domingo, 7 de dezembro de 2025

Quinze anos sem o zagueiro Ramos Delgado

O último três de dezembro marcou o 15º ano da morte do zagueiro argentino José Manuel Ramos Delgado, vítima do Mal de Alzheimer, doença degenerativa que implica em perda total da memória em pacientes terminais. Assim, meses antes da morte, de certo não identificaria fotografia de Pelé.

Veja que foram amicíssimos nos tempos de Santos, entre 1967 e 1972. E nos últimos anos de vida, já radicado em seu país, foi diagnosticado com a doença que, em estado terminal, provoca perda de massa muscular e mobilidade, situação que contrasta com a compleição física vigorosa do período de atleta, quando levava a campo a raça argentina.

Se o Alzheimer em estágio avançado limita o enfermo a pronúncias de apenas algumas palavras, sem concatenar frases, no auge da carreira ele comandava a defesa aos berros, se necessário. Também sabia antecipar adversários, sair jogando com categoria e sabia orientar companheiros do compartimento defensivo.

Ainda no Santos, Ramos Delgado chegou a ser comparado ao seu antecessor Mauro Ramos de Oliveira, mas lembrança de mesmo estilo - e não muito distante – foi de Ricardo Rocha, ex-Santa Cruz (PE), Guarani, São Paulo e Seleção Brasileira.

Assim, participou dos Mundiais de 1958 e 1962 pela Argentina, período em que atletas platinos se transferiam regularmente ao Brasil. O mesmo Santos, em busca de um goleiro para interceptar cruzamentos, contratou Agostín Mario Cejas.

A imigração de ‘boleiros’ argentinos começou a ganhar destaque nos anos 40, quando o Palmeiras foi buscar o zagueiro Luis Villa, de estilo clássico. Em seguida o São Paulo trouxe o meia Sastre, quando já contava com o futebol elegante do então zagueiro Armando Renganesch, que posteriormente se transformou num treinador qualificado.

No final da década de 60 do século passado, o Palmeiras foi buscar em Buenos Aires o centrovante Luis Artime, um emérito cabeceador. No mesmo período, passou quase que despercebido no Juventus - clube da capital paulista - o então jogador Cesar Luis Menotti, que posteriormente conquistou o título mundial como técnico da Seleção Argentina na Copa do Mundo de 1978.

Na mesma época, o Cruzeiro contou com o eficiente do zagueiro Perfumo, enquanto o Flamengo se valia dos gols do centroavante Doval, que morreu aos 46 anos de idade, em 1991, ao sofrer enfarte fulminante.


segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Picasso, goleiro acusado de não enxergar à noite

O ex-meia Alex do Palmeiras - hoje treinador - usava lentes de contato para correção de astigmatismo e miopia. Idem para o também ex-meia Kaká, da Seleção Brasileira, diferentemente de boleiros de décadas passadas que viam tudo embaçado à frente e se recusavam usar às tais lentes.

Bastava o saudoso goleiro Orlando Gato Preto, da Portuguesa, ser traído por bolas defensáveis em jogos noturnos para ser acusado de não enxergar direito, como também suspeitaram de deficiência visual do também goleiro Wendell, após a segunda partida do Guarani na semifinal do Campeonato Brasileiro de 1982, contra o Flamengo, em Campinas, ao ‘aceitar’ chute relativamente fraco do ex-meia Zico, do meio da rua.

O goleiro Picasso foi vítima de mesma acusação nos tempos de Grêmio portoalegrense no triênio de 1972 a 1975. A cada gol sofrido de longa distância à noite reabria-se o polêmico discurso. A contrapartida era a concordância de que em jogos diurnos o reflexo era apuradíssimo, aliado a colocação sempre adequada.

Embora com histórico de sete derrotas, cinco empates e uma vitória em Grenais, Picasso ficou 611 minutos sem sofrer um gol sequer no tricolor gaúcho, num time formado por Picasso; Everaldo, Anchieta, Beto e Jorge Tabajara; Carlos Alberto e Ivo; Catarina, Oberti, Lairton e Loivo.

O encerramento da carreira foi no Santa Cruz (PE) em 1976. Ficou a biografia com o título do Campeonato Paulista pelo Palmeiras em 1963, após goleada por 3 a 0 sobre o Noroeste, nesse time: Picasso; Djalma Santos, Djalma Dias, Carabina e Vicente; Zequinha e Ademir da Guia; Julinho, Servílio, Vavá e Gildo. Nos dois anos subseqüentes foi reserva de Valdir Joaquim de Moraes.

Em decorrência disso, ficou amargurado com a carreira de atleta sem prosperidade e decidiu abandoná-la, ocasião que optou pelo trabalho como metalúrgico na Volkswagem. Três meses depois foi convencido voltar aos gramados pelo então treinador do Juventus, Sylvio Pirilo. Pronto. Reacendia ali o Picasso predestinado a fazer sucesso no futebol, tanto que o São Paulo foi buscá-lo em 1967.

Quando já estava se acostumando com convocações à Seleção Brasileira, numa partida do tricolor paulistano contra o Santos foi vítima de fratura no pé. Como a lesão travou-lhe a carreira, optou sair de cena e residir em Porto Alegre (RS). Agora está com 86 anos de idade.