sábado, 29 de novembro de 2008

Marinho com jeito de Marião

Por Élcio Paiola (interino)


O jornalista e escritor Luís Fernando Veríssimo já nos brindou com um delicioso texto sobre diminutivo. Em determinado trecho citou que no Brasil usa-se o diminutivo principalmente em relação à comida. Também em mesa de bar é natural o pedido de cervejinha e bem geladinha. São diminutivos devidamente incorporados ao cotidiano. Estranho, convenhamos, é se chamar um brutamonte de Marinho, como é o caso do ex-zagueiro flamenguista dos anos 80.
Digamos que na infância e adolescência, em Londrina (PR), sua cidade natal, Mário Caetano Filho fosse franzino, induzindo o apelido no diminutivo. Quando adulto, com quase 1,90m de altura, ombros largos e caixa torácica avantajada, evidentemente estava mais para Marião. Paradoxalmente no futebol os “ao” se transformam em “inho” e vice-versa.
Após ter sido mal avaliado pelo São Paulo, em 1977, Marinho se deu bem no Flamengo de 1980 a 1984, e conquistou todos os títulos cobiçados por um boleiro. Em 1981 foi campeão carioca, da Libertadores da América e do Mundial Interclubes. Colocou faixas três vezes no Brasileirão: em 80, 82 e 83.
Tanto na finalíssima da Libertadores como no Mundial formou dupla de zaga com Mozer. Na competição sul-americana, Flamengo e Cobreloa, do Chile, venceram em seus domínios e, conforme o regulamento da época, o campeão saiu do jogo extra no Uruguai. Por sinal, um jogo conturbado, a exemplo do segundo, no Estádio Nacional, em Santiago, capital chilena. É que o árbitro uruguaio Ramon Barreto fez de conta que não viu o zagueiro Mato Soto, do Cobreloa, abrir o supercílio de Marinho, cortar uma das orelhas de Lico e acertar o olho de Tita.
Aí, o Flamengo foi para o terceiro jogo com espírito vingativo. O meia Zico deu show, marcou os dois gols da vitória flamenguista por 2 a 0 - aos 18 e 34 minutos do 2º tempo - e o técnico do time brasileiro, Paulo César Carpegiani, foi imprudente ao recomendar ao atacante Anselmo que entrasse em campo para ajustar contas com Mario Soto.
Assim, aos 42 minutos, após entrar no lugar de Nunes, o obediente Anselmo se aproximou do zagueiro chileno e desferiu-lhe um forte soco no rosto, provocando nocaute. Evidente que Anselmo não ficaria dando sopa para irados chilenos. Sequer esperou o cartão vermelho e saiu no pique, logicamente perseguido por um bando de inimigos.
Pronto. O Flamengo estava duplamente vingado: na bola e no tapa.
Emoção maior de Marinho apenas por ocasião do título mundial em Tóquio, no Japão, na goleada sobre o Liverpool, da Inglaterra, por 3 a 0, com dois gols de Nunes e um de Adílio.
Na época, o Flamengo tinha um time ofensivo, e contava basicamente com a pegada de Andrada no meio-de-campo, porque Adílio, Lico e Zico eram jogadores de criação. Como os laterais Leandro e Júnior apoiavam sistematicamente o ataque, invariavelmente os zagueiros Mozer e Marinho ficam mano a mano com atacantes adversários e davam conta do recado. Eis o melhor Flamengo de todos os tempos: Raul: Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio, Zico e Lico; Tita e Nunes.
Marinho foi um zagueiro do tipo André Dias, do São Paulo, com o diferencial da maior estatura. Com a saída de Mozer, formou dupla de zaga com Figueiredo. Depois passou por Botafogo (RJ) e encerrou a carreira em Londrina, onde está radicado aos 53 anos de idade.

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