domingo, 14 de abril de 2024

21 de abril, data da morte de Telê Santana

Na fase preparatória da Seleção Brasileira à Copa do Mundo de 2002, no Japão e Coreia do Sul, o técnico Luiz Felipe Scolari reclamava da falta de malícia do jogador brasileiro para catimbar, fazer cera e enervar o adversário, contrastando com os tempos do treinador Telê Santana, na década de 80, que orientava os seus atletas para jogar limpo e no ataque, em busca de gols.

Certa ocasião, instigado a criticar retrancas adversárias, Telê surpreendeu na resposta: “Se o adversário fica lá atrás, meu time tem o domínio do jogo, cria mais chances e basta ter competência para marcar e ganhar o jogo”.

Telê, morto no feriado de 21 de abril de 2006, era mestre em atacar. A Seleção Brasileira só precisava de um empate diante da Itália, naquele fatídico jogo pela Copa de 1982, da Espanha, mas Telê jamais abandonou a busca do gol, mesmo que o preço de uma defesa aberta tenha custado a eliminação de seu selecionado. E esses conceitos ofensivos resultaram no bicampeonato mundial como treinador do São Paulo, na década de 90.

Depois de cinco magníficos anos no comando técnico são-paulino, Telê teve de abandonar aquilo que era mais sagrado na sua vida: trabalhar no futebol. Complicações cardíacas o deixaram debilitado desde 1995. E isso lhe provocou angústia, porque só se sentia completamente realizado se estivesse envolvido no esporte.

Ele ainda tentou se distrair com atividades agropecuárias de seu sítio em Belo Horizonte, ou colado na televisão acompanhando futebol, novelas e programa de auditório, mas ficava deprimido facilmente. Não aceitava a distância dos gramados, de gritar com seus jogadores e resmungar com árbitros. Ali sentia a emoção típica do futebol.

Telê teve ótimos professores. Nos tempos de atleta do Fluminense, com a camisa sete, o saudoso técnico Zezé Moreira ensinou-lhe a importância do ponteiro ter duplicidade de função: de posse de bola fazer jogadas de fundo de campo, mas sem ela recuar no meio de campo para fechar os espaços do adversário.

Foi Zezé Moreira quem implantou o esquema 4-3-3. E, no final de carreira de jogador, no final da década de 50, Telê aportou em Campinas e jogou no Guarani já sem a versatilidade de outrora, e justificando o apelido de ‘mão de vaca’ quando morava na casa do saudoso treinador Élba de Pádua Lima, o Tim, pois comia e bebia sem desembolsar um tostão sequer.

domingo, 7 de abril de 2024

Zagueiro Edmílson, um gol de bicicleta pela Seleção em Copa

 No futebol, são incontestáveis os atletas que gradativamente atingem degraus altos na carreira e anos antes de se despedirem da atividade têm decréscimo acentuado de rendimento, muitas vezes justificados por repetidas lesões. Enquadra-se neste contexto o volante/zagueiro Edmílson, pentacampeão pela Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2002, no Japão e Coréia do Sul.

Edmílson foi um exemplo de superação e facilidade de se adaptar às posições de volante e zagueiro, com trajetória iniciada no XV de Jaú em 1993/94, ano em que o São Paulo tratou de levá-lo e com gostinho de título paulista já na temporada seguinte. E ao pautar por atuações regulares nos anos subsequentes, o Olympique Lyonnais, da França, tratou de buscá-lo.

A estatura de 1,86m de altura e boa impulsão faziam dele soberano no jogo aéreo e alta incidência no desarme, além da facilidade para valorizar o passe. E no futebol francês ficou quatro anos, com transferência para o Barcelona da Espanha, ocasião que atuou ao lado do argentino Messi e colecionou títulos nacionais e da Liga dos Campeões da Europa de 2005/2006.

Dois anos depois, prejudicado por lesões e queda de rendimento técnico, foi jogar no Villarreal, ainda na Espanha, mas lá ficou apenas seis meses. No regresso ao Brasil, foi atuar no Palmeiras, que atravessava período de oscilação, e, na sequência, devido ao alto salário, entrou na lista dos dispensáveis.

O Zaragoza o acolheu sem imaginar que lá ele ficaria apenas por 12 jogos. Incontinenti, na volta ao País, a última e apagada passagem foi no Ceará em 2011, ano marcado pela queda do clube à Série B do Brasileiro.

José Edmílson Gomes de Moraes, natural de Taquaritinga (SP), 48 anos de idade, atuou 42 partidas pela Seleção Brasileira, entre 2000 e 2007. Na Copa de 2002, ele marcou um gol de bicicleta contra os costa-riquenhos, quando a defesa brasileira era composta por três zagueiros: ele, Lúcio e Roque Júnior. E estava relacionado para a Copa de 2006, mas foi cortado por causa de lesão no joelho.

Ele criou uma fundação que leva o seu nome em 2005, na sua cidade, que visa beneficiar crianças. Já foi vice-presidente de futebol do Grêmio Barueri, é embaixador mundial das escolas do FC Barcelona, e acumula as funções de gestor de futebol do Foz de Iguaçu (PR) e do Ska Brasil de Santana do Parnaíba, que disputa a quarta divisão paulista.


segunda-feira, 1 de abril de 2024

Matador Jonas é aniversariante no primeiro de abril

Se Washington, o 'Coração Valente', nasceu em primeiro de abril, o 'Dia da Mentira', um outro centroavante 'matador', como ele, o Jonas, também festeja aniversário na mesma data: 40 anos de idade. Calma! Antes que seja feita a pergunta de que Jonas se trata, saiba que esse chegou à Seleção Brasileira e viveu o seu melhor momento no exterior.

Futebol é um troço enigmático, pois o mesmo atleta que passa despercebido em algum clube 'explode' em outro. Enquadra-se neste contexto o centroavante Jonas, revelado com potencial pelo Guarani em 2005, com 12 gols pela Série B do Brasileiro, para posterior oscilações no restante daquela década, em outras agremiações.

Embora tivesse desempenho satisfatório na segunda passagem pelo Grêmio, Jonas atingiu o auge da carreira no exterior, vinculado ao Valência da Espanha e Benfica de Portugal, quando a facilidade para ocupar os lados do campo e finalizar indistintamente com os dois pés significavam faro de gol.

Pelo Valência, no triênio a partir de 2011, marcou 51 gols em 156 jogos, um deles considerado o segundo mais rápido da história da Liga dos Campeões da UEFA, aos 10.96 segundos, na vitória de 3 a 1 sobre o Bayer Leverkusen. Performance melhor ocorreu no Benfica, nos quatro anos a partir de 2015, com 137 gols em 183 partidas, clube que encerrou a carreira em decorrência de lombalgia crônica.

Ele saiu de cena com histórico de 12 jogos pela Seleção Brasileira e três gols, durante o período de 2011 a 2016. O futebol dele, na primeira década do século, foi prejudicado por lesões no joelho. Foi assim no Santos, ao se desligar do Guarani, e se repetiu na primeira passagem pelo Grêmio.

Aí, o empréstimo à Portuguesa, em 2008, serviu como divisor de água na carreira, pois voltou à vitrine ao se transformar em artilheiro do Brasileirão, com nove gols, o bastante para que o Grêmio o trouxesse de volta e foi recompensado com 24 gols dele em 2009 e outros 23 na temporada seguinte.

Jonas Gonçalves Oliveira, natural de Taiuva (SP), goza de aposentadoria na cidade de Ribeirão Preto (SP), e quem ainda não entendeu porque ele não enveredou para quaisquer dos cargos no futebol - analista em veículo de comunicação, treinador, olheiro, executivo ou empresário de futebol - a resposta foi curta e grossa: tempo reservado exclusivamente à família.


domingo, 24 de março de 2024

Caração Velente, o verdadeiro, aniversaria no dia da mentira

Se primeiro de abril é tido como o dia da mentira, quis o destino que a comemoração de aniversário na data - 49 anos de idade - seja de um ex-centroavante verdadeiro, como o brasiliense Washington, facilmente diferenciado de xarás neste Brasil afora pelo apelido de 'Coração Valente', com marcantes passagens na carreira por Ponte Preta e Athletico Paranaense.

Por que 'coração valente'? Por ter superado problemas de saúde durante passagem pelo Fenerbahçe da Turquia, ao ser diagnosticado com uma de suas artérias praticamente obstruída e risco de sofrer infarto. Aí, ao se submeter às cirurgias de cateterismo e angioplastia, foi aconselhado a abandonar o futebol, mas 'desafiou' a medicina, venceu-a, e passou a comemorar os seus gols batendo com a mão no peito.

Ao longo dos 17 anos de carreira, justificou a fama de 'verdadeiro matador'. Afinal, foram 411 gols durante o período que se estendeu de 1994, no Caxias do Sul, a 2011, no Fluminense, sendo 83 deles pela Ponte Preta, em 106 jogos, momento que chegou à Seleção Brasileira na Copa das Confederações de 2001.

No Athletico Paranaense em 2004, estabeleceu o recorde de gols anotados em uma única edição do Brasileirão, com 34 gols, e o segundo maior artilheiro da competição, após a CBF ter adotado a fórmula dos pontos corridos a partir de 2003. Logo, o Tokyo Verdy, do Japão, veio buscá-lo, com histórico de 20 gols em outras 32 partidas na primeira temporada.

Já no Fluminense, em 2008, foi um dos principais nomes na campanha do vice-campeonato da Libertadores, com seis gols, mas, como cigano da bola, em seguida foi jogar no São Paulo, com marca de 32 gols em 56 partidas, até decidir pelo retorno ao clube carioca, onde optou pelo encerramento da carreira em 2011, com retrospecto de 83 partidas e 45 gols.

No retorno a Caxias do Sul, investiu no ramo da construção civil e foi o candidado a vereador mais votado em 2012, com 7.979 votos, pelo PDT. A inclinação pelo futebol o trouxe de volta ao meio em 2017, como treinador do Vitória da Conquista (BA) e Itabaiana (SE), sem que desistisse da ambição política, tanto que assumiu provisoriamente a cadeira de Onyx Lorenzoni como deputado federal, pois na sequência assumiu cargo na Secretaria de Esporte do governo federal. Atualmente atua como analista de futebol na TV Bandeirantes.

Fábio Santos

 Fábio Santos

sexta-feira, 8 de março de 2024

Raçudo Terto emplacou no São Paulo há mais de 50 anos

Ainda contam por aí estórias que só atacantes talentosos vestiam camisas de grandes clubes brasileiros no século passado. Mentira! Se o atleta mostrava eficiência sobre aquilo que lhe era determinado, seu espaço entre os titulares estava reservado.

Um claro exemplo disso foi o pernambucano Tertuliano Severino dos Santos, cuja identificação ficou simplificada apenas como Terto. Ao chegar no São Paulo em 1968, procedente do Santa Cruz (PE), mostrou que a característica de velocidade permitia que chegasse ao fundo do campo com facilidade, para os cruzamentos.

E chegou ao São Paulo num período em que a prioridade do clube era a conclusão das obras de ampliação do Estádio do Morumbi, fato que implicou em relegar o Departamento do Futebol para um segundo plano, em período marcado como figurante no antigo Campeonato Paulista.

Quando aquele 'monumento' estava erguido e os cartolas voltaram a olhar para o futebol, equipes qualificadas foram montadas e frutos foram colhidos a partir da competição estadual de 1970, quando Terto teve relevância quer na posição originária de ponteiro-direito, quer adaptado pelo saudoso treinador Zezé Moreira como meia-direita que servia o artilheiro centroavante Toninho Guerreiro - já falecido. Logo, a vaga na beirada do campo passou a ser ocupada por Paulo Nani.

Naquele período de júbilo do São Paulo, registro também para outro título estadual em 1975, e anos anteriores vice da Libertadores, a exemplo de chegar em mesma situação duas vezes no Brasileirão, em todas situações com Terto aplaudido. Todavia, deslumbrado com a noite paulistana, ele provocava atraso na chegada aos treinos matinais, e apresentava desculpas esfarrapadas de ter ficado entretido em programações de televisão até altas horas da noite.

Como foi atleta que se valia da força física para aceitável rendimento, a queda implicou em correr menos e perda de espaço entre titulares. Assim, o São Paulo não colocou obstáculo para que se transferisse ao Botafogo de Ribeirão Preto em 1977, quando se juntou aos meias Sócrates - já falecido - e Lorico.

Na década de 80, com carreira de atleta já encerrada, comandou escolinha de futebol destinada a filhos de sócios são-paulinos. E no último 29 de dezembro ele completou 77 anos de idade.

domingo, 3 de março de 2024

Cláudio Garcia, carreira bem-sucedida de atleta e treinador

Há cerca de 60 anos, jogador de futebol era identificado apenas pelo prenome. Um exemplo típico foi o centroavante Cláudio, da extinta Prudentina, da cidade de Presidente Prudente, que dista 558 quilômetros da capital paulista, rebaixada no Paulistão em 1967, mas com história cravada por propiciar aparições de atletas. No caso específico dele, ao migrar à função de treinador passaram a chamá-lo de Cláudio Garcia.

Naqueles anos sessenta do século passado, registro para a trágica morte do então lateral-direito Lidu, vítima de acidente de automóvel, quando havia se transferido da Prudentina para o Corinthians. Também de lá saiu para o Palmeiras o saudoso volante Suingue, rosto marcado por cicatrizes, após ter sobrevivido igualmente a acidente de carro.

A Prudentina de 1965, que perdeu para o Guarani por 2 a 1, no Estádio Brinco de Ouro, em Campinas, contava com Glauco; Luís Carlos, Vicente, Rubens Caetano e Sabiru; Suingue e Lopes; Valdir, Reginaldo, Cláudio e Noriva. Aí, dois anos depois, Cláudio desembarcou no Rio de Janeiro, já vinculado ao Fluminense, e registro por ter marcado o gol do título carioca de 1971, sobre o Botafogo, num time formado por Félix; Oliveira, Galhardo, Assis e Marco Antonio; Silveira e Didi; Wilton, Cláudio Garcia, Ivair e Lula.

Jogador de recursos técnicos e goleador, Cláudio foi aplaudido no Estádio do Maracanã, em final daquela competição, com público de 142.339 pagantes. Como naquela época atleta de grande clube se transferia a outro de menor expressão, ele optou pela volta à Prudentina, com intenção de encerrar a carreira, mas por fim a prolongou um pouco mais no Ceub, da capital federal, aos 30 anos de idade.

Foi no Brasília, em 1975, que ele iniciou a carreira de treinador. Depois passou pelo Uberlândia, até que em 1980 o Guarani o contratou, porém sem sucesso, visto que dirigentes do clube, à época, procederam desmanche de equipe campeã brasileira de 1978. Entretanto, como Taubaté e Botafogo de Ribeirão Preto (SP) serviram de alicerce para recomeço, o Fluminense o contratou. E de lá passou por Flamengo, Vasco, Arábia Saudita, Grêmio (RS) e União São João de Araras, em 2001.

Aos 80 anos de idade completados em setembro passado, esse paulistano curte merecida aposentadoria, e de certo prefere o futebol que se praticava no seu tempo, com prevalecimento da qualidade técnica do atleta.