segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Ado, um goleiraço

Em 1969 o Corinthians foi buscar em Londrina o goleiro Ado e não se arrependeu. Repetidas vezes ele ia buscar as chamadas bolas na gaveta - como se diz na gíria do futebol. Tinha elasticidade para praticar defesas quer no chão, quer no alto.

Nascido em Jaraguá - interior de Santa Catarina - Ado migrou-se para Londrina e iniciou a carreira no futebol em 1966 naquela equipe do interior paranaense. Na época já usava luvas, contrastando com a maioria dos goleiros que não dispunha da “ferramenta”. A rigor, naquele período quem era da posição tinha vício de cuspir nas mãos para umedecê-las.

Goleiro do passado sofria. Além da maior dificuldade em focar a bola de cor marrom, mais pesada, que não era impermeável, dizia-se que a posição era tão diferenciada a ponto de não nascer grama na pequena área. Na prática, despejavam areia fina nas imediações da risca do gol e quem optava pela posição usava joelheira e camisa de manga comprida, dotada de acochoalho para proteção de cotovelo, ombro e região peitoral.

O único favorecimento aos goleiros era a forma retangular das traves de madeira, que muitas vezes evitavam a bola de entrar para o gol quando batia nas quinas. Hoje, as balizas são roliças e de ferro.

Em Londrina, olheiros de plantão se encantaram com as defesas de Ado e o Corinthians sabiamente o contratou. E bastaram alguns meses no Timão para que chegasse à Seleção Brasileira ainda nas Eliminatórias à Copa do Mundo do México. Pena que o teimoso treinador Mário Jorge Lobo Zagallo o deixou na reserva de Félix, com a justificativa de maior experiência do então goleiro do Fluminense.

O tricampeonato mundial em 1970 rendeu fama e projeção a Ado. Descendente de alemão, bom porte físico e vasta cabeleira, foi chamado para estrelar em comerciais de televisão, sem que isso provocasse descuido na carreira de atleta no Corinthians até 1974, quando se transferiu para o América do Rio de Janeiro.

Pode-se dizer que a partir daí não foi mais aquele goleiro regularíssimo. Assim, começou o repasse de clubes: Atlético (MG), Portuguesa, Velo Clube (SP), Santos, Ceará, Ferroviário (CE), Fortaleza e Bragantino até 1982.

Aí, o cidadão Eduardo Roberto Stinghen mostrou que tem cabeça no lugar. Aplicou o dinheiro que engordava no mercado financeiro na compra de dois restaurantes. Depois, quando bateu aquela saudade do mundo da bola, trocou de ramo: construiu quadras de grama sintética em dois complexos esportivos na capital paulista, com objetivo de incrementá-los em locações e escolinhas de futebol para crianças e adolescentes.

Hoje, aos 63 anos de idade completados em julho passado, Ado mora no Brooklin, bairro nobre de São Paulo, e lembra com orgulho daquele time corintiano de abril de 1971, na virada por 4 a 3 sobre o Palmeiras: Ado; Zé Maria, Sadi, Luís Carlos e Pedrinho; Tião e Rivelino; Lindóia, Samarone, Mirandinha e Peri.

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