Por Élcio Paiola (interino)
Eta janeiro bravo! Não bastasse a desumanidade de Israel ao matar dezenas de civis - mulheres e crianças - com estúpido bombardeio a palestinos na Faixa de Gaza, o mundo esportivo também está enlutado com o trágico acidente do ônibus que conduzia a delegação do Brasil de Pelotas (RS) na madrugada do dia 15, provocando três vítimas fatais. No mesmo dia, morreu o ex-lateral-direito Ismael, bicampeão mundial pelo Santos em 1963, e no dia 12 faleceu o ponteiro-direito Friaça, autor do gol da Seleção Brasileira na fatídica derrota para o Uruguai por 2 a 1, na final da Copa do Mundo de 1950, no Estádio do Maracanã, no Brasil.
Quanto ao conflito no Oriente Médio, embora fora de nossa pauta, vamos meter a colher. A esperança de paz agora fica depositada no novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Espera-se dele a intermediação com neutralidade entre israelenses e palestinos, diferentemente de George W. Bush, um parceiro indisfarçável de Israel.
Em Pelotas, comoção pelas mortes do atacante uruguaio Cláudio Milar, ex-Botafogo (RJ); do zagueiro Régis, ex-Fluminense; e do treinador de goleiros Giovani Guimarães. A delegação retornava a Pelotas após jogo amistoso contra o Santa Cruz, quando o ônibus capotou e provocou esta tragédia.
Acidentes desse tipo nos remetem a lembranças tristes do passado, como em 1949 com a delegação do Torino, da Itália. Na ocasião, 18 jogadores, membros da comissão técnica e jornalistas morrem a bordo de uma aeronave. Eles retornavam de Portugal, após jogo amistoso contra o Benfica.
Os ingleses também choraram mortes de integrantes do Manchester United em 1958, durante acidente aéreo. O meio-campista Bobby Chalton, sobrevivente, foi um dos destaques da Inglaterra na conquista da Copa do Mundo de 1966.
Em 1987, o Alianza de Lima, do Peru, perdeu seu elenco também em acidente aéreo. E, em 1993, o Zâmbia ficou sem time para as Eliminatórias da Copa do Mundo de 1994, com a explosão do avião que conduzia 18 jogadores e três dirigentes da associação de futebol daquele país.
A segunda segunda-feira do ano começou brava com a divulgação da morte de Friaça, de falência múltipla dos órgãos. Seu apogeu foi no período de 1944 a 1949, quando vestiu a camisa do Vasco e chegou à Seleção Brasileira. Embora originariamente fosse ponteiro-direito, adaptava-se com facilidade às demais posições do ataque. Era veloz e deixava adversários para trás. Foi assim também no São Paulo, de 1949 a 1951, e nas passagens por Ponte Preta e Guarani.
Por fim, torcedores santistas do passado também lamentaram a morte do lateral Ismael Mafra Cabral, jogador de razoável para bom. É difícil destacar, indistintamente, jogadores de defesa do Santos há quatro décadas. O ataque fazia muitos gols, mas a defesa também era vazada. Vitórias por 5 a 4 ou 6 a 5 eram normais. Claro que a opção ofensiva deixava a defesa vulnerável, mas havia falhas em defensores do Peixe.
Ismael, que morava em Santo André, foi vítima de complicações provenientes do diabetes. Tinha 70 anos e seu histórico no futebol começou no Palmeiras em 1956, quando jogou ao lado do zagueiro Valdemar Carabina. Depois passou por Ferroviária de Araraquara (SP), Santos, Fluminense, São Paulo e Coritiba. No Santos, chegou a perder a posição para o coringa Lima.
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
segunda-feira, 12 de janeiro de 2009
Eduardo Amorim e a disciplina tática
Por Élcio Paiola (interino)
O mineiro Eduardo Fernandes Amorim foi tido como jogador coadjuvante quando esteve vinculado ao Cruzeiro, Corinthians e Santo André, nas décadas de 70 e 80. A fama de “carregador de piano” deve-se à disciplina tática. Embora fosse originariamente atacante, recuava e ajudava companheiros meio-campistas na marcação.
Cabe esclarecer que Eduardo era um ponteiro-direito com relativos recursos técnicos. Sabia fazer precisos cruzamentos desde os tempos de Cruzeiro, de 1969 a 1981, e tinha versatilidade para conduzir a bola em diagonal, o que levou treinadores a adaptá-lo como ponta-de-lança no curso da carreira, com maior intensidade no Corinthians, onde passou de 1981 a 87, encerrando a carreira no ano seguinte no Santo André.
No histórico de títulos, ênfase para o da Taça Libertadores da América em 1976, pelo Cruzeiro. Foram três jogos contra o River Plate, da Argentina, o primeiro deles com goleada mineira por 4 a 1 no Estádio do Mineirão.
No segundo jogo, no Estádio Monumental de Nuñes, em Buenos Aires, Eduardo ficou indignado com a desastrosa arbitragem do uruguaio José Martinez Bazán, que validou o segundo gol argentino em jogada irregular, resultando em vitória dos mandantes por 2 a 1. O lateral-esquerdo Vanderlei, do Cruzeiro, foi empurrado no lance que precedeu o gol e a falta não foi marcada.
No terceiro jogo, em Santiago, no Chile, com vitória cruzeirense por 3 a 2, Nelinho, de pênalti, abriu o placar, e Eduardo ampliou para os mineiros. O River empatou e foi derrotado aos 43 minutos do segundo tempo. Numa falta nas imediações, Nelinho - o cobrador oficial do time - já se preparava para a cobrança quando o atrevido Joãozinho bateu de curva na bola e marcou.
No final, os cruzeirense se ajoelharam no centro do gramado e rezaram em memória do companheiro Roberto Batata, morto no dia 13 de maio daquele ano, dois dias após “arrebentar” com a partida contra o Alianza, em Lima, no Peru, na goleada cruzeirense por 4 a 0.
Batata dirigia seu veículo Chevette na Rodovia Fernão Dias - que liga Belo Horizonte a São Paulo - quando se envolveu em um acidente fatal.
E entre abraços da boleirada nos vestiários, o técnico Zezé Moreira (já falecido) deu uma tremenda bronca em Joãozinho, apesar dele ter feito o gol da vitória. “Seu moleque irresponsável! Nosso cobrador de falta é o Nelinho, ouviu”?
No Corinthians, Eduardo assimilou rapidamente a democracia corintiana, movimento liderado pelos jogadores Sócrates, Casagrande e Vladimir, que consistia nos rumos do futebol do clube através dos votos de jogadores, membros da comissão técnica e dirigentes. Contratações, dispensas e regras de treinamentos e concentração eram decididos pela vontade da maioria, em pleno regime militar.
Reflexo da abertura democrática ou não, o certo é que o Timão de Eduardo conquistou o bicampeonato paulista em 1982/83, num time formado por Leão; Alfinete, Mauro, Juninho e Wladimir; Paulinho, Biro-Biro e Zenon; Eduardo, Sócrates e Casagrande.
Como treinador do Corinthians, em 1995, Eduardo conquistou os títulos paulista e da Copa do Brasil. Depois trabalhou no Atlético (MG), Lusa, Sport Recife e América (RN). Ficou, ainda, oito anos no futebol da Grécia.
Ano passado, de volta ao Brasil, topou o desafio de comentar futebol na TV Alterosa, de Minas.
O mineiro Eduardo Fernandes Amorim foi tido como jogador coadjuvante quando esteve vinculado ao Cruzeiro, Corinthians e Santo André, nas décadas de 70 e 80. A fama de “carregador de piano” deve-se à disciplina tática. Embora fosse originariamente atacante, recuava e ajudava companheiros meio-campistas na marcação.
Cabe esclarecer que Eduardo era um ponteiro-direito com relativos recursos técnicos. Sabia fazer precisos cruzamentos desde os tempos de Cruzeiro, de 1969 a 1981, e tinha versatilidade para conduzir a bola em diagonal, o que levou treinadores a adaptá-lo como ponta-de-lança no curso da carreira, com maior intensidade no Corinthians, onde passou de 1981 a 87, encerrando a carreira no ano seguinte no Santo André.
No histórico de títulos, ênfase para o da Taça Libertadores da América em 1976, pelo Cruzeiro. Foram três jogos contra o River Plate, da Argentina, o primeiro deles com goleada mineira por 4 a 1 no Estádio do Mineirão.
No segundo jogo, no Estádio Monumental de Nuñes, em Buenos Aires, Eduardo ficou indignado com a desastrosa arbitragem do uruguaio José Martinez Bazán, que validou o segundo gol argentino em jogada irregular, resultando em vitória dos mandantes por 2 a 1. O lateral-esquerdo Vanderlei, do Cruzeiro, foi empurrado no lance que precedeu o gol e a falta não foi marcada.
No terceiro jogo, em Santiago, no Chile, com vitória cruzeirense por 3 a 2, Nelinho, de pênalti, abriu o placar, e Eduardo ampliou para os mineiros. O River empatou e foi derrotado aos 43 minutos do segundo tempo. Numa falta nas imediações, Nelinho - o cobrador oficial do time - já se preparava para a cobrança quando o atrevido Joãozinho bateu de curva na bola e marcou.
No final, os cruzeirense se ajoelharam no centro do gramado e rezaram em memória do companheiro Roberto Batata, morto no dia 13 de maio daquele ano, dois dias após “arrebentar” com a partida contra o Alianza, em Lima, no Peru, na goleada cruzeirense por 4 a 0.
Batata dirigia seu veículo Chevette na Rodovia Fernão Dias - que liga Belo Horizonte a São Paulo - quando se envolveu em um acidente fatal.
E entre abraços da boleirada nos vestiários, o técnico Zezé Moreira (já falecido) deu uma tremenda bronca em Joãozinho, apesar dele ter feito o gol da vitória. “Seu moleque irresponsável! Nosso cobrador de falta é o Nelinho, ouviu”?
No Corinthians, Eduardo assimilou rapidamente a democracia corintiana, movimento liderado pelos jogadores Sócrates, Casagrande e Vladimir, que consistia nos rumos do futebol do clube através dos votos de jogadores, membros da comissão técnica e dirigentes. Contratações, dispensas e regras de treinamentos e concentração eram decididos pela vontade da maioria, em pleno regime militar.
Reflexo da abertura democrática ou não, o certo é que o Timão de Eduardo conquistou o bicampeonato paulista em 1982/83, num time formado por Leão; Alfinete, Mauro, Juninho e Wladimir; Paulinho, Biro-Biro e Zenon; Eduardo, Sócrates e Casagrande.
Como treinador do Corinthians, em 1995, Eduardo conquistou os títulos paulista e da Copa do Brasil. Depois trabalhou no Atlético (MG), Lusa, Sport Recife e América (RN). Ficou, ainda, oito anos no futebol da Grécia.
Ano passado, de volta ao Brasil, topou o desafio de comentar futebol na TV Alterosa, de Minas.
terça-feira, 6 de janeiro de 2009
Zezé, ponta-esquerda nato
Por Élcio Paiola (interino)
Durante festejos de final de ano, é natural as pessoas se desligarem do noticiário esportivo e, consequentemente, muita gente não ficou sabendo da morte do ponteiro-esquerdo Zezé, ex-Fluminense, Guarani e Flamengo no dia 30 de dezembro.
O mineiro Antonio José da Silva, natural de Muriaé, não se diferenciava da molecada da época, avessa aos estudos e com fascínio pela bola. Sabia controlá-la habilmente com a canhota, e por isso em 1976 já era jogador do Fluminense.
Na época, parte dos treinadores usava o chamado ponta falso, que recuava para ajudar a cercar os espaços do adversário no meio-de-campo. Zezé, contrariamente, era da escola antiga. Só participava do jogo com a bola nos pés. Assim, ao se desvencilhar do lateral, chegava facilmente ao fundo de campo, e fazia precisos cruzamentos. Também sabia fechar bem em diagonal, pegava bem na bola, e por isso de vez em quando fazia seus golzinhos.
Se com essa característica chegou à Seleção Brasileira em 1979, participando de dois jogos - dois empates -, torcia o nariz quando treinadores pediam para ajudar na marcação. “Não adianta. Não sei marcar”, era a resposta áspera aos comandados, que se irritavam ao vê-lo parado em campo cada vez que perdia a bola.
Ainda no Fluminense, comemorou o título carioca de 1980, num time formado por Paulo Goulart; Edevaldo, Tadeu, Edinho e Rubens; Delei, Gilberto e Mário; Mário Jorge, Cláudio Adão e Zezé.
Em 1982 se transferiu para o Guarani, numa troca pelo meia Ângelo (falecido). E se encaixou bem num ataque que tinha Lúcio, Jorge Mendonça, Careca e ele. E mais: um meio-de-campo que nos jogos em Campinas contava com outro meia de característica ofensiva, caso de Ernani Banana, e apenas um volante pegador: Éderson.
Desta forma, com Zé Duarte (falecido) no comando técnico, o Guarani primou pela ousadia ao jogar com quatro atacantes e, às vezes, até cinco. A recompensa foi a bela campanha no Campeonato Brasileiro, quando chegou à fase semifinal, despachado pelo Flamengo após derrotas por 2 a 1 no Rio de Janeiro e 3 a 2 em Campinas, com público pagante de 120.441 e 52.002 respectivamente.
No Campeonato Paulista daquela temporada, Zé Duarte optou por um time com mais pegada no meio-de-campo e escalou Banana como falso ponteiro-esquerdo, possibilitando que Júlio César auxiliasse Éderson na marcação. Logo, sobrou para Zezé, que chiou bastante da condição de reserva.
Não bastasse a insatisfação do atleta, uma bateria de exames feita pelo cardiologista Nabil Ghorayeb, que coordenava o Sport Check-up do Hcor (Hospital do Coração), constatou que ele tinha problemas cardíacos e foi proibido terminantemente de jogador futebol.
Evidente que Zezé não acatou o diagnóstico. Disse que não sabia fazer outra coisa na vida a não ser jogar bola, e, assim, o Guarani facilitou a sua transferência para o Flamengo, onde ficou até meados de 1983, passando, posteriormente, por Ceará, Santo André (SP) e Blumenau (SC), entre outros, até 1992.
Zezé correu risco desnecessário de sofrer enfarto no futebol, ainda mais pelo histórico da morte de um irmão cardíaco participando de uma pelada.
E agora, quando sonhava se firmar na função de treinador de equipes de segunda divisão do futebol mineiro, morreu aos 51 anos de idade, vítima de complicações renais.
Durante festejos de final de ano, é natural as pessoas se desligarem do noticiário esportivo e, consequentemente, muita gente não ficou sabendo da morte do ponteiro-esquerdo Zezé, ex-Fluminense, Guarani e Flamengo no dia 30 de dezembro.
O mineiro Antonio José da Silva, natural de Muriaé, não se diferenciava da molecada da época, avessa aos estudos e com fascínio pela bola. Sabia controlá-la habilmente com a canhota, e por isso em 1976 já era jogador do Fluminense.
Na época, parte dos treinadores usava o chamado ponta falso, que recuava para ajudar a cercar os espaços do adversário no meio-de-campo. Zezé, contrariamente, era da escola antiga. Só participava do jogo com a bola nos pés. Assim, ao se desvencilhar do lateral, chegava facilmente ao fundo de campo, e fazia precisos cruzamentos. Também sabia fechar bem em diagonal, pegava bem na bola, e por isso de vez em quando fazia seus golzinhos.
Se com essa característica chegou à Seleção Brasileira em 1979, participando de dois jogos - dois empates -, torcia o nariz quando treinadores pediam para ajudar na marcação. “Não adianta. Não sei marcar”, era a resposta áspera aos comandados, que se irritavam ao vê-lo parado em campo cada vez que perdia a bola.
Ainda no Fluminense, comemorou o título carioca de 1980, num time formado por Paulo Goulart; Edevaldo, Tadeu, Edinho e Rubens; Delei, Gilberto e Mário; Mário Jorge, Cláudio Adão e Zezé.
Em 1982 se transferiu para o Guarani, numa troca pelo meia Ângelo (falecido). E se encaixou bem num ataque que tinha Lúcio, Jorge Mendonça, Careca e ele. E mais: um meio-de-campo que nos jogos em Campinas contava com outro meia de característica ofensiva, caso de Ernani Banana, e apenas um volante pegador: Éderson.
Desta forma, com Zé Duarte (falecido) no comando técnico, o Guarani primou pela ousadia ao jogar com quatro atacantes e, às vezes, até cinco. A recompensa foi a bela campanha no Campeonato Brasileiro, quando chegou à fase semifinal, despachado pelo Flamengo após derrotas por 2 a 1 no Rio de Janeiro e 3 a 2 em Campinas, com público pagante de 120.441 e 52.002 respectivamente.
No Campeonato Paulista daquela temporada, Zé Duarte optou por um time com mais pegada no meio-de-campo e escalou Banana como falso ponteiro-esquerdo, possibilitando que Júlio César auxiliasse Éderson na marcação. Logo, sobrou para Zezé, que chiou bastante da condição de reserva.
Não bastasse a insatisfação do atleta, uma bateria de exames feita pelo cardiologista Nabil Ghorayeb, que coordenava o Sport Check-up do Hcor (Hospital do Coração), constatou que ele tinha problemas cardíacos e foi proibido terminantemente de jogador futebol.
Evidente que Zezé não acatou o diagnóstico. Disse que não sabia fazer outra coisa na vida a não ser jogar bola, e, assim, o Guarani facilitou a sua transferência para o Flamengo, onde ficou até meados de 1983, passando, posteriormente, por Ceará, Santo André (SP) e Blumenau (SC), entre outros, até 1992.
Zezé correu risco desnecessário de sofrer enfarto no futebol, ainda mais pelo histórico da morte de um irmão cardíaco participando de uma pelada.
E agora, quando sonhava se firmar na função de treinador de equipes de segunda divisão do futebol mineiro, morreu aos 51 anos de idade, vítima de complicações renais.
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