiro (MG).

 Exceto Nelinho, que jogou na década de 70, os demais citados tiveram período áureo nos anos 60. Martinelli batia tiro de meta e fazia a bola atravessar o campo. Carlucci raramente passava três jogos sem fazer gol de falta, porque aliava pontaria à força do chute. Quanto ao mineiro Nelinho, foi um dos raros jogadores com chute forte e cheio de veneno. Na gíria do futebol, pegava de ‘calo’ ou três dedos na bola, colocando o efeito desejado.

 Lelé e cinco outros jogadores do Vasco vieram para a Ponte Preta no início dos anos 50, numa troca pelo atacante Sabará. Ele ainda passou pelo São Paulo, mas encerrou a carreira na Ponte e havia fixado residência em Campinas.

 

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