Por Élcio Paiola - interino
A dinâmica do esporte trai a memória dos desportistas em geral e, por vezes, ídolos do futebol imortalizados caem no esquecimento. A atribuição precípua da coluna é resgatar esses personagens e um deles é Júlio Botelho, o Julinho, morto há pouco mais de seis anos. Na ocasião, o jornalista Ariovaldo Izac, titular da coluna e ainda afastado, lembrou que Joel - campeão mundial em 1958 na Copa da Suécia - havia morrido no mês anterior e comentou sobre ambos. Acompanhe.
O diferencial de Julinho é que desenvolvia velocidade e habilidade mesmo com quase 1,80m de altura. Julinho e Joel tinham alguma coisa em comum desde 1958. No auge da carreira, da Fiorentina da Itália, Júlio Botelho foi convocado pelo técnico Vicente Feola (já falecido) para ser o ponteiro-direito titular da Seleção Brasileira e declinou o convite, por achar que jogador em atividade no Brasil deveria ter prioridade. Com isso, as vagas na posição ficaram com Joel e Mané Garrincha (já falecido). Esse gesto resume bem o coração generoso de Julinho, que parou de bater no início da noite do dia 11 de janeiro de 2003. Terminava ali uma das mais lindas páginas sobre esse fantástico atacante.
A história de Julinho teve início no Juventus (SP), há exatos 58 anos. Depois, a Portuguesa tratou de buscá-lo, e montou um dos mais respeitados quinteto ofensivo: Julinho, Renato, Nininho, Pinga e Simões. Pinga esticava a bola para Julinho, que passava pelo marcador, ia ao fundo do campo, e, com visão privilegiada, cruzava na cabeça de Nininho, que enjoava de fazer gols. Jogador com a notoriedade de Julinho teria cadeira cativa na Seleção Brasileira e o técnico Zezé Moreira (já falecido) o levou para a Copa do Mundo da Suíça em 1954, ano em que Julinho foi titular na Fiorentina.
Em Firenze, o atacante deu show e foi aplaudido. O restaurante que freqüentava, perto do campo da Fiorentina, ainda tem uma bem cuidada placa com uma singela homenagem: Aqui almoçava Julinho Botelho.
Em 1959, de volta ao Brasil e como atleta do Palmeiras, Feola teve a ousadia de escalar Julinho num amistoso da Seleção Brasileira contra a Inglaterra, em comemoração ao título mundial de 1958, e deixou Garrincha de fora. Pra que! O Estádio do Maracanã quase veio abaixo quando Julinho pisou no gramado. Cerca de 150 mil torcedores o vaiaram, mal sabendo que Garrincha estava fora de forma. E Julinho calou a multidão logo aos 5 minutos, ao marcar o primeiro gol brasileiro. Depois, deu passe para Henrique marcar o segundo gol, e, por fim, saiu de campo aplaudido. “Foi a maior emoção de minha vida”, repetia sempre o ponteiro.
No Palmeiras, o atacante Servílio (já falecido) explorava o cabeceio através das bolas cruzadas por Julinho. Esta manjada jogada se arrastou até meados da década de 60, quando Gildo ocupou a camisa 7 do Verdão. A partir daí, Julinho pôde sentir a gostosura de um passado de glória, com repetidas homenagem, a última delas em sua despedida oficial do futebol, em fevereiro de 1967, num jogo amistoso contra o Náutico.
Agora, de certo Julinho, Joel e Mané Garrincha, sentados ao redor de uma mesa, no céu, degustam um bom vinho italiano e devem estar recordando os tempos em que os “pontas” faziam a alegria do futebol, com dribles de encher os olhos.
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